Naufrágio em Angra

 
Revista Náutica Nº 86, 1996
Texto: Maurício Carvalho Fotos: Ary Amarante
 
A Baia da Ilha Grande sempre foi um dos pontos do litoral carioca mais freqüentados pelos mergulhadores mesmo com centenas de ilhas, costões e lajeados os naufrágios são os locais preferidos. Pelo menos 7 naufrágios são freqüentemente visitados na Baia da Ilha Grande Bezerra de Menezes, Aquidaban, Pinguino, Califórnia, Paulista, o da Enseada do Abraão, o da Ponta da Parnaioca. Faremos um pequena viagem a três deles, deixando para uma próxima oportunidade a apresentação dos demais.
Califórnia
Apesar da falta de documentos que comprovem a história passada, jaz no fundo da enseada da praia vermelha o navio Califórnia. Segundo a tradição, local foi atacado por piratas e incendiado em 1866 levando para o fundo sua carga de armas, porcelanas e outros artigos. Localizado junto do costão quase na saída da enseada ( Lat. 23° 09' 35" S Long. 44° 20'56" W ) o Califórnia está assentado corretamente no fundo com a proa à 8 metros. Resta pouca coisa desenterrada deste vapor de rodas; da proa ao meio do navio nada se vê a não ser a quilha com alguns pregos de bronze. No centro dos destroços, parte da caldeira liga-se as engrenagens do motor e estas as estruturas que provavelmente fixaram as rodas de propulsão.


Foto: Ary Amarante
Atrás da superestrutura que é a parte mais inteira dos destroços, podem ser vistas peças amontoadas até a popa a 15 metros, já num fundo de lodo. Um mergulho muito tranqüilo está reservado aos visitantes do Califórnia, pois as águas abrigadas garantem pouca corrente e muitos peixes nos destroços. O mergulho durante a maré cheia é recomendável para conseguir uma água com maior visibilidade.
Pinguino
O Pinguino é sem dúvida um dos naufrágios mais visitados e conhecido do Brasil. Sua fama em muito é devida a ser um dos poucos do país que ainda mantém sua estrutura intacta. Deitado de estibordo a uma profundidade máxima de 20 metros no centro da enseada do Sítio Forte ( Lat. 23° 07' 05" S Long. 44º 16'56" W ) este cargueiro afundou em 24.06.1967 devido a um incêndio que já consumia sua carga de cera de carnaúba quando o navio entrou na Baia da Ilha Grande. O mergulho no Pinguino é um grande programa; já que aos iniciantes pode ser reservado um passeio pelo exterior, com profundidades de 7 a 15 metros, onde existem muitos peixes e outras formas de vida colonizando o casco. Os mais experientes, que dominam as técnicas de mergulho em naufrágio, podem tentar penetrações em seus porões e casario. Para isso, é extremamente recomendável o uso de duas lanternas e de carretilha com cabo-guia. Dentro dos destroços, além de muitos peixes são freqüentes as anêmonas do gênero Cirianthus, muito grandes e coloridas. A penetração mais tranqüila é a executada pelo porão de popa, Nadando lentamente, para dar tempo aos olhos para acostumarem-se com a fraca luz, alcance o fundo do porão; neste ponto, vire a direita e siga pelo corredor, por onde penetra a luz, até atingir a abertura no casco na altura de meia nau. Pela mesma abertura do casco pode ser atingido um dos porões de proa, mas as passagens são mais complexas e exigem mais experiência. É oportuno lembrar que o Pinguino está entrando em sua fase de desmanche, podendo assim haver queda de peças sobre um mergulhador descuidado.
Parnaioca
Um dos naufrágios menos freqüentados da região de Angra dos Reis, está localizado do lado de fora da Ilha Grande. Sua posição desabrigada (Lat. 23° l 1' 07' S. Long. 44° 15' 04" W.), na Ponta Alta da Parnaioca têm o acesso mais difícil, mas em compensação, quando as condições do mar são favoráveis pode-se encontrar águas muito claras e uma vida marinha abundante. Alguns pesquisadores acreditam tratar-se do navio Japurá, afundado em 1897, no entanto, os destroços revelam um navio bem mais recente, ficando sua identificação na dependência da divulgação de documentos confiáveis. Mesmo sem nome - até o momento - é um belíssimo navio para ser visitado. A popa pode ser encontrada junto ao costão a 5 metros enquanto sua proa está abaixo dos 35 metros. 0 navio muito maltratado pelo mar encontra-se despedaçado, com partes do casco para cima e uma enorme quantidade de peças espalhadas. Podem ser encontrados ainda o eixo, leme, mastro com gávea, cabeços de amarração, guinchos, entre outras partes. Existem alguns pontos de penetração, mas em função das condições precárias dos destroços essa prática é desaconselhável. Os peixes grandes como as garoupas e meros costumam freqüentar os naufrágio e ajudam com a água clara a obter ótimas fotos.

OBS: Na matéria original constam outros fotos.
 
 

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