TÉCNICA DE MERGULHO
MERGULHO PROFUNDO AMADOR

 
Jornal Sub, anoIII, Nº 8, janeiro 1992
Maurício Carvalho
OBSERVAÇÃO: É importante lembrar, que desde a publicação do artigo muitas técnicas de mergulho foram aperfeiçoadas e adotadas. Assim o texto técnico, deve servir como fonte de pesquisa histórica, não devendo ser as técnicas de mergulho tomadas como as melhores e mais atuais.
 
Sob certos aspectos, o mergulho a grandes profundidades não é uma atividade de todo proveitosa, uma vez que devido ao alto consumo de ar a possibilidade de permanência submerso é reduzida a quantidade de luz que alcança o fundo é pequena e, muitas vezes, a água torna-se fria, resultando num mergulho desconfortável. Entretanto, em determinadas lajes e naufrágios essa prática é necessária. Por isso para maior rendimento e segurança, o mergulhador deve conhecer as técnicas que essa atividade exige.
É difícil determinar o que é um mergulho profundo, haja vista que isto depende da média de profundidade que um mergulhador costuma alcançar. No entanto vamos considerar aqui - dentro dos limites do mergulho amador - como profundos, as incursões abaixo de 30 metros; pois é a partir dessa profundidade que começa a aparecer problemas como a narcose, necessidade de eventual descompressão e a baixa autonomia de ar.
Sem erro
O Mergulho profundo é uma atividade que não admite erro. Uma subida de 40 metros para reencontrar o companheiro, ou para um ajuste no equipamento, significará o encerramento da submersão, uma vez que poucos minutos a esse profundidade significam um alto consumo do ar boa quantidade de Nitrogênio nos tecidos. Deste modo, a preparação e o planejamento devem ser rigorosos.
É fundamental conhecer com precisão a posição, a profundidade e outros fatores físicos como as condições de mar no local. 0 mergulho deve ocorrer em águas claras e sem correntes. Devido ao alto consumo de ar causado pela profundidade, enfrentar uma corrente no fundo, comprometeria seus cálculos de autonomia.
A descida e subida dos mergulhadores devem ser garantidas por um c abo, colocado exatamente sobre o objetivo. É muito fácil em uma descida de 40 metros ser desviado pela corrente, correndo-se o risco do mergulhador não chegar ao ponto desejado, ou derivar para longe do barco, enquanto a descompressão é feita a meia égua.
0 cabo deve estar preso a uma bóia, para que a despeito das ondas, não ocorra variação de profundidade durante a descompressão. Neste cabo, pode-se fixar, nas etapas descompressivas, garrafas extras, alguns pesos - sempre ocorre de alguém ficar leve no final do mergulho -, uma planilha de escrita e um tabela descompressiva, caso algum imprevisto altere o planejamento.
Lembre-se que, mesmo utilizando um cabo, as velocidades de subida e descida (18 m/min ), não devem ser alteradas para aumentar seu tempo de fundo. Se a água não for clara, a localização do cabo de subida será mais difícil. Por isso, procure memorizar seu percurso no fundo e utilize uma bússola.
Com o aumento da profundidade a roupa de neoprene é comprimida. Portanto, além de oferecer menor proteção térmica, deixará você negativo e com dificuldade de mover-se no fundo. Por isso, o uso do colete equilibrador é obrigatório. É recomendável estar equilibrado, até o final do mergulho, para que uma possível descompressão seja feita com segurança. Desta forma, com a garrafa e o colete "vazios" e os pulmões cheios, você deve estar ligeiramente negativo aos 3 metros.
Um computador poderá aumentar a segurança principalmente se ocorre variação de profundidade ao longo do mergulho - como em naufrágios intactos.
0 regulador deve ser balanceado e seu funcionamento perfeito, uma vez que, com o aumento da pressão, aumenta também a densidade do ar e a resistência respiratória.
Algumas técnicas possibilitam maior segurança, aumentando a disponibilidade de ar. Para isso podem ser utilizadas garrafas extras no fundo, para a descompressão, além de um sistema de garrafa de reserva (Jornal Sub nº7 "Fontes alternativas de ar").
Em mergulhos profundos os cuidados devem ser redobrados, as tabelas da "US. Navy" - servem como base para quase todas as tabelas descompressivas - foram preparadas através de exames mergulhadores em plena forma física e em mergulhos de perfil quadrado. Desta forma, fatores como excesso de gordura, cansaço, álcool e outros aumentam os riscos de uma doença descompressiva (dd) em mergulhadores amadores.
Após longa permanência em altas pressões, deve-se e evitar exercícios físicos vigorosos, bebidas alcóolicas ou qualquer fármaco que produza vaso-dilatação, pois, tais procedimentos acelerou a liberação do Nitrogênio acumulado, favorecendo o aparecimento de dd.
E aconselhável planejar mergulhos profundos não descompressivos. A descompressão é um fator de risco, já que impede uma. subida direta até a superfície caso algum problema ocorra. Mergulhos profundos não são mais perigosos que outros, apenas é preciso que se conheça as variantes envolvidas para que utilizando o procedimento correto se possa desfrutar com segurança esta emocionante atividade.
 
OBS: Na matéria original constam outros fotos.

Maurício Carvalho é biólogo e intrutor de mergulho PDIC.

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