Chuuk Lagoon – Rio de Janeiro Maru

Naufrágios de Chuuk Lagoon

Texto e fotos: Maurício Carvalho

 
Foto do acervo do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil

Histórico
O Rio de Janeiro Maru um paquete misto de carga e passageiros foi construído em 1931 para uma das maiores empresas de transporte marítimo japonesa, a Osaka Shosen Kabushiki Kaisha (O.S.K. Line). Com oito conveses, era guarnecido por 150 tripulantes e transportava mais de 1.140 passageiros.
Realizou viagens por portos de todo mundo, inclusive do Brasil, para onde transportou e desembarcou em Santos, muitos imigrantes japoneses da primeira leva de migração.
Em 1940, junto com outros navios japoneses, foi requisitado pela marinha japonesa e convertido em navio de apoio à frota de submarinos. Em dezembro de 1941, foi enviado para o 5º esquadrão de submarinos da 1ª Frota, baseada em Hiroshima.
Em julho de 1942, enquanto seguia a caminho do Vietnã, foi atingido por dois, dos quatro torpedos lançados pelo submarino americano U.S.S. Spearfish, o navio sofreu um grande incêndio, mas manteve o curso e foi reparado em Hong Kong.
Em setembro de 1943, com o número de submarinos japoneses reduzido, foi convertido e reclassificado como navio de transporte, baseado em Chuuk.

Rio de Janeiro Maru
Dimensões: 140 x 18,9 X 16 metros – Tonelagem bruta: 9,626 toneladas
Construção: 1931 Mitsubishi Zosensho, Nagazaqui
Tipo: paquete de carga e passageiros
Motores: 2 diesel Mitsubishi, 6 cilindros, 7.515 n.h.p, 2 hélices, 17 nós
Armamento: 4 canhões 150 mm, 2 canhões antiaéreos duplos 25 mm

O Ataque

Entre janeiro e o dia 17 de fevereiro de 1944, transportava regularmente militares e suprimentos do continente japonês para Chuuk Lagoon.
Estava ancorado ao largo da ilha de Uman, aguardando reparos e carga quando se iniciou o ataque.
Por volta de meia-noite do dia 17, foi atacado e atingido por uma ou duas bombas de 1.000 libras dos dos bombardeiros de mergulho SBDs Dauntless do U.S.S. Yorktown e torpedos dos SB2Cs do U.S.S. Bunker Hill.
O navio ficou em chamas, segundo informações, houve diversas explosões na munição que estava alojada no porão número 1, que inclusive colapsou nos últimos 5 anos. O belo paquete afundou ainda no primeiro dia de ataque.
Localizado entre 1978 e 1980 na posição latitude 7° 18’15.8″ norte e longitude 151° 53′ 40.8″ leste (datun WGS84) é o quarto maior navio da laguna de Chuuk.

Mapas segundo Daniel E. Bailey – World War II Wrecks of Truk Lagoon, 2000 North Valley Diver Publication

 


 

Croqui do Capt. Lance Higgs S.S. Thorfinn – modificado

Mergulho – Profundidade: de 12 a 35 metros
O Rio de Janeiro Maru encontra-se em um declive a 450 metros de costa leste da Ilha Uman, ele está deitado sobre o costado de boreste com a popa mais profunda. O nome do navio está visível na lateral de bombordo da proa, mas principalmente na pop. O bordo do 1º porão, que apresentava danos da explosão da munição ruiu e da lateral do navio segue em forte declive até o escovém.
Em torno do casco, podem ser vistos feixes de cabos de aço, montados em paralelo, que eram utilizados para desmagnetização, de forma a cortar o efeito das minas magnéticas.
O canhão da plataforma de proa 150 mm está caído no fundo e ao longo do convés vários guinchos de carga.
Na superestrutura muito longa e casco ainda são visíveis muitas escotilhas e na parte de trás gaiutas que dão acesso a sala de máquinas com 3 cilindros, medidores, telégrafos de máquinas. A cozinha contém louça chinesa e por toda a superestrutura equipamento militar. Porém o estado do casario é muito ruim e boa parte das chapas já estão soltas, balançando inclusive com as bolhas, indicando ser uma penetração muito arriscada.
Sobre o casco a 16 metros de profundidade estão colocados objetos do dia a dia no navio. Em 2003 foi localizada uma Katana, mas ela não está no navio.
No porão 1 existem bombas de artilharia. Escadas longas e vários buracos que se estendem para fora, indicando explosões internas de munição. Toda a estiva deste porão está colapsada e a entrada não é simples.
No porão 2, estão estão na segunda estiva 3 grandes plataformas e torres de canhão, garrafas de cerveja, peças e canos de armas, além de muitos sacos de cimento. No porão 4 existem muitas caixas com garrafas de cerveja.
Na plataforma de popa existe um canhão de 150 mm, abaixo dela corredores e salas podem ser acessados com facilidade. Sobre o fundo diversos projéteis do canhão.
Os dois grandes hélices de 4 pás e o leme estão na parte mais profunda do naufrágio e são um belo conjunto cênico.


Escovém com sua corrente na ponta da proa já colapsada  – 
Na proa e na popa ainda é possível ler Rio de Janeiro Maru
Torres de canhão no porão 2 – 25 metros


Todo a casaria já começou a desabar é a penetração
nesta região é uma imprudência
As chapas do casario balançam com as bolhas dos mergulhadores que passam nessa região do interior
Por dentro ou por fora o Rio de Janeiro Maru é todo colorido

A desmagnetização (degaussing)

 Nos primeiros anos da Segunda Guerra a maior ameaça para os navios eram torpedos e as milhares de minas espalhadas pelas rotas marítimas e entrada de portos. Em 1942 os dois artefatos apresentavam detecção magnética, o que os atraia para os cascos metálicos.
Um casco de aço, devido a interação magneto-mecânica com o eixo magnético da Terra possui enquanto navega uma assinatura magnética, ou seja, age como um ímã flutuante cercado por um campo magnético ainda maior.
Durante a navegação o campo magnético se move junto com o casco e é produzida uma perturbação no campo magnético natural da terra.
Essa anomalia magnética pode ser identificada por equipamento de detecção.
A desmagnetização ou degaussing (gauss, unidade do magnetismo – Carl Friedrich Gauss), é o procedimento que visa diminuir quase a zero essa perturbação do magnetismo, para diminuir sua identificação ou atração por torpedos ou minas subaquáticas.
A desmagnetização foi originalmente desenvolvida na Segunda Guerra Mundial para neutralizar as minas magnéticas alemãs (navios aliados, já estavam bem protegidos por volta de 1943).
Existiam diferentes meios de desmagnetização, como estações nos portos. Porém, o mais utilizado durante a guerra foi passar feixes de cabos de cobre ao redor do navio onde aplicava-se uma correntes elétricas de cerca de 2000 amperes.
Após a guerra, os detectores magnéticos foram melhorados, detectando a mudança do campo magnético da terra e o procedimento deixou de ser eficiente. Hoje o processo também é utilizada em tubos de raios catódicos e para apagar dados armazenados em mídia magnética.
Mais detalhes sobre o processo


Ao longo de todo o casco podem ser vistos os cabos de desmagnetização que protegiam o navio das minas,
uma peça bastante interessante que só é encontrada em navios que navegaram nos períodos entre as duas guerra


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Uma piada recorrente ao longo dos mergulhos em Chuuk Lagoon é que o Japão perdeu a guerra por cirrose hepática, tamanha é a quantidade de garrafas de bebida alcoólica encontrada nos porões de praticamente todos os navios. Naqueles que estavam vazios, elas provavelmente estavam retornando aos fabricantes


Na popa o belo canhão de 150 mm pouco pode fazer para defender o navio do
ataque fulminante, parte de sua munição está caída no fundo


Os hélices são imperdíveis, compõem o conjunto da popa que é a parte mais interessante do navio.

A baixa profundidade permite percorrer todo o navio por fora em um único mergulho
Como o navio está caído para boreste sobre seu casco, a 16 metros, foram colocados muitos objetos do dia a dia do navio. Muitas garrafas naturalmente


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