Por mais que os mergulhadores de naufrágio possam encontrar águas claras e propícias a fotografias subaquáticas; raramente as condições são suficientes para que fotografias apresentem a cobertura necessária a uma boa orientação durante o mergulho nos naufrágios. Elas são ótimas para indicar a condição geral de peças, ou partes restritas dos destroços, mas em navios grandes são de pouca importância na orientação.
Por tudo isso, a melhor ferramenta de orientação dos mergulhadores de naufrágio, são os desenhos esquemáticos, popularmente conhecidos como croquis, que mostram de forma geral as condições dos destroços no fundo. Essa ferramenta é utilizada em todo mundo por mergulhadores de naufrágio. Ser capaz de prepará-los, pelo menos de uma forma simplificada (croqui primário) é uma condição básica que deve ser ensinada em qualquer curso sério de Mergulho em Naufrágio.
Por críticas e sugestões à meus croquis de mergulhadores bem intencionados; percebemos, que muitos desses mergulhadores, por não possuírem o treinamento adequado sobre croquis, acabaram fazendo uma interpretação errônea desses esquemas. Em função desse problema, que pode afetar a segurança dos mergulhadores, foi preparado esse texto. Espero que ele sirva para facilitar a compreensão do que é apresentado e aumente o aproveitamento que os mergulhadores possam fazer dessa importante ferramenta.
Assim mesmo, esse texto é apenas um resumo e não pretende substituir o
treinamento formal com um instrutor competente. Por mais que os mergulhadores de naufrágio possam encontrar águas claras e propícias a fotografias subaquáticas; raramente as condições são suficientes para que fotografias apresentem a cobertura necessária a uma boa orientação durante o mergulho nos naufrágios. Elas são ótimas para indicar a condição geral de peças, ou partes restritas dos destroços, mas em navios grandes são de pouca importância na orientação.
Classificação dos croquis
Na confecção dos croquis podemos distinguir didaticamente quatro categorias em função do número de informações fornecidas e da qualidade (confiabilidade) do trabalho. Essas categorias variam em função das condições locais, como profundidade, visibilidade, temperatura etc. Métodos empregados na confecção, como equipamentos ópticos, eletrônicos ou manuais. Responsável pelo trabalho e até o tempo passado de divulgação do trabalho, que pode impedir a correção de possíveis falhas.
Características básicas dos tipos de croquis
Características básicas dos tipos de croquisCroqui primário: são os croquis executados em uma planilha subaquática durante o mergulho e por isso muito simples e esquemáticos.
São croquis em duas dimensões (planta baixa).
As peças são apenas representadas (o que pode ser feito por códigos pré-estabelecidos).
Apresenta-se a disposição das peças relevantes, mas a escala não é obrigatória.
O tipo de fundo e as profundidades máxima e mínima são registrados.
Identificação, autor e data de execução são obrigatórios.
Croqui secundário: são normalmente o resultado do croqui subaquático, melhorado por observações após o mergulho de um ou mais mergulhadores.
Croquis em duas dimensões (planta baixa).
Reprodução das peças como são vistas no fundo.
Disposição das peças relevantes em escala.
Distância entre peças levada em consideração.
Orientação espacial, tipo de fundo e profundidades.
Sofrem algum tipo de confirmação (2 ou mais mergulhadores ou imagens subaquáticas).
Croqui terciário: são o resultado do croqui subaquático executado com auxílio do registro de imagens subaquáticas.
Croquis em três dimensões (perspectiva).
Apresenta-se a reprodução das peças (foram e tamanho).
Disposição das peças relevantes e complementares em escala.
Distância entre peças levada em consideração.
Representação colorida.
Perspectiva do naufrágio e detalhamento de peças.
Croqui Arqueológico ou mapeamento arqueológico: São o resultado dos trabalhos arqueológicos executados segundo os rígidos padrões de medição e posicionamento das peças.
Não são normalmente os croquis utilizados pelos mergulhadores para se orientar sobre os destroços, pois muitos dos artefatos podem ter sido retirados.
Objetivos dos croquis
Mergulhadores diferentes buscam informações distintas nos croquis, de modo geral, as informações que podem ser obtidas estão separadas em função do tipo e condições do naufrágio (Classificação do estado).
Naufrágios Desmantelados e Enterrados
Neles as informações mais importantes são sobre a disposição, o conjunto dos destroços e as peças que podem ser encontradas. Por isso, é frequente que peças importantes sejam destacadas com cores distintivas dos demais destroços. O mergulhador busca compreender como deve deslocar-se sobre os destroços e o que existe para ser apreciado.
Naufrágios Inteiros e Semi-inteiros
Neles, além da configuração geral do navio, as informações mais importantes estão associadas as penetrações e por isso a posição do naufrágio e os pontos de luz e pontos de penetração devem estar assinalados.
No exemplo do Itapagé acima, percebemos que os pontos de luz estão marcados em preto (orifícios) enquanto os pontos de penetração estão indicados por setas vermelhas.
Cabe lembrar, que a diferença entre os dois tipos de aberturas dependerá do grau de segurança que se deseja. O autor do croqui deve, por segurança, ser prudente e não indicar como pontos de penetração aberturas muito pequenas, pois neste caso pode induzir mergulhadores menos experientes a penetrar nesses locais. No meu caso, são assinalados como pontos de penetração somente aquelas aberturas em que dois mergulhadores podem passar lado a lado.
Técnicas de confecção de croquis
As técnicas estão baseadas na quantidade e distribuição dos destroços e no trajeto do mergulhador pelo naufrágio, na medida em que vai marcando a posição de cada peça encontrada.
SISTEMA RADIAL Recomendável para destroços sem uma orientação perceptível, em água turva ou com poucas peças aparentes.
Nele os mergulhadores fixam um ponto central e usando a um cabo-guia executam raios, marcando seus ângulos (recomenda-se variações de 90º), distância do ponto central e as peças encontradas.
SISTEMA EM ESPINHA DE PEIXE Recomendável para naufrágios com uma linha de orientação principal.
O mergulhador descreve um trajeto ao longo do naufrágio, como mostra a figura. A partir do eixo principal, são abertas linhas perpendiculares, representando as peças identificadas ao longo de cada um dos trajetos perpendiculares.
SISTEMA EM “U”Recomendável para naufrágios com perfeita disposição e orientação das peças ou em naufrágios inteiros. A água deve ter boa visibilidade e haver no naufrágio uma alta frequência de peças.
Podem ser feitos dois croquis; um externo, onde deve ser dada ênfase às marcações de pontos de entrada de mergulhadores e luz e um interno, que será a planta dos corredores e compartimentos, facilitando a penetração.
Checando a confiabilidade do croqui
Ao se examinar um croqui alguns cuidados são fundamentais para sua boa utilização, saber extrair as informações corretamente e avaliar a confiabilidade do trabalho podem fazer a diferença entre um mergulho seguro e um mergulhador perdido sobre, ou pior, dentro dos destroços.
Identificação do croqui
Deve ser garantida de forma inequívoca de que naufrágio se trata. A identificação deve fazer parte da própria ilustração, assim sabemos ser ela de responsabilidade do executor do croqui. Caso contrário, poderíamos nos deparar com erros de interpretação de quem prepara, por exemplo, um texto para uma revista. Seria arriscado, além da perda de tempo, só descobrir o erro depois de se estar totalmente perdido entre os destroços.
Por exemplo: no Brasil existem dois naufrágios chamados Parana, um no Rio de Janeiro e outro na Bahia e dois chamados Orion, um no Rio de Janeiro e outro em Santa Catarina, todos com características distintas.
Também poderiam ocorrer confusões quanto à porção do naufrágio. Por exemplo: a proa do Belucia e a sua popa, que requerem croquis diferentes para uma boa representação.
O caso oposto também pode ocorrer. Em alguns naufrágios que se sobrepõem, será necessário o estudo de dois croquis, se eles não foram executados juntos. Como exemplo, temos: o Eleni Statathus e Maria Statathus em Fernando de Noronha, ou o Bretagne e o Germania em Salvador.
A identificação típica deve conter sempre que possível o Nome do naufrágio – não necessariamente o nome do navio. A data do naufrágio, quando é conhecida (1º verificador de identidade). Cidade e estado da localização (2º verificador de identidade). Cruzando-se as três informações com seu objetivo, é impossível confundir dois naufrágios diferentes.
Autoria
Em uma primeira análise, poderíamos pensar que a autoria é muito importante ao se utilizar um croqui – ” quem sabe sabe ! “. No entanto, isso não é verdade. Nenhum mergulhador deve confiar cegamente nas informações fornecidas por um croqui, independente de seu autor. O mergulhador deve utilizar as informações do croqui com bom senso e ao longo de todo mergulho checar repetidamente sua validade. Jamais substitua um bom planejamento e boa dose de prudência por um “desenho” de quem quer que seja.
É lógico, que a autoria é um dos aspectos que devem ser levados em conta, junto com a classificação do croqui. Um autor de croqui com comprovada experiência deve, em tese, conseguir evitar alguns dos erros mais frequentes na execução do trabalho. Provavelmente ele sabe distinguir entre os principais tipos de peças dos navios e diferenciar modelos de embarcações. Isso evitará que você mergulhe em um naufrágio, que pensam ser um veleiro, pois o autor do croqui não reconheceu raras caldeiras quadradas nem distinguiu tipos de mastros.
Ao longo dos anos percebi um dado curioso: nos mais de 1600 alunos que passaram pelo Curso de Mergulho em Naufrágio, cerca de 10% de todas as pessoas que realizam um croqui, o fazem de forma espelhada. Isso quer dizer que representam o navio invertido.
Ex-alunos do curso que são psicólogos estão estudando o assunto a algum tempo; o motivo ainda desconhecemos, mas as consequências, são muito claras. Imagine um mergulhador que para uma penetração segura, tenha que seguir por um corredor até virar na 2ª porta a esquerda. Utilizando um croqui espelhado onde será que ele vai parar?
Como não existe um padrão estabelecido, a autoria acaba sendo também caracterizada pelo estilo do croqui. Autores diferentes apresentam padrões próprios; assim se for possível, antes de utilizar um croqui para um naufrágio desconhecido procure verificar o croqui do autor para um naufrágio já conhecido por você, isso permite criar uma associação com o padrão do trabalho.
Verificando vários croquis de um mesmo autor é possível saber que experiência ele possui.
Datação do croqui Outro importante fator que deve estar incluso obrigatoriamente no croqui é a data de sua execução. Não devemos esquecer que naufrágios são meios dinâmicos e o passar do tempo vai alterando irremediavelmente seu perfil; por isso mesmo, utilizamos a classificação dos naufrágios em Inteiros, Semi-inteiros, Desmantelado e Enterrado.
Infelizmente, as mudanças não são lógicas, graduais ou contínuas; grandes alterações podem ocorrer em determinados momentos, por influência ambiental ou devido à fase de desmanche em que o naufrágio está.
Não existe meio científico de prever seu estado com precisão, ou quando modificações relevantes vão acontecer.
A data deve ser sempre checada como uma forma de determinação do grau de precisão e confiança do croqui e quanto pode ter havido de alterações nos destroços desde a última verificação do autor.
Principalmente em penetrações a data de confecção do croqui é fundamental para garantir a viabilidade de seu uso no planejamento do mergulho.
A integridade das estruturas, debaixo das quais estará o mergulhador só pode ser garantida por ele mesmo mediante uma análise no local e imediatamente antes da penetração; o aprendizado dessa avaliação estrutural é parte integrante de um bom Curso de Mergulho em Naufrágio.
Utilizando croquis antigos, você poderá descobrir na hora errada que aberturas antes existentes podem ter desaparecido e outras podem ter se formado; também grandes peças podem desmoronar e todos esses eventos alteram o planejamento da penetração.
Informações extraídas dos croquis
Estilos
Como já dissemos, não existe uma padronagem para croquis e por isso, autores diferentes utilizam métodos diferentes para passar informações sobre o naufrágio. Algumas dessas formas podem provocar problemas de má interpretação do croqui e por isso, precisam ser conhecidas antes de sua utilização. As observações abaixo são fruto de vários anos de visualização de croquis de vários autores e principalmente das necessidades que moldaram o estilo que hoje é utilizado na confecção de meus croquis.
Profundidades
Profundidades são de grande importância nos croquis. Devem ser assinaladas as profundidades máxima e mínima, quando os destroços não estão no plano e as profundidades de peças que se destacam do fundo. Além de servirem de elemento de orientação às profundidades são a base para o planejamento do mergulho.
Tipo de fundo
Deve ser indicado por elementos escritos ou por código de cores. O fundo pode influenciar na visibilidade e na localização de peças, pois movimentos de maré ou correntes podem enterrar ou desenterrar peças ou até partes do navio. Essas alterações podem modificar sensivelmente o aspecto de um naufrágio em relação ao croqui apresentado.Nas cartas náuticas, as batimetrias mínimas são marcadas segundo a menor profundidade possível encontrada no local (evitar encalhe), o que corresponde a maré baixa de sizígia, assim, elas também são marcadas nos croquis.
Porém, o procedimento das cartas náuticas para as profundidades máximas, poderia criar erros no planejamento do mergulho. Assim, nos croquis as profundidades máximas são marcadas, sob condições de maré alta (maior profundidade possível). O resultado desse cuidado técnico é que se torna comum mergulhadores, encontrarem no fundo profundidades reais menores e/ou maiores do que as indicadas nos croquis. Isso não implica num erro de registro, mas apenas em um procedimento de segurança que deve ser levado em consideração.
Orientação
Muitos mergulhadores questionam a falta de orientação norte/sul nos croquis. Essa ausência ocorre porque a informação é pouco prática. As bússolas frequêntemente apresentam marcações incorretas, influenciadas pela massa ferrosa dos destroços. Por isso, não é usual que mergulhadores de naufrágio utilizem as bússolas como forma de orientação pois seu uso pode levar a erros graves na navegação, ao invés da bússola são utilizadas técnicas de orientação natural.
Angulação
Talvez a parte mais difícil da confecção de um croqui terciário é a escolha do ângulo de representação; pois ele ira favorecer a maior visualização dos destroços. Essa escolha poderá mudar significativamente a compreensão que os mergulhadores fazem do naufrágio e o aproveitamento do croqui.
O ângulo escolhido deve privilegiar o conjunto dos destroços e as peças mais importantes, isso obriga o mergulhador a tomar decisões rápidas sobre por onde começar o registro, assim que visualiza o naufrágio.O croqui de da Chata de Noronha de 2006 corrigindo o ângulo de observação do croqui de 1996
Relevância
Outra decisão difícil é determinar que partes dos destroços são relevantes, o que deve ser mostrado e o que pode ser omitido.
Essa decisão só pode ser tomada depois de conhecido o naufrágio e muitas vezes sacrifica partes dos destroços. Caso contrário, o croqui pode tornar-se tão detalhado que dificultará a visualização das peças importantes.
Veja o caso do Nébula ao lado, parte do casario foi cortado para favorecer a visão da sala de máquinas, parte especial deste navio.
Peças particularmente importantes podem ser representadas através de legendas, mas esse procedimento deve ser feito com parcimônia, principalmente em croquis terciários, evitando poluir a representação.
Acidentes de relevo do fundo, como grandes rochas, fendas e recifes podem também ser importantes no croqui, pois orientam o mergulhador e contam a história do naufrágio.Coloração
No caso do croqui ser realizado em cores (terciários), elas servem para indicar diversos aspectos. Tipos de material, áreas sombreadas, dobramentos e ângulos e principalmente, partes com a mesma angulação em relação à superfície, isso auxilia ao mergulhador a ter uma ideia tridimensional dos destroços, dando a ele volume.
Modificações propositais
Em algumas situações parece ser mais interessante cometer pequenas alterações na confecção dos croquis. Isso é feito, principalmente, para revelar peças importantes, que de outra forma poderiam ficar disfarçadas ou ocultas pela angulação escolhida. Algumas modificações são clássicas: Inversões de peças; cabeços-de-amarração, por exemplo, quando vistos por baixo são absolutamente inidentificáveis. Assim pode ser mais interessante representá-los ao contrário, do que sua presença não ser percebida no croqui.
(L) A esquerda, como seria o desenho real da proa do Vapor Bahia do ângulo escolhido. A direita, como foi mostrado no croqui, um corte no casco um pouco maior do que na realidade, revela a presença das âncora de boreste
(Visto por baixo, a representação dos cabeços-de-amarração seria irreconhecível
Alterações de forma e pequenas mudanças de posição; cortes de partes do casco ou pequenos deslocamentos de posição de peças também podem revelar estruturas importantes, que de outra forma ficariam escondidas no ângulo escolhido.
O autor precisa apenas ter cuidado com essas alterações para que elas não induzam a uma interpretação errônea dos acontecimentos e desmanche do navio. Inverter a posição do casco, de um cabeço-de-amarração ou turco podem fazer o mergulhador deixar de perceber o adernamento do naufrágio antes de seu desmonte.
Finalmente o número de modificações deve ser o mínimo possível, caso contrário o croqui se tornará difícil de interpretar debaixo d’água e os mergulhadores ficarão perdidos ao invés de orientados.
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