Fim do mistério. A história do vapor Bezerra de Menezes
Novamente, o site Naufrágios do Brasil tem o prazer de abrir espaço para mais uma importantíssima descoberta realizada
pelo pesquisador de naufrágio Ivo Lima Brasil Jr.
Desta vez, a luz recai sobre um dos mais famosos naufrágio da região de Angra dos Reis, RJ.
Velho conhecido dos mergulhadores, este vapor do século XIX, naufragado na baia de Angra dos Reis, finalmente tem sua história desvendada.
Várias dúvidas pairavam sobre a história do Bezerra de Menezes, a começar pela data correta de seu naufrágio, tida como sendo no ano de 1860.
A partir de mergulhos no naufrágio e pesquisas realizadas por Maurício de Carvalho, surge o primeiro indício de que o naufrágio não poderia ter ocorrido neste ano, uma vez que foi verificado que tratava-se de um vapor com as pás do hélice atarrachadas, tecnologia que só começou a ser utilizada em torno do ano de 1890, inviabilizando portanto a hipótese de que um vapor naufragado em 1860 a tivesse. O próximo passo seria então levantar a biografia daquele em cuja homenagem foi nomeado o navio, o Dr. Bezerra de Menezes, personalidade do cenário político brasileiro do século XIX, médico conhecido por ajudar os menos favorecidos e o maior líder espírita brasileiro, chegando até mesmo a ser citado como o “Alan Kardec brasileiro”.
Os fatos mais relevantes da biografia do Dr. Bezerra de Menezes são os seguintes:
Adolfo Bezerra de Menezes Cavalvanti , nascido no CE em 29/08/1831, doutorado em medicina em 1856, eleito vereador pela primeira vez em 1861, seguiu carreira política até 1881, sendo também deputado e presidente da câmara. Em torno do ano de 1870, em uma breve interrupção na carreira política criou a Cia Estrada de Ferro Macaé e Campos, que mais tarde se tornaria proprietária do vapor que levaria seu nome.
Em 1886 se declarou publicamente espírita e foi aclamado presidente da federação espírita brasileira em 1894. Conhecido como “Kardec brasileiro” e “médico dos pobres”, escreveu vários livros e era famoso por sua bondade, dizendo que um médico que negasse auxílio a um necessitado, fosse por qualquer motivo, cansaço, tempo, e principalmente dinheiro, era um negociante da medicina e não merecia o título de médico.
Nasceu em família rica (filho de coronel) e morreu pobre, tendo gasto toda sua fortuna em ajuda aos necessitados.
A partir desta biografia mais uma vez foi verificada a impossibilidade do naufrágio ter ocorrido em 1860, uma vez que o Dr. Bezerra de Menezes não havia nesta data ainda se tornado notório, sendo de estranhar portanto que fosse nomeado um navio em sua homenagem.
A História
Utilizando a informação da data em que os hélices de pás atarrachadas começaram a ser utilizados, e cruzando com as informações com a biografia daquele que emprestou seu nome ao vapor, foi iniciada uma pesquisa de rastreamento do navio em jornais de época a partir do ano de 1890. Foram localizadas então neste ano entradas e saídas do vapor Bezerra de Menezes no porto do Rio de Janeiro, fazendo sempre a mesma rota, entre Rio de Janeiro, Imbetiba, Macaé e Campos. Descobriu-se também que o vapor pertencia à Cia Estrada de Ferro Macaé e Campos, que durante um período na década de 1870 foi fundada e dirigida pelo Dr. Bezerra de Menezes, reforçando que realmente tratava-se do vapor em questão.
Após rastreamento dos movimentos diários de entrada e saída do porto do Rio de Janeiro durante todo ano de 1890 e início de 1891, foi verificado que o Bezerra de Menezes entrava e saia regularmente em intervalos de aproximadamente 7 dias na rota já mencionada entre o Rio de Janeiro, Campos, Macaé e Imbetiba. Comandado por André Antonio da Fonseca, o Bezerra de Menezes era um vapor misto, de carga e passageiros.
O Naufrágio
Em final de janeiro de 1891, o Bezerra de Menezes foi afretado pela Cia Terrestre e Marítima Rio de Janeiro para uma viagem a Paraty, com escala em Angra dos Reis, e esta seria sua última viagem. Partiu do porto do Rio de Janeiro em 30/01/1891 com destino a Angra e Paraty, com 24 tripulantes à bordo, em torno de 40 passageiros e cargas diversas. No retorno, após deixar o porto de Angra dos Reis dia 02/02/1891com 37 passageiros, os 24 tripulantes e cargas diversas à bordo, às 23 hrs, o Bezerra de Menezes se chocou fortemente com o a laje Colombo, hoje conhecida como laje alagada. A causa do acidente é atribuída à imperícia do comandante, uma vez que apesar de ser sua primeira viagem nesta rota, a laje em questão era bem conhecida e estava visível no momento do acidente.
Com o choque foi aberto um rombo na proa e o Bezerra de Menezes submergiu rapidamente. De acordo com telegrama recebido do diretor do lazareto da Ilha Grande, socorreu os náufragos no local o vapor Daunfleu, que salvou os 37 passageiros e 24 tripulantes, além de boa parte da carga, levando-os a Sepetiba, de onde a canhoneira Liberdade, da marinha brasileira os trouxe de volta ao Rio de Janeiro. Não houve vítimas.
Pesquisas realizadas por: Ivo Brasil e Maurício Carvalho
Fontes:
Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Jornal do Comércio
Jornal O Paiz
Jornal Correio de Noticias
http://www.ajornada.hpg.ig.com.br/materias/personalidades/bezerrademenezes.htm
Ivo Lima Brasil Jr.Ivo Brasil é engenheiro de computação com mestrado em inteligência artificial, e atua na área de comércio exterior. Mergulhador desde 1996 quando iniciou como mergulhador CMAS.Atualmente é Tech Diver GUE, e Dive Mentor PDIC com especializações em Naufrágio, Rescue, Nitrox, Computadores e Multinível, Equipamentos e Vida Marinha.
Especial interesse em mergulho e pesquisa de naufrágios.