Especial – Resgate da fragata Thetis

O Resgate da fragata H.M.S. Thetis

Extraído do relatório do Capitão Thomas Dickinson Maurício Carvalho e José Luiz Oliveto

A fragata inglesa Thetis, viajava de volta a Inglaterra, carregada com prata e ouro, no dia 5 de dezembro de 1830, devido ao nevoeiro, chocou-se violentamente contra a Ilha de Cabo Frio no litoral do Rio de Janeiro, afundando rapidamente dentro de uma pequena enseada.
A recuperação do tesouro foi a primeira grande operação de mergulho em águas brasileiras. Durante pouco mais de dois anos, os ingleses liderados pelo Capitão Thomas Dickinson, utilizando inclusive um sino de mergulho feito com caixas d’água de cobre e mergulhadores escravos resgataram mais de 15/16 de todo o tesouro. O resgate, uma verdadeira operação de guerra foi um total sucesso. 
Apesar disso, até hoje podem ser encontrados restos dessa fantástica operação e destroços do que foi o maior tesouro afundado, localizado e resgatado do Brasil.

O Navio

A Poderosa Inglaterra do século XVII estendia seus domínios da América do Norte e Caribe a milhares de ilhas do Pacífico, além disso, sua influência econômica, mantinha sob controle diversas nações recém independentes, inclusive o Brasil; que assinara o tratado de 1810, onde diversas beneces eram fornecidas ao Império Britânico. Para manter o controle sobre esse imenso domínio a Armada Inglesa era de longe a mais poderosa do planeta, mantendo frotas separadas para o serviço de cada uma das rota do planeta.
A H.M.S. Thetis, ( H.M.S – Her/His Majesty’s Ship” – “Navio de Sua Majestade”) era uma fragata com uma tripulação de 300 homens, armada com 46 canhões; pertencente à frota da América do Sul, que cumpria entre outras funções como patrulhamento a coleta de impostos da coroa britânica.



Nome do navio: H.M.S. Thetis                                               
Afundamento: 05.12.1830
Nacionalidade: Inglesa                                                           Armador: Marinha da Inglaterra
Tipo de embarcação: fragata a vela da classe Leda
Estaleiro: Pembroke Dock (Inglaterra)                                Tripulação de cerca de 300 homens.
Ano de fabricação: e
ncomendada em 1812 e lançada ao mar em 02.1817
Dimensões: comprimento: 45,7 m. –  boca: 12,2 m. –  deslocamento: 1086 toneladas
Material do casco: madeira chapeada                               Guarnecida com 46 canhões.
Carga: Coleta de impostos (810.000 libras em barras de ouro e prata), material bélico


O Naufrágio

 Em 1830 retornava à Inglaterra, partindo de colônias no pacífico, passando pela Bacia do Rio da Prata e escalando no porto do Rio de Janeiro.
Em dezembro de 1830, comandada pelo Capitão Burgess, a fragata partiu do Rio de Janeiro com destino à Inglaterra. Levava, registrado no manifesto de bordo, cerca de 810.000 dólares valores da época, fora os valores de propriedade dos tripulantes e do contrabando, bastante comum na época.
A maior parte dos valores provinha das colônias do Pacífico, mas uma pequena parte foi embarcada no Rio de Janeiro. O tesouro era de propriedade de comerciantes e do governo inglês, proveniente de impostos das colônias, a grande maioria em barras de ouro e prata e moedas.
A fragata deixou o porto do Rio de Janeiro na manhã do dia 5 de dezembro com nevoeiro e vento fraco. A rota é traçada para deixar ao largo a projeção de continente onde fica A Ilha de Cabo Frio, perigoso acidente geográfico da época e que vitimou ao longo da história da navegação no Brasil numerosos navios.
Ilha de Cabo Frio – Arraial do Cabo, RJ. “Cabo de chapéu”
O fenômeno, comum na região, ocorre quando nuvens e nevoeiro se formam sobre a ilha.
É causado em parte por causa da condensação do vapor na água fria.
O nevoeiro pode esconder totalmente a Ilha.

Às 2 horas da tarde, o comandante acredita estar a 20 milhas ao norte do Cabo Frio e altera o rumo, percorrendo em duas horas cerca de 20 milhas. Às 4 horas, a posição do navio é erroneamente estabelecida a 24 milhas no través do Cabo Frio e o rumo é novamente alterado. O vento favorável aumenta a velocidade da Thetis para 10,5 nós. O erro seria fatal.
Logo após a mudança do quarto de serviço às 20 horas, ouve-se da gávea gritos aterrorizantes: “Arrebentação por baixo da proa”, imediatamente seguido por “Rochas acima do tope do mastro!”.
De súbito, o gurupés (mastro projetado à proa) choca-se com os íngrimes penhascos da Ilha de Cabo Frio (hoje Arraial do Cabo). O impacto sobre a mastreação, despedaçada e arranca os três mastros, que caem, matando e ferindo alguns tripulantes. A confusão de cabos e velas obstrui todo o convés, impedindo um trabalho de salvamento eficiente.
O choque ocorreu na extremidade sul do promontório da Ilha de Cabo Frio. Por sorte, o gurupés absorveu parte da força do impacto e o navio não afundou imediatamente, caso contrário teria parado a mais de 80 metros de profundidade.

Enseada dos Ingleses com a Thetis naufragando

A Thetis ainda não fazia água e os tripulantes tentaram afastá-la dos penhascos lançando uma âncora a popa, porém a alta profundidade tornou a operação ineficaz. Na noite escura e com o convés abarrotado pelo velame e mastros a tripulação pouco podia fazer. O vento forte provocou diversos impactos contra o costão e com os sucessivos impactos seu tabuado começou a abrir e a fazer água, em velocidade que as bombas, tocadas furiosamente pelos marinheiros, não mais podiam retirar.
A queda dos mastros, haviam esmagado todos os escaleres o que deixava os tripulantes a sua própria sorte. O vento arrastava o navio nos penhascos. Quando a fragata novamente chocou-se com uma parte saliente do rochedo, cerca de 40 homens conseguiram pular para terra; outros, caíram no mar frio, agitado e escuro e morreram afogados ou esmagados entre o navio e o penhasco.
Ao longo de 4 horas, o vento forte empurrou ao longo dos penhascos na direção leste, largando pelo caminho diversos pedaços.
O casco, já muito destruído acabou entrando em uma enseada, que inicialmente a tripulação julgou ser o Boqueirão (passagem com cerca de 50 metros entre a Ilha de Cabo Frio e o Pontal do Atalaia). Esta pequena baía, circundada por altos penhascos, fica a cerca de 500 metros do Boqueirão e foi denominada: Enseada da Thetis, atualmente é conhecida como Saco dos Ingleses.
Às 21 horas daquela noite chuvosa a H.M.S.Thetis foi jogada definitivamente de encontro às rochas do canto sul da enseada. Como a inclinação do costão é muito grande, o casco não encontrou apoio no fundo e em cerca de uma hora tudo estava acabado. Para fora, apenas partes do casco alguns pedaços de mastro, cordas e partes do velame.
Os homens que pularam do navio para terra conseguiram chegar na enseada dos ingleses, caminhando pelo alto dos promontório. Juntando uma série de cabos eles tentaram resgatar vários dos homens que ainda estavam no interior da Thetis. Os tripulantes apinhavam-se no castelo de popa e na borda do costado de bombordo, que ficaram fora d’água. Utilizando os cabos lançados do costão muitos marinheiros, escalavam as rochas, até a segurança.
Quando amanheceu, quase todos os tripulantes estavam salvos, havendo apenas 28 perdas, a grande maioria delas ocorridas na primeira parte do acidente, quando muitos homens foram esmagados pelos mastros ou lançados ao mar.
Apesar de salvos a situação era difícil. A Ilha de Cabo Frio é separada do continente, que por sua vez era selvagem e desabitado, o povoado mais próximo, a cerca de nove milhas, era no porto de Cabo Frio.O Comandante Burgess mandou um grupo a Cabo Frio e de lá o Capitão-Tenente Hamilton a cavalo, levou ao Rio de Janeiro uma carta com notícias sobre o desastre. No dia 10 de dezembro o oficial chega ao Rio de Janeiro. A carta dava conta da perda do H.M.S. Thetis assim como toda a carga que se encontrava dentro.
O Comandante da Esquadra Inglesa na América do Sul o Vice-Almirante Thomas Baker, dirigiu-se de imediato ao local em socorro dos náufragos. A pequena frota de socorro era formada pelo navio-capitânia, o H.M.S. Warspite, além do H.M.S. Lightning, H.M.S. Algerine e outros navios disponíveis.
Ao chegar ao local, os navios ingleses encontraram cerca de 270 homens salvos, apenas com pequenos ferimentos. O que foi considerando uma benção.


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