Revista Mergulho, Destino naufrágio - XIII - Nº 160 - novembro/2009 - Texto: Maurício Carvalho
Conheça a história do afundamento de um dos mais importantes navios da Marinha do Brasil
A proclamação da República em 15 de novembro de 1889 pelo Marechal Deodoro da Fonseca, encerrou a primeira fase da história do Brasil, para iniciar outro turbulento período de disputas pelo poder.
Em novembro de 1891, o presidente da República sofrendo forte oposição representada pela elite cafeicultora, ordena o fechamento do congresso.
Associado a este problema, a quebra financeira do encilhamento, provocou inquietação na população e forças armadas. No mesmo período, o sul do país estava envolvido na Revolução Federalista. Liderados pelo Almirante Custódio de Melo, diversas unidades da Armada (Marinha do Brasil) sediadas no Rio de Janeiro revoltaram-se, ameaçando bombardear a capital. Com a pressão, o Marechal Deodoro renuncia à presidência.
O vice-presidente, Floriano Peixoto, assume o cargo em 1882, violando a constituição, que determinava nova eleição. Vários generais e algumas unidades da armada, opuseram-se à sua permanência no governo.
O manifesto exigia a convocação de novas eleições. Floriano reprimiu duramente o movimento, determinando a prisão de seus líderes. A revolta eclodiu e se estendeu de setembro de 1893 a março de 1894, sendo chamada de Revolta da Armada.
Os principais combates ocorreram entre as unidades revoltosas e os fortes costeiros, no Rio de Janeiro e no Desterro (atual Florianópolis – homenageando o general que desmontou o movimento). Muitas das facções, tanto da marinha como dos fortes do exército, não se engajaram totalmente nos movimentos, apresentando pouca combatividade. Assim mesmo, diverso combates terminaram por causar o afundamento (temporário ou definitivo)
de vários navios, entre os quais, alguns dos mais importantes da Marinha do Brasil: o Aquidabã.
As piores batalhas ocorreram em Niterói, obrigando a troca temporária da capital do estado para Petrópolis. Com pouco apoio político e popular, a esquadra revoltosa força a barra da Guanabara, trocando tiros com as fortalezas da costa e dirige-se para a cidade de Desterro, tentando unir-se aos federalistas gaúchos.
Com o apoio do exército e adquirindo às pressas, novos navios de guerra no exterior (conhecidos como “ frota de papel” ), Floriano Peixoto acaba por sufocar o movimento.
Desses violentos eventos, resultaram diversos naufrágios, tanto na esquadra legalista, como na esquadra revoltosa, que para suprir suas necessidades de apoio com víveres e combustíveis, incorporou diversos navios civis, da Companhia Frigorífica Fluminense, Lloyde Brasileiro, Companhia de Navegação Lage e Wilson & Sons. (Tabela 1) Entre os navios que mais atuaram nesta revolta, está o encouraçado Aquidabã, que envolvido nos combates de Florianópolis, acabou afundando duas vezes.
FICHA TÉCNICA
DADOS TÉCNICOS
NOME DO NAVIO: Aquidabã
DATA DO AFUNDAMENTO: 1906
LOCAL: baía de Jacuacanga, Angra dos Reis, RJ
POSIÇÃO: 200 metros da costa
LATITUDE: 23º 02.541’ sul
LONGITUDE: 44º 15.181’ oeste.
PROFUNDIDADE MÍNIMA: 11 metros
PROFUNDIDADE MÁXIMA: 20 metros
CONDIÇÕES ATUAIS: desmantelado.
DADOS TÉCNICOS
NACIOLNALIDADE: Brasileira
ESTALEIRO: Samuda Brothers – Inglaterra
ARMADOR: Marinha do Brasil
COMPRIMENTO: 80 metros
BOCA: 15,8 metros
TIPO DE EMBARCAÇÃO: Encouraçado
MATERIAL DO CASCO: aço
PROPULSÃO: vapor a hélice
CARGA: material bélico
MOTIVO DO NAUFRÁGIO: provável explosão do cordite
ENCOURAÇADO AQUIDABÃ
Lançado em agosto de 1885, este navio prestou longo serviço à esquadra brasileira e esteve envolvido em dois dos mais dramáticos momentos da marinha. Durante a Revolta da Armada, rompeu diversas vezes a barra do Rio de Janeiro, trocando tiros com as fortalezas. Depois, em 1906 sua violenta explosão foi um dos piores acidentes da Marinha do Brasil. (Tabela de dados técnicos)
RE
VOLTA DA ARMADA
Em abril de 1894, o Almirante Custódio de Mello, partiu com a esquadra revoltosa, no intuito de tomar o importante porto de Rio Grande (RS), fundamental para a causa revoltosa.
Porém, ao chegar ao Desterro, estava em péssima condição e foi deixado para proteger o porto dos legalistas.
Após meses de combate, uma das torres de canhão não mais funcionava, e as máquinas só atingiam uma velocidade de 4 nós.
No dia 16, diversas das torpedeiras legalistas atacaram o Aquidabã.
A Gustavo Sampaio lançou um torpedo e a Pedro Afonso lançou dois torpedos, mas nenhum deles o atingiu. No segundo ataque da Gustavo Sampaio, o torpedo explodiu na proa do Aquidabã, que sem capacidade de navegar, encalhou em local raso e foi abandonado semi submerso. Os marinheiros fugiram em navios estrangeiros e por terra.
O NAUFRÁGIO
Os restos do Aquidabã encontram- se a cerca de 20 metros, nas escuras águas do fundo da baía de Angra dos Reis. Do alto do morro, um monumento relembra seu passado violento. Os destroços embora muito interessantes, são de difícil exploração.
Em mais de cinquenta mergulhos no local, fiz aproximadamente seis com visibilidade de 6 a 10 metros e apenas um com mais de 25 metros. Por sorte, estava com a filmadora e pude registrar tudo. Em todos os outros mergulhos, não peguei mais do que 2 metros de visibilidade. Torre de canhão do Aquidabã
Para piorar o cenário, em 1927 uma operação de resgate retirou muitas peças do navio, inclusive uma das torres giratórias de canhão. Para sorte dos mergulhadores, a outra ainda permanece lá, majestosa, com seus vários níveis, e o canhão de 203 mm projetando-se para o fundo.
Veja mais em: Naufrágio do Aquidabã
Veja mais em: Revolta da Armada – Aquidabã
Curso de Mergulho em Naufrágios
Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil.