Sumário
Texto e vídeo: László Mocsári
Fotos: Roberto Amarante Costa Pinto
Histórico
O Belmonte foi construído nos estaleiros Stocks & Kolbe em Kiel (Alemanha) em 1914, mas não há registros de sua venda ao Brasil e nem de quando foi adaptado para máquina a diesel. O “Hiate” (escrita da época) Belmonte atuava na navegação de cabotagem, pelo menos, a partir de setembro de 1920, transportando, além de passageiros e malas postais, até 180 toneladas de açúcar, madeira, óleo e cargas diversas. Também era muito utilizado para carregar café e cacau até vapores maiores, com destino ao exterior, mas que não podiam atracar em portos pequenos como os de Belmonte e Ilhéus localizados no sul das Bahia.
O iate Belmonte transportou a Salvador os náufragos do vapor Alliança, afundado em setembro de 1927 na barra do rio Doce. Ele também já havia sofrido um grave acidente com uma explosão e incêndio em janeiro de 1938.
(l)Anúncio de viagem
(l)”Hiate” a motor semelhante ao Belmonte
O Afundamento
O Belmonte partiu em dezembro de 1941 de Salvador, BA. com destino a Belmonte e outros portos menores, levando a bordo uma carga variada, entre elas, bebidas e remédios.
Na madrugada do dia 18, já na saída da Baía de Todos os Santos, em frente a ilha de Itaparica chocou-se violentamente com o vapor Norma que seguia em direção contrária, do Rio de Janeiro para Salvador. O Norma, de 400 toneladas, nada sofreu, já o Belmonte, de apenas 90 toneladas, soçobrou imediatamente em consequência do enorme rombo que abriu-se no casco.
Os 10 tripulantes e 9 passageiros do iate sinistrado foram recolhidos pelo Norma e desembarcaram em Salvador.
A Pesquisa e o achado do Belmonte
No início dos anos 2010, pescadores de compressor perseguindo uma cioba durante uma pescaria na entrada da Baia de Todos os Santos, Ba., encontraram um naufrágio. Pouco tempo após a descoberta, acredito que após explorarem e perceberem que não havia objetos de valor comercial, decidiram vender a localização do naufrágio.
Soube que mergulhadores interessados estiveram no local, mas não sei se logrou alguma negociação. O fato foi que em 2018, juntamente com mais três colegas conseguimos negociar este ponto com os pescadores.
Em um dia de mar calmo, um dos pescadores nos levou ao local, que fica acerca de 12 milhas a sudoeste do Farol da Barra em direção ao Morro de São Paulo.
Certamente, para valorizar a negociação, ele trouxera apenas para nos mostrar, alguns artefatos do naufrágio. Uma das garrafas tinha o nome Fratelli Vita gravado. Esta era uma conhecida fábrica de refrigerantes de Salvador. Mas o que mais nos chamou a atenção era um dos telégrafos do navio, no qual havia gravado em alto relevo o nome “Belmonte-Bahia”.
(l) Visão do motor do Belmonte
(l) Fratelli Vita, conhecida fábrica de refrigerantes
(l)Telégrafo de máquinas marcado Belmonte Bahia
(l)Elixir Galenogal, vendido até os dias de hoje
Imediatamente achamos que este era o nome do navio ou era o fabricante do telégrafo. Na ocasião, fizemos fotos destes artefatos. Neste dia, apenas nós quatro mergulhamos, o pescador ficou no barco. Todos nós usamos rebreathers neste mergulho, água estava bem limpa, quase não havia correnteza e antes mesmo de chegarmos ao fundo já podíamos ver a silhueta do Belmonte. Fizemos um mergulho que durou pouco mais de uma hora de fundo, o que nos permitiu inspecioná-lo e fazer filmagens. (Filmagens da época da descoberta do Belmonte – 2018)
Constatamos que era um navio relativamente pequeno com cerca de 25 metros de comprimento que quase não se projetava do solo submarino que repousava sobre um fundo arenoso a 40 metros de profundidade.
Correlação do Achado com o Belmonte
Até então, este naufrágio, era apelidado de “navio das garrafas”, pelo fato obvio de nele haver muitas garrafas. A partir do telégrafo mostrado pelo pescador, pesquisamos no livro Naufrágios e Afundamentos na Costa Brasileira do professor José Góes de Araújo e vimos que havia um navio com este nome que afundara em 1941. Nesta época já havia a fábrica da Fratelli Vita, que foi uma empresa fabricante de garrafas de vidro, de cristais e de refrigerantes que fora fundada, em Salvador em 1902. A presença desta garrafa sugere que o navio havia sido abastecido de suprimentos em Salvador e que estava saindo para outro destino, ou seja, o quebra cabeça estava se encaixando.
Recentemente entrei em contato com o Maurício Carvalho para tentar confirmar a identificação, que fez uma pesquisa minuciosa com jornais da época, Lloyd Register, entre outros, descobrindo mais pontos em comum que nos permitiu confirmar a identificação do navio como o Belmonte.
Um destes pontos foi o motor que é de três cilindros que coincide com o a referência do Lloyd Register, outro era a localização atual, que coincide com a notícia do Jornal Correio da Manhã de 20.12.1941, que dizia: “na altura do Morro de São Paulo”.
Esses dados aliados obviamente o relato do nome do gafado no telégrafo do pescador e ao fato histórico de que estava saindo de Salvador, ligado ao achado da garrafa da Fratelli Vita, nos permitiu, com bastante precisão, afirmar de que se tratavas do naufrágio do Belmonte. É um naufrágio pouco mexido pela ação humana. Fiz apenas três mergulhos no Belmonte, recente retornamos com outros colegas com o objetivo de fazer algumas medições, um novo vídeo e fotos de qualidade deste interessante e belíssimo naufrágio que podem ser apreciados abaixo.
(l)A notícia do afundamento
Equipe de rebreather do mergulho de documentação. Da esquerda para a direita: Roberto A Costa Pinto, László Mocsári, Peter Tofte e Fagner Rodrigues
No mergulho da descoberta (2018) estavam László Mocsári, Peter Tofte, Marcelo Rosário e José Manoel Lusquinhos
FOTO LASZLO
Vídeo do Belmonte – Lázló Mocsári
(l Grande quantidade de garrafas espalhadas pelo fundo
(l) Uma das âncoras almirantado da proa
(l) Provável compressor de ar à bombordo do motor
Dados básicos
Dados de localização
Dados técnicos
Descrição
Os destroços são relativamente pequenos com cerca de 25 metros de comprimento com a proa apontada para os 325º, completamente destroçado que se elevam pouco mais de dois metros do solo submarino e que repousava sobre um fundo arenoso a 40 metros.
A projeção mais proeminente é o seu motor à diesel com três cilindros. A impressão é que o casco abriu no sentido longitudinal, tombando lateralmente, ficando quase que totalmente assoreado, sendo visível apenas alguns centímetros o que permite apenas delimitar o contorno do navio.
Há quatro âncoras almirantado, uma na popa, uma ao lado do motor e duas na proa, sugerindo que no momento do naufrágio não foram lançadas ao mar.
Há dois guinchos, ambos na proa e muitas garrafas localizadas a meia nau, havia ainda, o outro telégrafo que consegui filmar mais que no mergulho que fiz recentemente, já não estava mais lá.
Até então este naufrágio, era apelidado de “navio das garrafas”, pelo fato obvio de nele haver muitas garrafas.
(l) László Mocsári realizando cuidadosas medidas dos destroços
(L) (l) Mosaico de fotos e croqui (László Mocsári). Foi utilizada uma régua de PVC de 6 m marcada de metro em metro
(L) Motor 3 cilindros, o volante do motor, reversor e parte do eixo
(L) Ao lado do motor, parece ser dois tanques (um deles
está escondido em baixo do outro).
Provavelmente seriam usados para dar partida no motor
(L) Motor 3 cilindros, o volante do motor, reversor e parte do eixo
(L)Ao lado do motor, parece ser dois tanques (um deles está escondido em baixo do outro).
Provavelmente seriam usados para dar partida no motor
(L) Motor do compressor de ar
(L) Provável tanque de combustível
(L) Guincho da proa
(L) Guincho