CAMAQUÃ

Sumário

Histórico

Durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial os submarinos alemães e italianos atuaram livremente no litoral brasileiro afundando mais de 53 embarcações brasileiras e estrangeiras. Após esse impacto inicial, os aliados e o governo brasileiro começaram a utilizar a tática de comboios protegidos por escolta naval e cobertura aérea para impedir o ataque aos navios.
Como o país não era dotado de uma esquadra suficientemente grande para proteger todo o litoral, diversos navios da marinha sofreram alterações para cumprir essa importante missão. É neste contexto, que os navios mineiros da Classe Carioca foram transformados em corvetas de escolta e acabaram participando do teatro de guerra no Atlântico, entrando para sempre na história naval do Brasil.

Corveta Camaquã (Classe Carica – C6)

Ao findar o seu quinquagésimo comboio do Rio de Janeiro a Trinidad a corveta Camaquã enfrentava um mar agitado, porém considerado normal para a região. Segundo alguns dos sobreviventes:

“uma sucessão de três grandes ondas, com intervalos regulares atingiram a embarcação pelo través; as duas primeiras fizeram com que ela adernasse a ponto de descobrir a tomada d’água de refrigeração do condensador, que ficava muito abaixo da linha d’água de bombordo; com isso o navio ficou adormecido (sem máquinas); neste momento foi atingido pela terceira onda da série, terminando por emborcar.”

 

As 9:50 h e em questão de 20 minutos o navio, que permanecia de quilha para cima, afundou. Os náufragos foram resgatados pelos rebocadores da Marinha Jutaí e Graúna. As causas do afundamento são explicadas da seguinte forma: a corveta Camaquã, operava nos limites de seu raio de ação de 2500 milhas, tinha ordens para utilizar lastro em seus tanques quando estes estivessem quase vazios; porém este procedimento fazia com que, durante viagens com mar agitado, parte do óleo, que alimentava os maçaricos das caldeiras, misturasse com água, provocando o apagamento durante a navegação. Para evitar este problema o procedimento recomendado não era cumprido.

As reformas

Apesar de ser chamada de Corveta, a Camaquã era por construção um navio-mineiro, teve seu lançamento em 1938 e foi incorporado a esquadra brasileira em 1940.
Em 1942 o navio passa por reformas no Arsenal de Marinha: Foram retirados os trilhos de minas e instalados sonar, estação de telegráfica, abertura na borda da popa, colocação de calhas para cargas de profundidade, montagem de morteiros em Y para cargas de profundidade e reparos nas máquinas e caldeiras. Preparando assim a Camaquã para o serviço de comboio, tão necessário a proteção do nosso litoral contra a ação dos submarinos do eixo durante a Segunda Guerra Mundial.

A 46 metros de profundidade repousa o hélice de bombordo ainda ligado ao eixo
Configuração original dos navios mineiros da Classe Carioca

  
Note os dois bordos com trilhos de minas e na popa os turcos que as colocavam na água

Dados básicos

Nome do navio: Camaquã (C6)
Data de afundamento: 21.07.1944

Dados de localização

Local: Recife
UF: PE
País: Brasil
Posição: 30 milhas a Leste do porto de Recife próximo a Ilha de Itamaracá
Latitude: 07° 50. 633′ sul
Longitude: 034° 29. 699′ oeste
Profundidade mínima: 26 metros
Profundidade máxima: 56 metros
Condições atuais: semi-inteira

Dados técnicos

Nacionalidade: brasileira
Ano de fabricação: 1939
Estaleiro: Arsenal da Marinha (PE.)
Armador: Marinha do Braasil
Deslocamento: 552 toneladas
Comprimento: 57 metros
Boca: 7,8 metros
Tipo de embarcação: Caça mina
Material do casco: aço
Carga: material bélico
Propulsão: motor a diesel
Motivo do afundamento: mau tempo


 Provável configuração da Camaquã na época do naufrágio – Ilustração feita a partir das plantas originais, fotos e observações locais

Descrição
Coberta de bombordo, uma das portas já aberta

A Camaquã encontra-se apoiada sobre o bordo de boreste a 55 metros de profundidade, sua condição é excelente, estando apenas a cabine de comando destruída.
A proa está projetada para fora da areia e a âncora ainda está presa ao casco. Na proa, estão perfeitamente alinhados o guincho e o canhão, coberto por muitas redes. Atrás dele, está o que sobrou da cabina de comando, ainda podem ser vistos a base do timão e da bitácula de bússola.
A chaminé não existe mais, porém os orifícios mostram o caminho para a sala de máquinas.
A coberta de bombordo não possui teto e está aberta como um belíssimo corredor na parte superior dos destroços, onde duas portas dão acesso ao interior do navio.

 

Sobre a coberta ainda estão presos diversos equipamentos de navegação. No final desse convés está à base do canhão de popa, porém ele não mais se encontra no local, estando caído no fundo.
No convés de popa existem três estivas que se abrem a porões aparentemente vazios. Sobre o convés estão os encaixes das cargas de profundidade. Também existem dois lançadores laterais em formato de Y. No fundo de areia, estão diversas cargas de profundidades ainda com os tubos de lançamento presos ao corpo da carga e duas rampas de lançamento de popa de cargas de profundidade.
Contornando a popa estão a vista os dois hélices, quilha e leme, totalmente flutuantes e fora da areia.

Atenção e cuidado com o armamento


Espalhadas no fundo as cargas e rampa de lançamento
Lançador lateral (em Y) das cargas de profundidade
Canhão de proa de 101,6 mm.

       
As rampas de popa podiam armazenar e lançar, por gravidade, grande quantidade de cargas de profundidade de vários tipos (Mark 1 a 6); mas a proximidade com o navio, interferia na captação do sinal de retorno do sonar e limitava a capacidade explosiva.

Pressostato de ativação

Os lançadores laterais em Y (Gun Y) afastavam a carga de profundidade da embarcação; melhorando a recepção do sinal do sonar e permitindo o aumento da carga explosiva que chegava a 300 libras.
Na foto acima, é possível ver a corda presa aos 4 pinos de segurança. No lançamento, os pinos eram arrancados e as cargas estavam ativadas.
A detonação da carga ocorria de acordo com a pressão regulada no pressostato (visto no centro da carga de profundidade e na figura ao lado). Na maioria das cargas de profundidade ela poderia ocorrer entre 9 e 300 metros.

 

Durante a Expedição Naufrágios do Brasil em janeiro de 2007 a bordo da embarcação Voyager, investigamos o estado de conservação das cargas-de-profundidade caídas no fundo ao lado da corveta.
Não se conseguiu identificar cargas-de-profundidade no interior dos porões.

 
Todas as cargas apresentavam fissuras e/ou rombos; uma estava completamente aberta, com a carga de TNT exposta. Na foto, o mecanismo de ignição e o pressostato aparecem no centro desta carga
A seta vermelha indica o ponteiro de profundidade de disparo, visível ainda em várias cargas. A seta amarela indica o que restou dos pinos de segurança em algumas cargas.
Na maioria das cargas não existiam sinais dos pinos

Apesar de estarem a mais de 50 anos no fundo do mar as cargas de profundidade são um perigo em potencial para os mergulhadores. Existem diversos registros de material bélico explodindo ao serem manuseados por mergulhadores, de cartuchos de munição a bombas aéreas. Assim, evite manipular esses artefatos, permanecendo a uma distância segura.

      
Proa e guincho de âncora
Coberta de bombordo
Popa com leme e hélices


Abertura das chaminés, logo a frente do canhão de popa
Acesso ao interior da cozinha pela coberta de bombordo
Grande quantidade de peixes se abriga na Corveta

Para alcançar alguns naufrágios precisamos extrapolar os limites não descompressivos e de profundidade do mergulho amador. Nestes casos devemos utilizar ferramentas do chamado Mergulho Técnico. Mais especificamente, misturas gasosas diferentes do ar, como TRIMIX para diminuição da narcose e o NITROX e/ou o OXIGÊNIO para acelerar a descompressão.
Esses objetivos justificam o investimento em treinamento e equipamento, porém é fundamental lembrar, que a experiência vem com o tempo e a prática e que não existem fórmulas prontas e modelos perfeitos. Cada mergulhador deve encontrar seu ponto de equilíbrio.
O equipamento mais importante de um mergulhador é o cérebro.

Para saber Mais – Navios de Guerra Brasileiros

  Agradecimentos a toda a equipe da Atlantis a bordo do Voyager e Enterprise

 

 

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