COMMANDANTE MANOEL LOURENÇO

Sumário

Histórico
Este pequeno cargueiro a vapor de 883 toneladas do Lloyde Brasileiro foi construído em 1889 pelo estaleiro Stettiner Maschinenbau AG ‘Vulcan’ na Alemanha para a empresa E. Tornquist de Buenos Aires, sendo inicialmente batizado como Golondrina. A destinação inicial dessa embarcação era servir a navegação fluvial da linha Montevidéu-Corumbá. Em 1891 foi vendido ao Lloyde Brasileiro e rebatizado como Mercedes, servindo nas linhas da Lagoa dos Patos e sul do Brasil. Em 1922, depois de reformas que o adaptaram para navegar melhor em águas abertas foi rebatizado como Commandante Manoel Lourenço, passando a servir a linha dos pequenos portos do sudeste.

Fazia regularmente a linha Rio de Janeiro, Santos , com escalas na enseada dos Dois Rios na Ilha Grande, Paraty, Villa Bela na Ilha de São Sebastião (Ilha Bela), Ubatuba e São Sebastião.
No dia 14 de março de 1927 deixou o porto do Rio de Janeiro com destino a Santos e escala na Ilha Grande sob o comando do capitão Carlos Brandão Storry. Levava, a seu bordo, além dos 35 tripulantes, 3 passageiros e 34 condenados que deveriam cumprir pena na Colônia Penal Cândido Mendes, localizada na enseada dos Dois Rios no lado oceânico da Ilha Grande.

 

 (L)  (L) Posição do naufrágio, entre as ilhas da
Enseada dos Dois Rios  (L) Commandante Manoel Lourenço

 

 

O Naufrágio
No dia 16 de março, estava ancorado, em sua primeira escala, próximo às duas ilhotas que se localizam no meio da enseada dos Dois Rios. Deveria descarregar cerca de 300 volumes de suprimentos e os 34 presos que iriam cumprir pena na unidade correcional.
Durante os trabalhos de descarga, um fortíssimo temporal se abateu rapidamente sobre todo o litoral do Rio de Janeiro. O forte vento sudoeste, que entra sem proteção na enseada, começou a balançar o navio, que não teve tempo de procurar abrigo melhor. Após tentativas de safar a embarcação, na madrugada do dia 17, o Commandante Manoel Lourenço desgarrou, encalhou e finalmente foi lançado por cima da laje, entre as ilhas no meio do Saco dos Dois Rios, afundando e permanecendo adernado.

O naufrágio causou a morte de seu 1º piloto José Pereira Dias e de um taifeiro. Agora o navio era tão prisioneiro quanto seus passageiros.
Nesta enseada funcionava o instituto penal da Ilha Grande e por isso as cartas náuticas assinalavam área proibida a embarcações.
Em 1994, com a desativação do presídio, a restrição estava acabada. Era hora portanto, de conceder liberdade a este naufrágio. No primeiro final de semana livre, seguimos em direção ao Saco dos Dois Rios. Uma análise rápida das condições do acidente, um mergulho em apneia e localizávamos os destroços entre as duas pequenas ilhas da enseada.

Parece estranho pensar que um navio afundado tenha permanecido recluso durante tanto tempo, assim como os presidiários que transportava. No final, presídio e navio, unidos em 1927 pela história, tiveram o mesmo triste destino, tornarem-se ruínas…
Por tudo isso, venha mergulhar no Commandante Manoel Lourenço; depois de 69 anos de solitária, o prisioneiro de bom comportamento ganha a liberdade e agradece a visita.

 

 

 

Dados básicos

Nome do navio: Commandante Manoel Lourenço
Data de afundamento: 17.03.1927

Dados de localização

Local: Ilha Grande
UF: RJ
País: Brasil
Posição: Entre as ilhas da enseada dos Dois Rios
Latitude: 23° 11′ 01.91″ sul
Longitude: 044° 10′ 53.06″ oeste
Profundidade mínima: 06 metros
Profundidade máxima: 13 metros
Condições atuais: desmantelado

Dados técnicos

Nacionalidade: brasileira
Ano de fabricação: 1889
Estaleiro: Stettiner Maschinenbau AG ‘Vulcan’
Armador: Lloyd Brasilieiro
Deslocamento: 883 toneladas
Comprimento: 60,5 metros
Boca: 9,6 metros
Tipo de embarcação: vapor
Material do casco: aço
Carga: geral e passageiros
Propulsão: vapor
Motivo do afundamento: mau tempo

Descrição
A popa do navio encontra-se junto a ilha da Armação mais externa da enseada, com a laje boiada à bombordo e a proa está junto ao costão da ilha mais interna. Na popa podem ser vistos os dois grandes eixos, em cada um estão os pés de galinha e o corpo dos hélices; pelo menos, duas pás de cada hélice foram cortadas, provavelmente pelos internos da Colônia Penal, que, por mais impressionante que possa parecer, tinham autorização para retirar metais nobres dos destroços utilizando explosivos.

A falta de metais durante o período da 2ª guerra fez com que o governo criasse a Comissão de Metalurgia que concedeu autorização para a exploração dos metais de vários naufrágios pelo Brasil como: Principe de Asturias (SP), Therezina (SP), Velasquez (SP), Aymoré (SP), Aquidabã (RJ), São Paulo (RJ), Uranus (RJ), Pallas (SC), Santa Catharina (BA), Eleni Stathatus (FN) entre outros.
Em volta dos eixos estão espalhadas pequenas peças e outros destroços, que pelo volume, indica ter o navio sido bem sucateado.

Seguindo-se os eixos são encontradas diversas partes do costado, casco e estruturas; muitos pedaços de ferro estão espalhados entorno dos eixos.
No final dos eixos está a máquina do navio (parece tratar-se de um Triple Expansion Engine). À frente das máquinas, na parte mais funda e abrgada dos destroços está um guincho, ao seu lado existe um cabeço de amarração.
Continuando em frente chega-se as duas caldeiras, em estado bastante precário, à frente das caldeiras, podem ser percebidos pedaços de costado, correntes, seções de mastro e cavername, num fundo já mais plano e com areia.


(L) Uma das duas caldeiras do navio  (L)   (L) Visão do interior da caldeira

(L)O leme, já solto dos destroços (L) O corpo do hélice com as pás cortadas (L)Restos de uma das caldeiras (L) Um dos eixos propulsores (L) Biela das máquinas a vapor (L) O que restou do hélice cortado

A Colônia Penal Cândido Mendes
Colônia Penal da Ilha Grande um dos mais notórios e hediondos presídios do Brasil. Ficou conhecido como Ilha do Diabo e encarcerou alguns dos mais perigosos e famosos bandidos, políticos e dissidentes do sistema como: Madame Satã, Graciliano Ramos, Flores da Cunha, grandes bicheiros do Rio de Janeiro, os primeiros grandes traficantes do Rio como Escadinha, que fugiu do local espetacularmente de helicóptero, entre outros. Em 1994, já quase inoperante foi desativado.
As notícias do início da década de 1990 davam conta da intenção do governo do estado em desmontar o presídio para a criação no local de um grande resort de uma rede internacional local.
Logo que o presídio foi desmontado a pressão na imprensa e da população acabou por cancelar os projetos do empreendimento.
O que restou do antigo presídio da Ilha Grande e instalações da vila dos trabalhadores do presídio está abertoà visitação e vale muito a pena o passeio no intervalo de superfície entre dois mergulhos no Commandante.

(L) Muitas fotos documentam a vida no cárcere.
Cujo um dos detentos foi, naturalmente, Graciliano Ramos (L) As ruinas dos antigos pavilhões, dinamitadas em 1994 (L) Utensílios e reproduções da vida no presídio (L) Entrada do museu no antigo presídio (L) Desembarque na linda praia dos Dois Rios.
Ao fundo as duas ilhotas que cercam o naufrágio (L) Peças dos guardas e prisioneiros

 

A história completa

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