Sumário
A pesquisa de naufrágios se faz, no meio de muito esforço e persistência, de pequenos momentos de sorte e sucesso.
No meio da madrugada de ontem (05.12.2013), realizando pesquisas de outros naufrágios, fui presenteado com a descoberta
da identidade de um naufrágio da costa do Ceará, que era conhecido apenas como Remédios e que muitos achavam,
inclusive eu, tratar-se de um nome popular, batizado em função de sua carga.
Na verdade, esse sempre foi parte do nome do navio, em referência ao forte de Fernando de Noronha, o que é um fato curioso,
dessa vez só havia se perdido uma parte da identidade. Mas isso, foi suficiente para manter a história de um navio e naufrágio
bem recente longe de nosso conhecimento por tanto tempo. O mais legal é que sua história está ligada a outro de nossos naufrágios
o Gonçalo Coelho e assim também poderemos completar a história deste outro navio.
Agora, mais um mistério terminou, o nome do navio: Forte dos Remédios.
Após a 2ª Guerra Mundial uma grande quantidade de embarcações utilizadas nos desembarques nas praias foi transformada em navios de pesca ou cargueiros. Os navios americanos deste tipo mais novos seguiram servindo a US Navy até o final da guerra do Vietna. Com o término deste conflito, muitos deles seguiram o mesmo destino e foram reformados e vendidos a países de menor capacidade econômica como o Brasil.
No início da década de 80, a Ilha de Fernando de Noronha, ainda sob administração das Forças Armadas, começou a apresentar grande desenvolvimento turístico e a população da ilha atingiu cerca de 1500 habitantes. Como a ilha não produzia nenhum dos recursos que seus habitantes precisavam, era necessário manter-se uma linha de abastecimento. Ela era feita por aviões da FAB do tipo Hércules e Búfalos. Porém com o aumento das necessidades esse transporte passou a tornar-se caro e insuficiente.
Para solucionar o problema, o Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), decidiu comprar nos Estados Unidos dois navios do tipo LCT (Landing Craft Tank). A ideia era desembarcar diretamente na praia os produtos, já que Fernando de Noronha, na época, não possuía um porto para desembarque.
O EMFA comprou em um estaleiro da Carolina do Sul nos Estados Unidos duas embarcações, batizadas com nomes referentes ao arquipélago de Fernando de Noronha. Elas eram o Forte dos Remédios de 217 toneladas, comprado por US$ 225.000 e o Gonçalo Coelho de 600 toneladas, adquirido por US$ 453.000. As duas embarcações eram velhas, já tinham passado por reformas, mas ainda precisavam de reformas. Segundo o EMFA era a opção barata para suprir uma necessidade emergencial do arquipélago.
O Gonçalo Coelho chegou primeiro e, apesar dos graves problemas, fez duas viagens ao arquipélago, antes de ser colocado em Natal para reforma geral.
No início de novembro de 1986, o Forte dos Remédios viajava dos Estados Unidos para o Brasil, onde deveria passar por reparos antes de assumir o transporte de carga para Fernando de Noronha, nesse caminho, já havia quebrado e passado por consertos.
Quando cruzava o litoral do Ceará, a cerca de 8 quilômetros da costa, perto do município do Aracati, encontrou mar grosso, com muito vento e ondulação. As bombas do navio já apresentavam muitos problemas e ele começou a fazer água.
As 3 horas da madrugada, com o aumento do volume de água que entrava, a tripulação percebeu que o navio afundaria e passou a emitir pedidos de socorro. As autoridades da Marinha e da Aeronáutica articularam um plano de resgate por helicóptero dos 8 tripulantes, que ao serem localizados, já se encontravam em balsas. O navio afundou rapidamente.
Segundo o Ministério da Marinha, embora o resgate fosse possível, o custo da operação e das reformas necessárias para consertar o navio, não compensariam o valor da embarcação. Assim, o EMFA recebeu o seguro da embarcação e a abandonou a 15 metros onde o navio havia assentado após o sinistro.
LCT (Landing Craft Tank) Tipo mk5
Navio de desembarque de tanques
Dados básicos
Dados de localização
Dados técnicos
Autores
Augusto Cesar Bastos, Luciano Andrade e Rodrigo Bricks
setembro 2011
Na frente de Uruaú, depois do naufrágio do Siqueira Campos, se encontra a sombra da barcaça quando a água está limpa. Bela imagem, muito peixes, moreias, tubarões lixa, xiras, camurupins, lagostas, há mais ou menos 16 metros de distância.
Repousando no fundo intacto na forma se encontra o Remédios, tem uma inscrição em alto relevo na popa e nas laterais da proa, escrita CYPRESS US. Army, e pelas suas dimensões e características parece ter sido produzida nos Estados Unidos, provavelmente ainda na Segunda Guerra. E mais, por que esta barcaça estava ali? Quem era o proprietário?
Nenhum registro na Capitania, pelo conhecido tinha ocorrido por volta de 1986 e se chamava Remédios, pela carga de remédios que levava.
Se fala também, que era das forças armadas, ou estava fretada, o fato é que até hoje não se tem uma certeza sobre não só a origem como o que levou ao seu afundamento.
É uma pena que em um naufrágio tão recente não se tenha mais informações, talvez com este artigo e já pedindo a quem possa contribuir, entre em contato. Se sabe muito pouco sobre o acidente.
(L) Entrada da cabine de comando
(L) Armário interno
(L) Rampa de proa
Portanto vamos tentar fazer um levantamento desta história, para poder entender o que de fato aconteceu, o que poderia ter levado aquela embarcação ao fundo do mar. Outra tese, era que a balsa estava sendo rebocada e incendiou-se.
Não da para notar no mergulho se houve incêndio, está tubo coberto por vida marinha, mas em perfeito estado de equilíbrio.
Um bom trabalho do Luciano Andrade na produção dos croquis, a segurança e tranquilidade que o Rodrigo Bricks trouxe nas penetrações nos navios,
possibilitaram mergulhos técnicos.
Este mapa é apenas para finalidades informacionais e recreativas.
Os tamanhos e profundidades são aproximados.
Qualquer número ou posição está sujeita a alterações.
Não assumimos qualquer responsabilidade por discrepâncias e/ou omissões derivadas do uso deste mapa.
(L) Vistas do grande guincho localizado na popa, importante peça em um LCT, que lançava a âncora, que também ficava na popa
Assim, após o desembarque, o navio poderia ser puxado de ré, no momento de deixar a praia de volta à águas mais profundas
(L)
Conheça um pouco mais do Naufrágio dos Remédios
Video Youbube – Rampa frontal
Vídeo Youbube – Convés e Cabine de comando
Vídeo Youtube – Casaria de popa I
Vídeo Youtube – Casaria de popa II
Vídeo Youtube – Guincho de popa
Agradecimentos