Construído na França pelo industrial Henríque Lage para o serviço de cabotagem. O Itapagé era dos mais novos navios da Companhia Nacional de Navegação Costeira, datando sua construção de 1926. Era comandado pelo Capitão-de-Longo-Curso Antônio da Barra.
O paquete Itapagé
Em setembro, em pleno período da segunda guerra, o Itapagé navegava a escoteiro do Rio de Janeiro para Recife. No dia 26, o mar estava um tanto agitado em virtude do vento que soprava forte, mas a viagem seguia tranquila com o navio a sete ou oito milhas do litoral.
Às 13:50 horas, quando o navio passava na altura de Lagoa Azeda, foi repentinamente atingido a boreste por dois torpedos lançados pelo submarino alemão U-161, comandado pelo Capitão Achilles, que já vinha atacando navios de bandeira estrangeira em nossa costa.
O Itapagé foi atingido quase simultaneamente a boreste na altura dos porões 1 e 2, adernando para o mesmo lado da explosão e afundando em quatro minutos.
A confusão e o pânico se estabeleceram abordo; os tripulantes e passageiros não conseguiram correr para as baleeiras e apenas duas foram lançadas.
O navio transportava caixas de cerveja e o com a explosão milhares de cacos de vidros foram arremessados em todas as direções. Muitos náufragos flutuavam apoiados em pedaços de escombros em meio ao fogo.
Dados básicos
Nome do navio: Itapagé
Data de afundamento: 26 .09.1943
Dados de localização
Local: Barra de São MIguel
UF: AL
País: Brasil
Posição: 8 milhas da costa da barra de São Miguel
Latitude: 10º 04′.654 sul
Longitude: 035º 54′. 490 oeste
Profundidade mínima: 21 metros
Profundidade máxima: 27 metros
Condições atuais: desmantelado
Dados técnicos
Nacionalidade: braasileira
Ano de fabricação: 1927
Estaleiro: Chantier de Normandie (França).
Armador: Companhia Nacional de Navegação Costeira
Deslocamento: 4965 Toneladas
Comprimento: 119,7 metros
Boca: 15,8 metros
Tipo de embarcação: Paquete
Material do casco: aço
Carga: Passageiros, Tonéis de ácido muriático e óleo disel, duas balsas, 2000 caixas de cerveja, 2 caminhões, 30.000 panelinhas utilizadas na extração da borracha.
Propulsão: diesel e vapor
Motivo do afundamento: Torpedeamento
Peças do Itapagé no museu de Alagoas
Segundo os sobreviventes, entre as ondas emergiu e submergiu diversas vezes a silhueta do submarino agressor. Na ponte, marinheiros alemães, gargalhavam enquanto fotografavam o local da tragédia; depois o submarino navegou para o leste.
Os náufragos chegaram as praias de Jequiá e Lagoa Azeda onde foram acolhidos pelos moradores. Quando a notícia do torpedeamento foi transmitida pelo rádio, partiram de São Miguel dos Campos, recursos e médicos do exército para medicar os feridos.
No dia seguinte, o U-161 foi detectado na superfície por um avião norte-americano que o bombardeou, nunca mais se tendo notícia dele.
Dos 70 tripulantes do Itapagé, 18 pereceram e dos 36 passageiros, quatro desapareceram.
Relato de um tripulante
Navegava o Itapagé desenvolvendo boa marcha avistando as barreiras de São Miguel dos Campos. Como não estava de serviço recolhi-me ao camarote para descansar quando, por volta das 15:30 horas, ouvi uma pancada forte. No primeiro momento pensei ter sido uma das máquinas que tivesse quebrado. Saltei da cama e corri para a casa de máquinas.
Ao abrir a porta de meu camarote deparei-me de imediato com um quadro triste.
As águas já começavam a cobrir o convés e invadir os camarotes e a buzina do navio soava sem parar. Eis que a seguir outro torpedo é lançado com certa pontaria, atirando ao mar todo o carregamento que vinha nos porões.
Parte da buzina do Itapagé
O convés do navio ficou intransitável, não só pelas águas que o invadiam como também pelo fato de terem explodido os tonéis de ácido muriático e óleo combustível que levava. Quando me dei conta do que se passava não pensei duas vezes! Atirei-me ao mar e, nadando desesperadamente, procurei afastar-me o mais possível do navio, sem sequer lembrar-me de procurar uma balsa, uma baleeira ou mesmo uma tábua onde pudesse me segurar! A única coisa que me lembrei, foi de procurar fugir do vácuo que é produzido pela imersão do navio e que poderia arrastar-me para o fundo do mar. Após muito tempo avistei uma baleeira, a de número sete, que procurava recolher sobreviventes e navegava em direção ao continente.”
Sobre o submarino: “O miserável do submarino não se satisfez em nos torpedear. Veio à tona para confirmar seu estrago. Estávamos bordejando á procura de mais vítimas, quando ouvimos um barulho surdo e avistamos um vulto sinistro que emergia das águas lentamente. Surgiram na torre três homens muito alvos, vestidos com calça escura e peito nu. Um deles usava gorro de oficial. Bateram várias fotos, se divertiram com a desgraça dos náufragos, voltaram para o interior do submarino e navegaram para alto mar.”
Descrição
O naufrágio está no fundo adernado para boreste. A proa está apoiada pela quilha. A partir do castelo de proa, com os escovéns e cabeços de amarração segue-se o guincho de proa, por onde pode ser feita uma penetração. O navio está partido no primeiro porão e espalhadas pela areia há um mar de garrafas de cerveja e perfume e muitos pneus.
Interior da proa do Itapagé Abandonado caído sobre a areia, jaz um dos turcos de boreste que baixaram um dos poucos botes salva vidas lançados ao mar. No pânico, apenas duas baleeiras foram utilizadas e muitos náufragos tiveram quase agarrar a caixotes de madeira e outros destroços que flutuavam no mar agitado
Seguindo em direção ao meio do navio passamos pelo primeiro conjunto de mastros, formado por cinco grandes estruturas. Abaixo delas está o que sobrou do chassi e rodas de um caminhão.
Existem muitos compartimentos, alguns virados de cabeça para baixo, onde estão vários banheiros.
Proa adernada para o lado do impacto Mar de garrafas do porão nº 1 Rodas e eixo de um dos caminhões debaixo do 1º mastro
No centro do navio são encontrados dois grandes motores diesel, com mais de 5 metros de altura e formando um corredor de cerca de 8 metros entre eles. Na frente deles estão duas caldeiras de cerca de 3 metros de diâmetro. O mais surpreendente é a presença de máquinas a vapor do tipo Triple Expansion Engine, localizada ao lado de bombordo dos motores diesel.
Seguindo-se em direção a popa estão parte dos dois eixos e o segundo conjunto de mastros, estes espalhados em diversas direções. A popa está quebrada e bastante adernada. Nela pode ser feita uma penetração bastante longa. A quilha com leme estão expostos a bombordo, mas o hélice foi retirado. Ainda na popa, existem na areia mais garrafas e outros pneus.
O naufrágio é muito grande e muito difícil de ser coberto com calma em um único mergulho.
Máquinas a vapor de tripla expansão A surpresa é encontrar no mesmo naufrágio máquinas a vapor ao lado dos motores diesel e da caldeiras
Os dois enormes motores principais a diesel
Tanques de óleo diesel ao lado das máquinas Popa emborcada Um dos vários banheiros