Visita em Portsmounth
HMS Warrior
Portsmouth Historic Dockyard – Portsmouth, Inglaterra
Portsmouth Historic Dockyard
Saindo de Londres de trem, a partir da estação Waterloo, chega-se confortavelmente em uma hora e meia a cidade de Portsmouth no sul da Inglaterra. Da saída da pequena estação já pode ser visto ancorado no porto o belíssimo veleiro HMS Warrior.
Siga tranquilamente a pé em sua direção e você encontrara em menos de 10 minutos a entrada do histórico estaleiro da cidade, onde hoje funciona o Portsmouth Historic Dockyard, completo e incrível centro de turismo.
Além do HMS Warrior ainda existem muitas outras atrações para os amantes da história náutica, entre elas o HMS Victoy um navio a vela e vapor de combate, que em seu lançamento era um dos mais bem armados do planeta, o Museu do Mary Rose, captânia do rei Henry VIII que teve seus restos retirados do fundo do mar. A canhoneira HMS M.33, último remanescente da batalha de Gallipoli na Turquia (1915 ), o Submarino HMS Alliance, além de dois museus com temas náuticos, lojinhas e outras facilidades.
Um dia inteiro em Portsmouth é pouco para olhar com calma todos os detalhes dessas atrações, por isso, se não estiver planejando dormir na cidade, se programe para chegar cedo e marque a volta para depois das 18:00 horas.
Ao lado do porto existe um muito bem montado shopping estilo outlet, com algumas da mais conhecidas marcas além de restaurante e um prédio com vista panorâmica ao estilo Dubai.
O Navio HMS Warrior (HMS – Her/His Majesty’s Ship – Navio de Sua Majestade)

Entre 1853 e 1856 na região dos Bálcãs e da península da Crimeia no Mar Negro ocorreu um embate entre o Império Russo, com pretensões expansionista e uma aliança entre Reino Unido, França, Reino da Sardenha, império Otomano (Turquia) e Império Austríaco.
Esse conflito ficou conhecido como Guerra da Crimeia e seus combates mostraram a ineficácia de frotas com casco de madeira e fortificações de pedra contra navios encouraçados com canhões mais poderosos lançando projéteis explosivos.
O conflito reiniciou uma disputa entre as super potências da época, França e Grã-Bretanha, pelo domínio nos mares. Desta vez, as marinhas utilizariam navios encouraçados, com propulsão mista vela e vapor, impulsionados por hélices e armados com canhões mais precisos, de maior alcance e carga mais rápida.
O HMS Warrior e seu irmão HMS Black Prince foram exemplos dessa nova fase. Eram fragatas encouraçadas de propulsão mista e 40 canhões, construídos pela Marinha Real Inglesa entre 1859 e 1861 para contrapor o lançamento em 1859 do navio Gloire e dois outros sister ships pela França.
Os construtores basearam o desenho do casco na fragata de madeira HMS Mersey, adaptando o projeto para construção do casco de ferro e acrescentaram uma blindagem que protegia a maioria das posições de tiro e áreas vitais do navio. Com cerca de 127 metros de comprimento e 9.200 toneladas o Warrior era mais veloz, mais bem protegido e armado que seus rivais e foi considerado, no período de seu lançamento, o navio de guerra mais poderoso do mundo.
O Warrior inaugurou uma nova era na construção naval e representa um período de enorme velocidade na evolução das frotas militares.
DADOS TÉCNICOS
Tipo de embarcação: Misto – veleiro / vapor – Nacionalidade: inglesa
Estaleiro: Thames Ironworks & Shipbuilding Co, Blackwall, Londres – Dimensões: comprimento: 127,5 m. – boca: 17,75 m. – calado: 8,8 m.
Deslocamento: 9.210 toneladas
Material do casco: 2,5 cm de ferro, 46 cm madeira e couraça de 11,4 cm ferro
Propulsão: três mastros, o principal com 66,00 metros, mais o gurupés.
Propulsão: máquinas horizontal trunk Penn, com 2 cilindros (5,772 hP) – 10 caldeiras quadradas
Velame: área vélica total de 3.488 m²
Velocidade a vela: 13 nós – Velocidade a vapor: 14.4 nós – Velocidade combinada: 17.2 nós
Armamento (1861): distribuição dos 64 canhões
* 26 (31 Kg) Smooth Bore Muzzle Loading – 10 (50 kg) Armstrong Rifled Breech Loading – 04 (18 Kg) Armstrong Rifled Breech
Tripulação (1863): mais de 706 homens, entre marinheiros e um grupamento de fuzileiros
Em maio de 1859 a construção do HMS Warrior foi encomendada ao estaleiro Thames Ironworks and Shipbuilding Company em Blackwall, Londres. Seu lançamento aconteceu em 29 de dezembro de 1860 e foi comissionado pela Royal Navy em agosto de 1861 para conduzir seus testes no mar.
O navio foi inicialmente designado para o Esquadrão do Canal da Mancha sob o comando do Capitão Arthur Cochrane. Participando a partir daí de diversas campanhas de proteção, bloqueio, patrulha e coação do império Inglês
A rápida evolução do design de navios, máquinas a vapor e armamentos de guerra, fez com que o Warrior começasse a se tornar obsoleto apenas dez anos depois de ter sido lançado. Em 1871, a Marinha Real inglesa encomendou o HMS Devastation, seu primeiro navio-captânia sem mastros e com propulsão exclusivamente a vapor.
Em abril de 1875, o navio foi passado para a Reserva, servindo como guarda em Portland.
Em abril de 1881, seus mastros estavam podres. Sem possibilidade economicamente viável de substituição, o navio foi desativado e os mastros foram removidos.
Em 1887 o Warrior foi reclassificado como um cruzador blindado de primeira classe.
Em 1894 foi considerada pelo almirantado britânico a realização de uma modernização, mas, devido ao alto custo, o projeto foi abandonado e em 1900 o navio foi retirado do serviço ativo.
Entre maio de 1901 a julho de 1902 foi utilizado como depósito de carga e depois subsequentemente como navio-armazém, já com o nome Vernon III, navio gerador e navio escola para treinamento.
Em 1º de outubro de 1923 o Vernon III retomou seu nome Warrior original, que havia sido alterado para que um porta aviões pudesse receber o nome de HMS Warrior, e a Marinha Real declarou sua baixa seis meses depois.
Na proa existiam acomodações de oficiais, nas quais também existiam canhões. A figura de proa teve de ser refeita durante o restauro
Após a Primeira Guerra Mundial o desmantelamento em massa de navios velhos, incapacitados ou obsoletos, principalmente de ferro, provocou uma queda na demanda por sucata de ferro o que retardou o desmanche do Warrior.
Em abril de 1925 a Marinha Inglesa tentou vender o Warrior, mas como ainda não havia interesse comercial em transformar o navio em sucata ele permaneceu ancorado em Portsmouth por mais quatro anos.
Em outubro de 1927 foi adaptado para funcionar como um molhe de atracação.
Em março de 1929, o casco foi rebocado para Pembroke Dock, no País de Gales, onde serviu como um molhe flutuante de petróleo, permanecendo por cinquenta anos em no porto de Llanion Covese, próximo a um depósito de petróleo. Para cumprir esse serviço, a Marinha cobriu o convés superior com uma espessa camada de concreto.
Durante a Segunda Guerra Mundial serviu como base para minas terrestres e em agosto de 1942, foi rebatizada como Oil Fuel Hulk C77 para que seu nome fosse utilizado por um novo porta aviões.
A proa com o mastro gurupés e umas das 4 âncoras almirantado de 5.6 toneladas
Os dois sistemas de lemes e bússolas este no convés superior
Ponte de comando passando sobre o convés como mastro grande
Mastro de popa com traquetes, caranguejeira e a gávea
A Preservação
Em 1968, o duque de Edimburgo interessado na preservação de navios históricos iniciou uma discussão para a obter recursos para a restauração do Warrior e de outras embarcações. Um ano depois foi criada a fundação The Maritime Trust para arrecadar fundos e se tornar uma das principais entidades patrocinadoras para salvar o Warrior e outros navios antigos com importância na história marítima da Grã Bretanha. Em 1979 a Marinha Real doou o navio e em 1983 o fundo de preservação The Maritime Trust adquiriu a propriedade da embarcação.
A restauração
Em agosto de 1979, Warrior iniciou sua jornada de 1.300 quilômetros até a Doca do Carvão, em Hartlepool, onde começou o projeto de restauração que teve um custo aproximado de 9 milhões de libras, financiado em grande parte pelo Manifold Trust.
Em 1985, um novo ancoradouro, ao lado da estação ferroviária de Portsmouth Harbour, foi dragado e um novo cais construído para abrigar definitivamente o HMS Warrior. O navio partiu de Hartlepool em 12 de junho de 1987 sob o comando do capitão Collin Allen e durante quatro dias foi rebocado por 390 milhas (630 km) até seu ancoradouro atual.
Como museu o Warrior foi inaugurado em 27 de julho de 1987 e atualmente é uma das principais atrações do Portsmouth Historic Dockyard, complexo de museus e navios históricos da cidade de Portsmouth.
Diversas posições de canhão. Duas pontes, a de navegação na proa e a de comando na popa
Vista para a proa e 1º mastro no convés superior. No fundo o mastro Gurupés
Um dos 10 canhões Armstrong Rifled Breech Loading de 50 Kg. Granadas explosivas (branca e laranja)
Um dos 10 canhões Armstrong Rifled Breech Loading de 18 Kg. Granadas maciças (cinza e preta)
Vista do convés da chaminé para a proa. As chaminés eram telescópicas para melhorar a propulsão vélica
Vista do convés da chaminé para a popa com visão da ponte de comando atravessando o convés e dos cachimbos de ventilação
Vista do convés de meia nau da ponte de comando
Mesas e redes dos marinheiros entre os canhões da principal bateria do navio
Atenção das correntes das 4 âncoras (total de 121 toneladas de correntes)
O guincho de cabrestante, ainda manuais, para erguimento das âncoras
Saída das correntes pelo escovém. A esquerda na diagonal, o mastro gurupés
Principal bateria de canhões no deck principal com 26 Smooth Bore Muzzle Loading (31 Kg)
Ligação do deck superior com o deck principal. A direita (branca) bomba d’água
Compartimento de popa com canhões extras. Muitos suportes de armas por toda a embarcação
Protegido abaixo do nível da água muita munição e suprimentos estocadas
Os oficiais mais graduados possuiam camarotes separados
Alojamento de oficiais na proa. Camas de balanço
Equipamento de escafandria completo, com trajes e bombas
Os dois sistemas de lemes e bússolas – convés principal
Salões confortáveis na popa para os oficiais de alta patente
Luxuosas salas de refeição para os oficiais de alta patente
Encouraçado
Nesses primeiros navios couraçados, a cinta protetora (couraça) era formada por 114 centímetro de ferro forjado apoiado por 457 mm de teca (madeira) e baseado em testes “era praticamente invulnerável ao armamento da época”.
A armadura cobria os 64,9 metros do navio e estendia-se por 4,9 metros acima da linha d’água e 1,8 metro abaixo dela.
As extremidades do navio estavam desprotegidas, mas o navio foi subdividido em compartimentos estanques com portas a prova d’água que minimizavam as possíveis inundações.
O corte em parte do casco permite ver a couraça de ferro de 114 mm (camada escura) e no meio 45 cm de madeira (teca)
Espaço entre dois compartimentos estanques, isolando as seções do navio para evitar alagamento
Separando os compartimentos estanques, portas a prova d’água com fechamento automático
Armamento
Os tipos e calibres dos 40 canhões originais sofreram uma série de modificações ao longo da construção do navio e nos anos subsequentes de serviço do navio. As mudanças aconteceram resposta da rápida evolução da tecnologia do armamento , munições e proteção dos navios.
Os canhões de vários calibres podiam ser municiados com projéteis sólidos, perfurantes, explosivos, balas de palanqueta ou preenchidos de ferro derretido com o objetivo de incendiar as instalações inimigas.
Em seus porões, abaixo do nível da água, podiam ser estocadas mais de 20 toneladas de pólvora.
Apesar de alguns acidentes com os canhões de carregamento traseiro o navio tornou-se uma grande bateria naval e apoiou a hegemonia Britânica nos mares.
O deck principal abriga o maior número de canhões, na direita munições maciças são estocadas. Redes e mesas se alojam entre os canhões
Canhões Armstrong de carga pela traseira. A culatra é atarrachável e vários apresentaram problemas
Régua de ajuste de tiro e sistema de disparo do canhão
Balas ocas que eram carregadas com ferro fundido para incendiar o navio inimigo
As granadas ficavam estocadas na parte mais baixa do navio e chegavam aos decks de canhões por elevadores
Muitos mosquetes de tipos diferentes, estocados por todo o navio armavam o grupamento de fuzileiros a bordo
Por todo espaço livre espadas e pistolas estão armazenadas para dar suporte a combates a curta distância no caso de abordagem do navio
Revólveres cuidadosamente estocados em colunas
próximo aos bordos da embarcação
Propulsão
O Warrior tinha um motor a vapor de dois cilindros, fabricado por John Penn and Sons, impulsionando uma única hélice, utilizava vapor fornecido por 10 caldeiras retangulares que queimavam cerca de 1 tonelada por hora, abastecidas por 853 toneladas de carvão transportadas a bordo, o suficiente para navegar a vapor por 2.100 km ou 3,5 dias em velocidade máxima sem reabastecimento.
Com uma área de vela de 4.497 m2 alcançou 13 nós (24 km). Para melhor navegação sua hélice de 26 toneladas podia ser erguida para fora d’água e as chaminés eram telescópicos, podendo ser baixadas para diminuir a resistência do ar. Utilizando propulsão mista o navio chegou a 17,5 nós (32,4 km / h).
Toneladas de pólvora, munição e carvão estocados
Máquinas a vapor trunk horizontal com 2 cilindros (5,772 hp)
Telégrafo de máquinas junto as máquinas a vapor
Dois elevadores de carvão permitiam abastecer as duas colunas de 5 caldeiras retangulares
As caldeiras originais foram removidas, durante a restauração foram moldadas réplicas muito bem feitas
Dez caldeiras retangulares em duas linhas abasteciam com uma tonelada de carvão por hora as máquinas a vapor de dois cilindros.
As cinzas eram removidas por elevadores e lançadas pelo bordo do navio. Tampa de alimentação das caldeiras e válvulas de alívio e nível de água
No Brasil
Embora nas águas do Brasil tenham ocorrido combates navais, principalmente entre portugueses e holandeses durante o período de colonização, não temos naufrágios do porte do HMS Warrior, mas em muitos naufrágios encontramos peças semelhantes a esse navio como os motores e caldeiras retangulares do Queimado.