Destino: naufrágio

Penetração

Conhecer o interior de um naufrágio é uma senhora experiência
que exige planejamento, equipamento e muito cuidado


 
Revista Mergulho, Ano XI, Nº 137 - Dezembro/2007
Texto: Maurício Carvalho
 

A algumas edições atrás, a coluna valorizava o mergulho em torno dos naufrágios, com o principal objetivo de identificar as partes do navio. Ela tentava quebrar um pouco a visão equivocada de que todo mergulhador de naufrágio deve gostar e praticar penetrações entre os destroços, de preferência em passagens estreitas e escuras.
Alguns colegas me questionaram se não gosto de circular entre as passagens de um naufrágio inteiro. A resposta é sim, naturalmente. Mas em muitos mergulhos, já deixei de realizar penetrações por não estar equipado adequadamente ou ter planejado antecipadamente o procedimento dois dos elementos-chave do sucesso de um mergulho.
 
Planejando a atividade
O primeiro passo para o mergulhador que deseja penetrar em naufrágios é decidir-se pelo procedimento: a configuração de seu equipamento poderá apresentar variações para está técnica. Não tem cabimento decidir explorar um naufrágio por dentro durante um mergulho recreativo, com equipamento convencional, sem planejamento nem acertos com seu dupla.
Alguns equipamentos como lanternas extras, carretilhas e mangueiras longas, muitas vezes só são utilizados em penetrações. Por isso, o mergulhador que gosta de um naufrágio deve portar esses equipamentos pelo menos no barco.
Ao equipar-se o cuidado com o posicionamento das mangueiras e dos acessórios deve ser uma constante - e em naufrágios, então, mais ainda. Cada uma das mangueiras deve estar protegida de cortes e acessórios como lanternas, carretilhas devem estar corretamente fixadas junto ao corpo, para que o mergulhador esteja compacto.
 

Com o equipamento configurado corretamente para a penetração o mergulhador verificará se as condições do naufrágio estão dentro do domínio de suas técnicas. Isso inclui, distâncias do trajeto, autonomia de ar, condições de profundidade, tipo de gás, temperatura da água e visibilidade.
Também deve levar em consideração que, no meio da penetração, não poderá simplesmente abortar o mergulho. Antes de subir, precisará voltar ao exterior, isso poderá obrigá-lo - já com desconforto - a enfrentar novas dificuldades, como a água turva pelo sedimento, desorientação no caminho e passagens estreitas.

 

Naufrágio do Taurus

Estratégia de Penetração

Todo o planejamento de naufrágios deve começar com cuidadosa pesquisa sobre o naufrágio e os destroços. Lembre-se que sua segurança está em jogo. Dê preferência a fontes confiáveis: um instrutor ou mergulhador competente, com comprovada experiência no naufrágio específico que se pretende visitar.
Fuja de websites bonitinhos, mas onde não existe a confiança no conhecimento do autor sobre o navio apresentado. Fotos feitas pelo autor e croquis do naufrágio são provas seguras de que quem apresenta as dicas conhece realmente o local.
No planejamento, duas possibilidades se apresentam. Se o mergulhador tiver conhecimento prévio do naufrágio e seus percursos, bastará decidir-se pelo trajeto, acertando com o dupla quem será o guia, os pontos de entrada e saída, profundidades, tempo de fundo, dificuldades no trajeto e protocolos de emergência.
Um croqui detalhado do naufrágio, indicando o trajeto, servirá para evitar mal- entendidos no planejamento
Mas, se
os mergulhadores não conhecem o naufrágio, a preparação deve ser mais cuidadosa. Ao chegar ao fundo, deverão circular para identificar as condições estruturais do navio nos destroços, concluindo se existe segurança para a penetração ou não.
Dominar técnicas de análise das estruturas inclui verificar estabilidade, contigüidade, alinhamento e conservação - fundamentais aos mergulhadores que pretendem penetrar nos destroços .

 
 
Durante a exploração inicial, identifique os pontos de luz e pontos de penetração, lembrando que todo ponto de penetração é um ponto de luz mas o contrário não é verdadeiro. Não conclua que a claridade vista no final de um compartimento é uma abertura suficiente para sua saída, optando indevidamente por entrar sem carretilha. Na penumbra, nossos olhos são enganados e as dimensões são ilusórias. Na dúvida de à volta por fora dos destroços antes e confira o tamanho da abertura de saída. O conhecimento do tipo de navio pode indicar que percursos serão encontrados no interior, mas os mergulhadores devem estar atentos a mudanças do percurso esperado, pois o naufrágio e o próprio desmanche do navio causam alterações na estrutura. Ao primeiro sinal de dúvida do percurso, mesmo utilizando uma carretilha, retorne ao exterior do naufrágio, deixando a exploração para outra ocasião, depois de novo planejamento.
Acertado o percurso os mergulhadores devem lembrar de ajustar o planejamento de ar. Em penetrações utiliza-se a Regra dos Terços. Nela, apenas um terço do gás é utilizado para a penetração, reservando-se dois terços para a saída. Numa eventual necessidade do parceiro existirá gás para uma saída segura dos dois. Mergulhadores de uma mesma dupla podem ter consumos diferentes, por isso, penetrações só devem ser feitas considerando que os mergulhadores conhecem seus consumos de ar com precisão.
 
O próximo passo da dupla já será em direção ao mistério e à escuridão, mas o principal objetivo deste artigo foi mostrar como muitos aspectos diferentes estão envolvidos na penetração, mesmo antes da existência e um teto. Por isso, cabe ao mergulhador procurar treinamento específico, para adquirir conhecimento e experiência gradativamente e em ambiente controlado.
 

Curso de Mergulho em Naufrágios

 

Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil.

 
 

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