Areeiro - Desenterrando o Passado

Revista Scuba, ano V, Nº 49

Texto : Maurício Carvalho
 
 
 
Recife é considerado um dos principais pontos do Brasil para os mergulhadores de naufrágio. Com mais de 12 destroços diferentes, as águas de Recife, sempre atraíram os mergulhadores.
As principais características de seus naufrágios, era a falta de identificação precisa dos navios.
Assim, vários deles, eram conhecidos apenas por seus nomes populares, como: Vapor de Baixo, Chata de Noronha, Reboque e Areeiro.



Porém, nos últimos anos, isso têm se modificado devido à dedicação de vários mergulhadores e pesquisadores. A alguns meses, o mergulhador Joel Calado conseguiu identificar positivamente o Reboque como sendo o vapor Flórida.
Com o auxílio do Engenheiro Tarcísio Vilarinho Oliveira, identificamos a embarcação conhecida como Areeiro. Trata-se do navio Marguerite, que foi erroneamente identificado como San Martim.
 
Histórico:
O navio lameiro ou areeiro Marguerite, da Companhia Carioca de Dragagem, já se encontrava em mau estado quando foi recolhido ao Estaleiro do Pina, em Recife, para uma reforma.
Finalmente deixou o estaleiro no dia 05.12.1968 para participar das obras de modernização do porto e entrou em serviço após vistoria da Capitania dos Portos.
O navio recolhia a lama das dragas que trabalhavam no interior do porto, levando o material para ser solto em alto mar.
No dia 16 de agosto de 1969 o navio deixou o porto para mais uma descarga de sedimentos. O mar estava agitado, assim mesmo, o Mestre de Cabotagem Alves cumpriu sua missão e pouco depois das 15 horas já retornava ao porto de Recife. Com a maior parte do serviço realizado, os tripulantes reuniram-se na popa para tomar um café, pouco depois, dois deles dirigiram-se à proa para fumar um cigarro.
Inesperadamente duas violentas e inexplicáveis explosões nas cadeiras sacudiram o Marguerite. O navio começou a afundar rapidamente, tocando com a popa o fundo do local conhecido como Banco dos Ingleses. Somente a proa permaneceu de fora, e assim ficou por dois dias, antes de afundar totalmente.
Os dois tripulantes que dirigiram-se a proa para fumar foram atirados à água, tornando-se os únicos sobreviventes.
A explosão foi ouvida do porto, e por isso foram enviados rebocadores para o socorro. Os dois tripulantes que boiavam em meio a destroços e mais um corpo foram recolhidos.
Devido às condições do mar, os mergulhadores da marinha não conseguiram descer aos destroços nos dois dias seguintes a catástrofe.
Durante os dez dias seguintes, cinco cadáveres e parte deles foram encontrados nas praias do Janga e Boa Viagem em torno da cidade de Recife. As causas do sinistro nunca foram conhecidas.

 
Descrição:
O navio encontra-se alinhado com a entrada do porto de Recife, sobre um fundo de areia, embora ao redor existem formações coralíneas.
A popa encontra-se enterrada, não sendo possível distinguir o hélice e o leme; parte do comando do leme é visto sobre a estrutura da popa. Da popa, seguindo-se pelo eixo, encontramos as máquinas, com dois grandes cilindros. Junto à popa existem cabeços de amarração e muitos ferros espalhados, que deveriam pertencer ao casario de popa.
À frente do motor, existe um grande cilindro com 4 metros de diâmetro, posicionado verticalmente e aberto na parte de cima. Parece pertencer ao maquinário de bombeamento de areia, pois junto a ele existem grandes tubos metálicos e dois outros motores menores.
 
De meia nau até a proa, o casco duplo encontra-se íntegro, permitindo penetrações nas duas laterais, e limitando o compartimento de carga.
O interior do navio é formado por um compartimento único, destinado à areia. No meio deste compartimento uma superestrutura ergue-se até a altura das muradas, sem contudo separar o compartimento de carga. Parte das muradas estão caídas dentro do navio.
A proa está parcialmente amassada no costado de bombordo, não existindo âncoras ou correntes, deveria existir nesta região da embarcação algum tipo de compartimento, já que existem escotilhas e vigias

 
compartimento para a areia bomba de aspiração Máquinas Cabeço-de-amarração Cabeço-de-amarração
 
 
Condições de mergulho:

Devido a proximidade do porto, a visibilidade costuma ser ruim para o padrão de Recife, ficando em torno de 15 metros, o que faria a alegria de qualquer mergulhador de naufrágio. A fauna é muito rica, como nos demais naufrágios da cidade. A baixa profundidade, que atinge no máximo 18 metros e o curto tempo de navegação faz do Marguerite um excelente ponto para os mergulhadores iniciantes e experientes.

 
Ficha Técnica:

Nome do Navio: Marguerite
Data do Naufrágio: 16.08.1969
Motivo do Naufrágio: Explosão das caldeiras
Local: Saída do porto de Recife. Banco dos Ingleses.
Posição: Latitude: 08º 03' 78" Sul e Longitude: 034º 49' 41" Oeste.
Profundidade: 10 a 15 metros.
Tipo de Navio: Draga
Comprimento: 50 metros
Armador: Companhia Carioca de Dragagens
Comandante: Mestre de Cabotagem Isaura Alves dos Santos
Tripulantes: 10
Nº de vítimas: 8.

Referências:
Diário de Pernambuco 17 e 20 de agosto.1969, págs 1 e 14.
Carta náutica 930, 1997, Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) - Ministério da Marinha.
Revista Scuba, ano V, Nº 41, agosto/2000 - Recife, pág.26.

  

 
 
Conheça mais sobre o Naufrágio Marguerite(Areeiro)
 
 
OBS: Na matéria original constam outros fotos