Destino: naufrágio
Naufrágio na Escuridão


Revista Mergulho, Ano XIII - Nº 158 - setembro/2009
Texto Maurício Carvalho

Mergulhadores de Naufrágio precisam conhecer
técnicas de águas escuras

 
 
O Brasil é um país abençoado pela quantidade de rios e disponibilidade de água doce. Este fato, porém,faz com que nosso litoral possua águas ricas em matéria dissolvida e consequentemente em algas, o que torna a visibilidade bastante restrita na maior parte do ano.
Dos 375 naufrágios localizados no litoral do Brasil (Segundo dados do SINAU - Sistema de Informação de Naufrágios), a maioria dos frequentados com regularidade por mergulhadores está localizado em áreas de prevalência de águas escuras, como no sudeste. Some-se a isso, que em muitas regiões do planeta onde as águas não são claras, os pontos preferências de mergulho são naufrágios. E, mesmos nos paraísos tropicais, as condições em maiores profundidades, colocam os mergulhadores na penumbra. Assim, é
É fácil deduzir que especialistas em naufrágios precisam conhecer técnicas para águas escuras - principalmente, pois elas são excelente treino para futuras penetrações.
Se o mergulhador não dedicar atenção a estas técnicas - além dos riscos naturais de perda de orientação, dificuldade de retornar a embarcação no final do mergulho e separação da dupla -, perderá a mais vantajosa característica dessas atividades: aproveitar melhor o mergulho. Visualizar pequenos objetos entre os destroços torna todos os naufrágios interessantes.
Um pequeno conjunto de técnicas, quando aplicadas corretamente, pode trazer luz ao mais escuro dos naufrágios.
 
Nº de naufrágio  
sul
sudeste
nordeste
 
RS
SC
PR
SP
RJ
ES
BA
SE
Al
PE
PB
RN
CE
Totais
323
211
44
107
351
80
220
61
51
108
56
116
76
Totais por região
578
538
688
       
Turísticos
0
02
03
15
40
06
25
0
04
20
03
02
03
Totais por região
05
41
57
Fontes:
Naufrágios totais: SINAU - Sistema de Informação de Naufrágios
Naufrágios de caráter turístico - Site Naufrágios do Brasil - www.naufragiosdobrasil.com.br
 

 

TÉCNICAS PRÉ-MERGULHO

Uma das vantagens de se mergulhar em naufrágios é a possíbilidade de realizar um planejamento preliminar antes antes de chegar ao local, e descer com o conhecimento prévio do local que será encontrado e os principais pontos de orientação. Esse cuidado será ainda mais vantajoso em águas escuras.
Consiga o croqui do naufrágio, certifique-se que ele foi realizado por pessoa que domina a técnica e que está atualizado - está é a razão porque os croquis precisam data de confecção. Croquis antigos podem não mais estar representando os destroços. Croquis apresentam profundidades das peças, importantes referências de posicionamento, Vale a pena levar de casa o croqui, pois várias operadoras não o possuem para consulta no barco.
Se não conhece o naufrágio verifique com a operadora em que local será feita à descida e prepare seu planejamento junto com seu dupla, acertando os objetivos do mergulho - profundidade máxima, peças importantes a serem vistas, limites de exploração, percurso e margem de segurança.
Combine os sinais visuais, de toque-contato e procedimentos de separação, muito frequentes nestes mergulhos. No Brasil vários mergulhadores utilizam o procedimento de mergulhar em "dupla" no mesmo oceano, e em caso de separação "combinam" de se encontrar no mesmo banco do barco, no final do mergulho...
Se este é seu padrão de mergulho, lembre-se que um homem sozinho está em péssima companhia. Hoje, já existem treinamentos para mergulho Solo - trataremos do assunto em um próximo artigo.
Utilizando o croqui, já será possível identificar os equipamentos necessários - carretilhas, lanternas, facas, caso haja registro de redes etc. para minimizar os efeitos da água escura.


 

DURANTE O MERGULHO
Em águas escuras a chave é ir devagar.
Certifique-se que tem todo equipamento necessário, não esquecendo a bússola (que poderá ser útil, mesmo com os desvios provocados pelo material metálico do naufrágio).
Utilize um cabo de descida até os destroços. Em baixa visibilidade, é comum ocorrer desorientação. Desça bem devagar. Procure parar de tempo e tempo e ajustar cuidadosamente a flutuabilidade, pois uma chegada rápida ao fundo poderia provocar o choque contra as estruturas não identificadas na água turva. Enquanto desce, olhe cuidadosamente para o fundo procurando por alterações de coloração, que podem evidenciar os destroços. Se começar a ficar tonto ou confuso, estique o braço na frente dos olhos, protegendo o corpo e, criando um referencial visual que diminui a desorientação.

No fundo, pare por alguns minutos antes de começar a navegação.
Isso dá tempo ao organismo para adaptar-se as novas condições de luz e visibilidade. Essa parada é preciosa. Já vi muitos mergulhadores chegando ao fundo e partindo em disparada, poucos minutos depois - já abortavam o mergulho, por ansiedade, desorientação e até certo desespero.
É fundamental entender que um mergulho em águas escuras é um mergulho em câmara lenta. Pense da seguinte forma: melhor uma pequena porção do navio do que ficar reclamando da água no barco.
Durante a parada, confirme o reajuste através de sinais, a direção e procedimentos a seguir com seu dupla. Determine de forma taxativa quem deverá ser o guia e quem deverá ser o dupla e mantenha o sistema com rigor verificando a posição e seu dupla com muita frequência.
 

Verifique que a região dos barris de cimento do
Rio Macahuam iluminadas pelo facho mais intenso, apresentam uma visibilidade pior devido
a iluminação das partículas
 
Utilizar uma lanterna ou não, dependerá da condição de visibilidade. Em águas com muitas partículas a luz de uma lanterna possante pode ofuscar, diminuindo ainda mais a visibilidade. Uma lanterna secundária, de menor potência, poderá ser muito útil.
Durante a navegação, nade de forma muito lenta, fixando a carretilha com mais frequência e seguindo a orientação de peça em peça, segundo o planejamento realizado. Evite áreas com teto e mantenha-se longe de redes -lembre-se que elas fazem voltas e, na água escura, pode ser difícil determinar sua extensão.

É muito comum, quando se trata de visibilidade bastante restrita, que os mergulhadores parem de bater as nadadeiras e comecem a se puxar pelo cabo guia. Esse erro poderá levar a ruptura do cabo e, complicar ainda mais o mergulho.
Percursos curtos, pela parte do naufrágio com maior número de peças e muitas referências melhoram o desempenho e tornam o retorno ao cabo de subida ainda mais fácil.
Um strobe - pequena lanterna que emite flashes intermitentes -, pode ser deixado, junto ao cabo facilitando o retorno no final do mergulho.
 

Strobe de sinalização
 

 
PÓS-MERGULHO
Encerrado o mergulho, não deixe de conversar com seu dupla, acertando alguma diferença entre o planejamento e o que foi realizado. A experiência torna o sistema de duplas mais eficiente, o que é muito importante em mergulhos em águas turvas. Melhorias do croqui também podem e devem ser feitas depois desses mergulhos, já que se esteve tão atento à disposição das peças.
 

 
 

Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil.

 

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