Destino: naufrágio

60 anos de Rio de Janeiro


Revista Mergulho, Ano XIII - Nº 154 - maio/2009
Texto e fotos Maurício Carvalho
 

Naufragado em maio de 1949, o imponente transatlântico inglês Magdalena
fez das águas da Baía de Guanabara sua morada final

 

Um dos orgulhos da companhia de navegação inglesa Royal Mail Steam Packet Company. O Magdalena, terceiro navio da companhia com este nome, levou dois anos para ser construído, devido à carência de materiais no pós-guerra. O barcofoi lançado ao mar em 11 de maio de 1948 pelo estaleiro Harland and Wolff, da Irlanda e imediatamente colocado para o serviço da linha de passageiros e carga para o Brasil, Uruguai e Argentina.

Na viagem inaugural, em abril de 1949, partiu de Londres com destino ao rio da Prata. No retorno, subia a costa vindo de Santos, com escala prevista no Rio de Janeiro. Durante a madrugada do dia 25 já se aproximava da cidade, tendo a Barra da Tijuca no través de bombordo, quando, às 4h50, aparentemente por um erro de navegação de um dos oficiais de bordo, trepou na laje das Ilhas Tijucas, onde ficou preso apesar das tentativas de desencalhe.
O choque danificou a proa e abriu um grande rombo no porão número três. Dado o sinal de emergência, os passageiros foram encaminhados aos botes salva-vidas, porém não abandonaram o navio, que permanecia fortemente adernado, mas estável, preso a laje. Diversos navios da Marinha seguiram para o local em socorro à embarcação e por meio deles, os passageiros acabaram sendo desembarcados.
Logo se começou a descarregar o navio, transferindo parte de sua carga para navios auxiliares, chatas e rebocadores. Com o alívio do peso e, a maré cheia do dia seguinte o navio reflutuou, iniciando-se o lento reboque pelo Triunfo e Comandante Dorat, para o interior da Baía de Guanabara.

 


Local da primeiro choque do Magdalena
(laje das Tijucas), perto das Ilhas Tijucas.

  A entrada da Baía de Guanabara e estreita e dividida ao meio pela Fortaleza da Laje, e ali, as correntes são fortes e a superfície agitada pelo afunilamento da água que entra e sai. Pois foi exatamente quando cruzava a barra - provavelmente forçado pelo peso da água que invadiu o porão três e o mar grosso - que o Magdalena partiu entre a ponte de comando e a indefectível chaminé amarela, que caracterizava a companhia. As imagens são impressionantes, parecendo ter o navio sido cortado à faca.
 


O capitão Douglas Lee e seu primeiro imediato foram culpados pelo acidente pela corte de justiça e tiveram seus registros suspensos por dois e um ano respectivamente.
Nos dias que sucederam o acidente, a abertura deixada na metade traseira do navio foi vedada com placas de aço, e todo o segmento foi rebocado para um estaleiro no Rio de Janeiro onde foi sucateado.
As máquinas do navio foram vendidas e, durante muitos anos, serviram como unidade termoelétrica, gerando eletricidade para a cidade de Manaus. Só tendo sido definitivamente aposentadas no início de 2000.


O Sino do Magdalena
 
FICHA TÉCNICA



DADOS TÉCNICOS
NOME DO NAVIO: Magdalena
DATA DO AFUNDAMENTO: 26.04.1949
LOCAL: Rio de Janeiro, RJ.
POSIÇÃO:
Canal de acesso à Baía de Guanabara. 164º farolete de Santa Cruz com distância de 1,5 milhas.
LATITUDE:
22º 57' 05" sul.
LONGITUDE:
043º 07' 30" west.
PROFUNDIDADE MÍNIMA: 11 metros
PROFUNDIDADE MÁXIMA: 12 metros
CONDIÇÕES ATUAIS: desmantelado.
MOTIVO DO NAUFRÁGIO: encalhe.

DADOS TÉCNICOS
NACIOLNALIDADE: Inglesa
ANO DE FABRICAÇÃO: 1949
ARMADOR:
Royal Mail Lines Ltd.
ESTALEIRO: Harland & Wolff, (Belfast - Irlanda do Norte).
COMPRIMENTO: 188 metros
BOCA: 24,3 metros

TIPO DE EMBARCAÇÃO: transatlântico
MATERIAL DO CASCO: aço
PROPULSÃO: hélice

Partido na seção atrás de meia-nau, só está parte do navio afundou.
A posição dos destroços, no meio de uma das entradas da Baía de Guanabara, prejudicando a entrada de grandes navios decretou seu desmonte. Um mês depois o Magdalena começou a ser desmontado no fundo.
No dia 30 de maio, enquanto participava da remoção dos destroços do navio, a Chata DII acabou afundando na praia de Imbuí devido ao mar grosso que se estabeleceu. Em 22.03.1950, outra chata de nome Mato Grosso, sofreu com o mau tempo e teve o mesmo destino.
 
 

 

Durante a década de 60 e 70 o local ainda era marcado com uma boia com sino, avisando aos navegadores da obstrução. Hoje, restam apenas poucas peças espalhadas pelo fundo, as maiores foram removidas ou explodidas, e segundo a DHN (Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil) não são encontrados destroços a mais de um metro do fundo.
O mergulho no local é dificílimo. Primeiramente, pois é a passagem de grandes embarcações e por isso, de fundeio proibido. O local é um grande estreitamento na entrada da barra, assim, com o movimento das marés, as correntes no local são fortíssimas. Para pior tudo, a coloração da água da Baía de Guanabara, que embora no fundo não seja tão escura, no local devido a agitação e mistura, é próxima de zero.


Veja mais informações em:

Naufrágio do Magdalena
 

Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil.

 

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