TOCANTINS - Orgulho Paulista

Revista Scuba, ano VII, Nº 52

Texto : Maurício Carvalho
 
Introdução

Sair do Rio de Janeiro para mergulhar na Ilha Queimada Grande em Santos, pode parecer simples, mais depois de quatro tentativas frustradas, com cancelamentos já no pier, estava um pouco preocupado com a fina chuva que caia às 6 horas da manhã do sábado. Mas ela foi apenas o último suspense para a revelação de um dos melhores naufrágios do Brasil.

Histórico

Construído em 1908 pela companhia Ras S.S. Co. Ltda. de Londres; em 1910 o vapor é vendido para o Lloyd Brasileiro e seu nome trocado de Ras Dara para Tocantins.
Sob o comando do Capitão-de-longo-curso A. Catamby o Tocantins partiu do Rio Grande do Sul com destino a Manaus, cumpriu escala em Paranaguá no dia 28 e seguiu para Santos
Na madrugada do dia 29, o navio encontrava-se envolto em espesso nevoeiro, que tornou a visibilidade praticamente nula, impedindo que o farolete da ilha Queimada Grande fosse visualizado. Inesperadamente o vapor chocou-se de proa com o costão da ilha o que provocou rápida inundação dos porões 1 e 2 .
O pedido de socorro por rádio não pode ser respondido imediatamente, pois o tempo piorava e o mar já apresentava forte ondulação. Em socorro ao Tocantins partiu de Santos na tarde seguinte, o rebocador São Paulo, chegando ao local já à noite. Do Rio de Janeiro partiu o Comandante Dorat, que devido às condições meteorológicas nem conseguiu chegar ao local.
Na manhã dia 31, o tempo melhorou, e os rebocadores puderam aproximar-se, porém o destino do Tocantins já estava selado. O mar agitado da noite anterior jogou o vapor de lado contra o costão e ele acabou por submergir. Pouco antes do desfecho, o capitão havia ordenado o abandono da embarcação.
Alguns pesquisadores afirmam que o navio partiu ao meio antes de afundar e uma das caldeiras explodiu, porém, a análise dos destroços mostra claramente que isso não ocorreu.

Mergulho

Mergulhar no Tocantins pagou cada uma de minhas tentativas anteriores, a distância da Ilha Queimada Grande do continente garante uma excelente visibilidade e uma fauna extremamente rica. Além disso, a maior parte dos destroços ficou protegida da pilhagem, permitindo que o Tocantins seja um dos naufrágios mais completos do Brasil.
Os destroços estão paralelos ao costão com a proa virada para sudoeste. A estrutura geral do navio está mantida, com exceção da popa, que partida repousa à direita dos destroços. A maior parte do casco está caído fora da canoa.
Da proa, onde estão os escovêns, cabeços e guincho, podemos acompanhar as duas correntes até as âncoras que estão a 18 metros sobre as pedras.

Em direção a popa, uma grande área plana denuncia os porões esvaziados.
No centro do navio existem três caldeiras, uma auxiliar e duas principais, todas perfeitamente inteiras e a de bombordo parcialmente recoberta pelo casco.
Atrás delas, está o fantástico maquinário a vapor do tipo Triple Expansion Engine, ainda com registros e outras peças. Seguindo-se pelo eixo, apoiado nos mancais, ainda existe uma parte da casa do eixo. O navio é interrompido abruptamente no costão.
A popa, praticamente inteira, esta caída a estibordo do casco. Nela, podem ser vistos o hélice, de três pás, partes do leme e seu volante.
Uma pequena penetração pode ser feita na popa ou em uma passagem sob o casco, abaixo do eixo.

  
 
  

Agradecimentos
Ao Instrutor Armando de Luca, operadora Nautilus e a sua equipe, pelo apóio na viagem a Ilha Queimada Grande.

Ficha Técnica:
Nome do Navio: Tocantins
Data do Naufrágio: 30.08.1933
Motivo do Naufrágio: Choque
Local: Face norte da Ilha Queimada Grande.
Posição: Latitude: 24º 29.00' Sul e Longitude: 046º 40.67' Oeste.
Profundidade: 8 a 21 metros.
Tipo de Navio: Cargueiro
Comprimento: 115,5 metros Tonelagem: 3837


Referências:
Sinistros Marítimos, Estado de São Paulo 1900 - 1999, 1999, José Carlos Rossini.
Lloyd Brazileiro: notes on the history - 1984 - Cristian de Saint Humbert, Hamburg.



 
Conheça mais sobre o Naufrágio
 
 
OBS: Na matéria original constam outros fotos