Texto: Carlos Vilar |
Em minha
última viagem, depois de participar da expedição
do Voyager pelos naufrágios do Nordeste, permaneci mais alguns dias
em Recife mergulhando com o Joel
Calado do Projeto Mar. Durante uma visita a sua escola, tive a oportunidade
de conhecer o Carlos Vilar, de quem sempre ouvi falar pela descoberta do Alfama
de Lisboa. Depois de uma boa conversa ele simpaticamente concordou em contar a história de mais essa descoberta. |
A história da descoberta |
Em
07.09.1982 um pescador profissional nos convidou para mergulhar em um cabeço,
em que, recentemente tinha ferrado um grande peixe, que quebrou o nylon, achava
ele que seria um Mero. Então eu (Carlos Sarmento) e Fred Ozanã fomos
com ele até o cabeço e para nossa surpresa, constatamos tratar-se
de um naufrágio. Ao mergulharmos nos deparamos com um grande amontoado
de louças empilhadas, tijolos, garrafas etc. O que mais chamava a atenção neste naufrágio era a grande quantidade de louças (pratos, cuias, xícaras, canecos, pinicos, travessas, jarros, bacias etc.) empilhadas uma dentro da outra. Então informamos ao Pescador Leno que não era um cabeço e sim um naufrágio. Resolvemos explorar este naufrágio, e para isso, fomos até a Capitania dos Portos PE., onde fomos informados que a área de Ponta de Pedra (limite Norte) até Tamandaré (limite sul) era concedida a SAlVANAVE firma do Sr. Deni Albanese, um francês naturalizado brasileiro que morava no Rio de Janeiro. |
![]() Vista da praia de Candeias |
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Pratos
e armas de origem inglesa |
Pratos,
cuias de faiança portuguesa |
Carlos Vilar, um dos
descobridores do Alfama de Lisboa |
Entramos em contato com
o mesmo e ele veio imediatamente para Recife e o levamos para o local de "olhos
vendados", pois na época não existia GPS. Ele ficou muito interessado
e levou umas amostra de cada louças para análise no museu naval
do Rio de Janeiro nos museus do exterior e em poucas semanas já tinha o
nome do navio e data de naufrágio. Trata-se do ALFAMA DE LISBOA que naufragou nas proximidades do Recife-PE em 1809. Nau Portuguesa, que tinha saído de Portugal com carregamento de Louças, com destino à Inglaterra onde pegaria mais louças e seguiria para Pernambuco, onde naufragou. |
![]() | As
louças são de pó de pedra, os pratos e travessa (de borda
azul) são ingleses e as cuias canecos, xícaras, bacias e pinicos
são portugueses. Havia também grande quantidade de garrafas de vinho,
algumas ainda cheias, fechada com rolha, mas, infelizmente o vinho já tinha
virado vinagre. Na época eu era 6º anista de Medicina e só tinha tempo para explorar o navio no final da tarde, e assim nós (eu e Fred Ozanã) o fizemos por cerca de 40 dias até que o pescador de um barco lagosteiro, que pescava de mergulho, sempre nos via no mesmo lugar mergulhando e resolveu saber do que se tratava, e terminou sabendo também que era um naufrágio, daí por diante ficou difícil mergulhar no Alfama devido a grande quantidade de embarcação apoitada em | ||
cima dele, a mergulhar. É realmente uma grande emoção mergulhar em um naufrágio virgem (nunca mergulhado por ninguém antes). A primeira peça que achei foi um sino de bronze, que guardo até hoje. |
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Pinicos
e Lava-mãos de faiança portuguesa recuperados em grande |
Os pratos de borda
azul são típicos dos navios ingleses e são encontrados em vários naufrágios pelo Brasil, como a Fragata Thetis. |
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