...NAUFRÁGIO do CAVO ARTEMIDI
 
Naufrágio
Em setembro de 1980, o cargueiro grego Cavo Artemidi embarcou em Vitória, ES. lingotes de ferro-gusa de uma Companhia do estado de Minas Gerais, com destino a Brighton na Inglaterra. No total carregava 16.800 toneladas. Estava prevista uma escala na Bahia para reabastecimento.
No dia 19, o cargueiro deixou o porto de Salvador, BA. O comandante não deixou que o navio fosse rebocado, e apesar da lei, dispensou o serviço do prático do porto; segundo acusações, para economizar os CR$ 3.000,00 do custo do serviço.
     

Durante as manobras de partida, foi arrastado pelas fortes correntes típicas da Baía de Todos os Santos, acabando por tocar às 2 horas, no conhecido Banco da Panela.
Segundo os informes da Captania dos Portos, o cargueiro perdeu o controle do leme, foi arrastado pela corrente e acabou por bater e encalhar de proa no Banco de Santo Antônio, já na entrada/saída da Baía de Todos os Santos.
Durante alguns dias tentaram-se manobras para soltar o navio, inclusive dos mergulhadores do navio de resgate Gastão Montinho, da Marinha do Brasil, mas as tentativas de safar o navio foram sem sucesso.
Uma semana depois, devido a piora das condições meteorológicas e do grande peso da carga, abriram-se chapas no fundo do casco o navio começou a fazer água e acabou por afundar no local. Inicialmente seu castelo de popa permaneceu na superfície, mas logo o navio submergiu completamente.

 

Momento do afundamento do Cavo Artemidi
 

DADOS BÁSICOS

Nome do navio: Cavo Artemidi

Data do afundamento: 25.09.1980

LOCALIZAÇÃO

Local: Salvador

UF: BA.

País: Brasil

Posição: Entrada da Baía de Todos os Santos, a 4,6 km da costa, Banco de Santo Antônio

Latitude: 13° 03.310' sul

Longitude: 038° 31.551'' oeste

Profundidade mínima: 9 metros

Profundidade máxima: 29 metros
DADOS TÉCNICOS
Nacionalidade: Grega
Comprimento: 180 metros
Deslocamento: 18.600 Toneladas.
Tipo de embarcação: cargueiro
Material do casco: aço Propulsão: hélice

Carga: 16.800 toneladas de Ferro-gusa

CONDIÇÕES ATUAIS: inteiro e semi-inteiro
MOTIVO DO AFUNDAMENTO: encalhe
 
O Resgate
Em 1982 a empresa Villafer arrematou os direitos de exploração do Cavo Artemidi em um leilão do Instituto de Resseguros do Brasil, mas logo desistiu do serviço, repassando a concessão à companhia paulista Hernandes Anti corrosão e Pintura. Segundo a Revista Veja de agosto de 1984 "veterana em empreitadas subaquáticas pouco convencionais e que oferecem doses de risco" que iniciou os trabalhos de recuperação dos lingotes de ferro-gusa.
       

Segundo o técnico naval da empresa Edno Oliveira Lima, "a estrutura, cedeu à pressão da água que invadiu os porões, a oxidação grudou os lingotes".
Os mergulhadores abriram rombos com maçaricos instalando explosivos para separá-los. A operação contou com o apoio da draga Itaoca, onde foi instalado um guindaste de mais de 10 toneladas acoplado a um poderoso eletro imã, que retirou a carga dos porões do navio, depois de suas tampas serem removidas.
A carga foi avaliada, a valores da época, em mais de 3,6 bilhões de Cruzeiros.

 

Eletro imã resgatando os lingotes

Draga Itaoca recebendo o ferro-gusa

 
Descrição

O Cavo Artemidi foi sem dúvida nenhuma um dos naufrágios mais bonitos do Brasil, com seus 180 metros e durante duas décadas era impossível não encantar os mergulhadores que frequentavam seus destroços. Não só pela grande estrutura e possibilidades de penetração, mas pela própria biodiversidade de peixes e outros organismos.
Acompanhei seu lento soterramento pelo Banco de Santo Antônio, que cerca a barra norte da Baía de Todos os Santos desde 1998. É cruel pensar que o mesmo banco que o prendeu, vitimou, também enterrou seus destroços.
Até 1998 o navio estava apoiado corretamente no fundo, mantinha sua estrutura inteira. Na popa atingia-se cerca de 31 metros enquanto a proa estava a 9 metros. Em 1999 a primeira modificação dramática ocorreu com a ruptura do 1º e 2º conveses em torno do terceiro porão.
Até 2006 o navio permaneceu estável. Em 2007 partiu no porão à frente do antigo casario, neste ponto, já era possível passar de um bordo a outro junto ao fundo. Na popa, atingia-se cerca de 29 metros o eixo e leme eram soterrados e voltavam a aparecer ao longo do ano.
O processo de avanço do Banco de Santo Antônio continuou e em 2010 o navio partiu totalmente a meia nau. A partir de 2014 somente a popa estava de fora da areia, ainda assim com profundidades máximas de 18 metros.
Em 2019 sobrou apenas a base do mastro e o topo do casario no meio do imenso banco de areia e a apenas 12 metros de profundidade.
Quem sabe os deuses do mar um dia invertam as correntes e emprestem novamente esse naufrágio para os que agora só guardam saudades.

 
   
Acompanhe pelos sucessivos croquis o processo de assoreamento do banco de Santo Antônio, que acabou por sepultar o navio
     
Croqui em março de 1998
Croqui em dezembro de 1999
Croqui em novembro de 2007
 
Croqui em outubro de 2016
 
Croqui em janeiro de 2019
Veja também a matéria da biblioteca: Em Desmanche
 
Polia do guincho de proa logo foi coberto
Acesso ao porão de proa uma das
primeiras partes assoreada pelo banco
Parte do convés que permaneceu
descoberta durante muitos anos
Um dos locais mais belos do Cavo era o
corredor boreste do casario
 
Convés sobre o qual estava o casario, com a base do mastro,
foi a últimaparte a ser engolida pelo banco
Escada no interior da sala de máquinas
colapsou em torno de 2007
Convés era livre para circulação
 
 

As fotos mais atuais do que sobrou do Cavo Artemidi - Fabricio Gil
 
 
Em 2018, a base do mastro e parte do teto do casario estão a 12 metros. O pouco que sobrou no meio do Banco de Santo Antônio do majestoso Cavo Artemidi

 
Fotos dos destroços
Em um navio tão grande, as possibilidades de fotos eram inúmeras, a qualidade da água também favorecia o trabalho dos fotógrafos, que conseguiram belas imagens. Como trata-se de um navio inteiro, existiam duas regiões distintas dos destroços. Do lado de fora, com a forte corrente local, predominavam peixes rápidos. Já entre os ferros e no interior do casario, muitos invertebrados, moréias e outros organismos eram encontrados.
 

A história completa
 

Grande quantidade de Ciliares povoavam os destroços

Na popa, a lateral do casco, formava uma boa
proteção contra a forte corrente local
  

O centro dos destroços era formado pelos compartimentos
de ferro-gusa que colapsaram para dentro da embarcação

Na popa haviam dois grandes guinchos que ornamentavam os destroços
 

 
Agradecimentos
Shipwreck WRECK WRAK EPAVE PECIO