Entendendo os croquis
Compreenda o que está vendo e aumente o aproveitamento
e segurança de seus mergulhos

Parte 3
 

Por mais que os mergulhadores de naufrágio possam encontrar águas claras e propícias a fotografias subaquáticas; raramente as condições são suficientes para que fotografias apresentem a cobertura necessária a boa orientação durante o mergulho nos naufrágios. Elas são ótimas para indicar a condição geral de peças, ou partes restritas dos destroços, mas em navios grandes são de pouca importância na orientação.

Por tudo isso, a melhor ferramenta de orientação dos mergulhadores de naufrágio, são os desenhos esquemáticos, popularmente conhecidos como croquis, que mostram de forma geral as condições dos destroços no fundo. Essa ferramenta é utilizada em todo mundo por mergulhadores de naufrágio. Ser capaz de prepará-los, pelo menos de uma forma simplificada (croqui primário) é uma condição básica que deve ser ensinada em qualquer curso sério de Mergulho em Naufrágio.

Por críticas e sugestões à meus croquis de mergulhadores bem intencionados; percebinos últimos anos, que muitos desses mergulhadores, por não possuírem o treinamento adequado sobre croquis, acabaram
fazendo uma interpretação errônea desses esquemas.

Em função desse problema, que pode afetar a segurança dos mergulhadores, foi preparado esse texto. Espero que ele sirva para facilitar a compreensão do que é apresentado e aumente o aproveitamento que os mergulhadores possam fazer dessa importante ferramenta.
Assim mesmo, esse texto é apenas um resumo e não pretende substituir o treinamento formal com um instrutor competente.

 

 
Continuação...
 
Informações extraídas dos croquis
 
Estilos:
Como já dissemos, não existe uma padronagem para croquis e por isso, autores diferentes utilizam métodos diferentes para passar informações sobre o naufrágio. Algumas dessas formas podem provocar problemas de má interpretação do croqui e por isso, precisam ser conhecidas antes de sua utilização.
As observações abaixo são fruto de vários anos de visualização de croquis de vários autores e principalmente das necessidades que moldaram o estilo que hoje é utilizado na confecção de meus croquis.
 
Profundidades:
Profundidades são de grande importância nos croquis. Devem ser assinaladas as profundidades máxima e mínima, quando os destroços não estão no plano e as profundidades de peças que se destacam do fundo. Além de servirem de elemento de orientação às profundidades são a base para o planejamento do mergulho.
Nas cartas náuticas, as batimetrias mínimas são marcadas segundo a menor profundidade possível encontrada no local (evitar encalhe), o que corresponde a maré baixa de sizígia,
assim elas também
são marcadas nos croquis.

Porém, o procedimento das cartas náuticas para as profundidades máximas, poderia criar erros no planejamento do mergulho. Assim, nos croquis as profundidades máximas são marcadas sob condições de maré alta (maior profundidade possível).
O resultado d
esse cuidado técnico é que se torna comum mergulhadores encontrarem no fundo profundidades reais menores e/ou maiores do que as indicadas nos croquis. Isso não implica num erro de registro, mas apenas em um procedimento de segurança que deve ser levado em consideração.

 
 

Tipo de fundo:
Deve ser indicado por elementos escritos ou por código de cores. O fundo pode influenciar na visibilidade e na localização de peças, pois movimentos de maré ou correntes podem enterrar ou desenterrar peças ou até partes do navio. Essas alterações podem modificar sensivelmente o aspecto de um naufrágio em relação ao croqui apresentado.

 
Orientação:
Muitos mergulhadores questionam a falta de orientação norte/sul nos croquis. Essa ausência ocorre porque a informação é pouco prática. As bússolas freqüêntemente apresentam marcações incorretas, influenciadas pela massa ferrosa dos destroços. Por isso, não é usual que mergulhadores de naufrágio utilizem as bússolas como forma de orientação pois seu uso pode levar a erros graves na navegação, ao invés da bússola são utilizadas técnicas de orientação natural.
 

Angulação:
Talvez a parte mais difícil da confecção de um croqui terciário é a escolha do ângulo de rerpresentação; pois ele ira favorecer a maior visualização dos destroços. Essa escolha poderá mudar significativamente a compreeção que os mergulhadores fazem do naufrágio e o aproveitamento do croqui.
O ângulo escolhido deve privilegiar o conjunto dos destroços e as peças mais importantes, isso obriga o mergulhador a tomar decisões rápidas sobre por onde começar o registro, assim que visualiza o naufrágio
.

 
 

O croqui de da Chata de Noronha de 2006 corrigindo o
ângulo de observação do croqui de 1996.
 
Relevância:
Outra decisão difícil é determinar que partes dos destroços são relevantes, o que deve ser mostrado e o que pode ser omitido.
Essa decisão só pode ser tomada depois de conhecido o naufrágio e muitas vêzes sacrifica partes dos destroços. Caso contrário,

o croqui pode tornar-se tão detalhado que dificultará a visualização das peças importantes.
Veja o caso do Nébula ao lado, parte do casario foi cortado para favorecer a visão da sala de máquinas, parte especial deste navio.
Peças particularmente importantes podem ser representads através de legendas, mas esse procedimento deve ser feito com parcimônia, principalmente em croquís terciários, evitando poluir a representação.
Acidentes de relevo do fundo, como grandes rochas, fendas e recifes podem também ser importantes no croqui, pois orientam o mergulhador e contam a história do naufrágio.

 

 

Coloração:
No caso do croqui ser realizado em cores (terciários), elas servem para indicar diversos aspectos. Tipos de material, áreas sombreadas, dobramentos e ângulos e principalmente, partes com a mesma angulação em relação à superfície, isso auxilia ao mergulhador a ter uma idéia tridimensional dos destroços, dando a ele volume.
 
Modificações propositais:
Em algumas situações parece ser mais interessante cometer pequenas alterações na confecção dos croquis. Isso é feito, principalmente, para revelar peças importantes, que de outra forma poderiam ficar disfarçadas ou ocultas pela angulação escolhida.
Algumas modificações são clássicas: Inversões de peças; cabeços-de-amarração, por exemplo, quando vistos por baixo são absolutamente inidentificáveis. Assim pode ser mais interessante representá-los ao contrário, do que sua presença não ser percebida no croqui.
 

Visto por baixo, a representação dos cabeços-de-amarração seria irreconhecível.
 

 
 
A esquerda, como seria o desenho real da proa do Vapor Bahia do ângulo escolhido. A direira, como foi mostrado
no croqui, um corte no casco
um pouco maior do que na realidade, revela a presença das âncora de boreste.
Alterações de forma e pequenas mudanças de posição; cortes de partes do casco ou pequenos deslocamentos de posição de peças também podem revelar estruturas importantes, que de outra forma ficariam escondiadas no ângulo escolhido.
O autor precisa apenas ter cuidado com essas alterações para que elas não induzam a uma interpretação errônea dos acontecimentos e desmanche do navio. Inverter a posição do casco, de um cabeço-de-amarração ou turco, podem fazer o mergulhador deixar de perceber o adernamento do naufrágio antes de seu desmonte.
Finalmente o número de modificações deve ser o mínimo possível, caso contrário o croquí se tornará difícil de interpretar debaixo d'água e os mergulhadores ficarão perdidos ao invés de orientados.
 

 
Parte 1
Classificação dos croquis
Objetivos dos croqui
 
Parte 2
Técnicas de confecção de croquis
Checando a confiabilidade do croqui
 

Saiba mais sobre croquis