Entendendo os croquis
Compreenda o que está vendo e aumente o aproveitamento
e segurança de seus mergulhos

Parte 2
 

Por mais que os mergulhadores de naufrágio possam encontrar águas claras e propícias a fotografias subaquáticas; raramente as condições são suficientes para que fotografias apresentem a cobertura necessária a boa orientação durante o mergulho nos naufrágios. Elas são ótimas para indicar a condição geral de peças, ou partes restritas dos destroços, mas em navios grandes são de pouca importância na orientação.

Por tudo isso, a melhor ferramenta de orientação dos mergulhadores de naufrágio, são os desenhos esquemáticos, popularmente conhecidos como croquis, que mostram de forma geral as condições dos destroços no fundo. Essa ferramenta é utilizada em todo mundo por mergulhadores de naufrágio. Ser capaz de prepará-los, pelo menos de uma forma simplificada (croqui primário) é uma condição básica que deve ser ensinada em qualquer curso sério de Mergulho em Naufrágio.

Por críticas e sugestões à meus croquis de mergulhadores bem intencionados; percebinos últimos anos, que muitos desses mergulhadores, por não possuírem o treinamento adequado sobre croquis, acabaram
fazendo uma interpretação errônea desses esquemas.

Em função desse problema, que pode afetar a segurança dos mergulhadores, foi preparado esse texto. Espero que ele sirva para facilitar a compreensão do que é apresentado e aumente o aproveitamento que os mergulhadores possam fazer dessa importante ferramenta.
Assim mesmo, esse texto é apenas um resumo e não pretende substituir o treinamento formal com um instrutor competente.

 

 
Continuação...
 
Técnicas de confecção de croquis
As técnicas estão baseadas na quantidade e distribuição dos destroços e no trajeto do mergulhador pelo naufrágio, na medida em que vai marcando a posição de cada peça encontrada.
SISTEMA RADIAL
Recomendável para destroços sem uma orientação perceptível, em água turva ou com poucas peças aparentes.
Nele os mergulhadores fixam um ponto central e usando a um cabo-guia executamn raios, marcando seus ângulos (recomenda-se variações de 90º), distância do ponto central e as peças encontradas.
 

SISTEMA EM ESPINHA DE PEIXE
Recomendável para naufrágios com uma linha de orientação principal.
O mergulhador descreve um trajeto ao longo do naufrágio, como mostra a figura. A partir do eixo principal, são abertas linhas perpendiculares, representando as peças identificadas ao longo de cada um dos dos trajetos perpendiculares.
 
 

SISTEMA EM "U"
Recomendável para naufrágios com perfeita disposição e orientação das peças ou em naufrágios inteiros. A água deve ter boa visibilidade e haver no naufrágio uma alta freqüência de peças.
Podem ser feitos dois croquis; um externo, onde deve ser dada ênfase às marcações de pontos de entrada de mergulhadores e luz e um interno, que será a planta dos corredores e compartimentos, facilitando a penetração.

 
 

 
Checando a confiabilidade do croqui
 
Ao se examinar um croqui alguns cuidados são fundamentais para sua boa utilização, saber extrair as informações corretamente e avaliar a confiabilidade do trabalho podem fazer a diferença entre um mergulho seguro e um mergulhador perdido sobre, ou pior, dentro dos destroços.
 

Identificação do croqui
Deve ser garantida de forma inequívoca de que naufrágio se trata. A identificação deve fazer parte da própria ilustração, assim sabemos ser ela de responsabilidade do executor do croqui. Caso contrário, poderiamos nos deparar com erros de interpretação de quem prepara por exemplo, um texto para uma revista. Seria arriscado, além da perda de tempo, só descobrir o erro depois de se estar totalmente perdido entre os destroços.
Por exemplo: no Brasil existem dois naufrágios chamados Parana, um no Rio de Janeiro e outro na Bahia e dois chamados Orion, um no Rio de Janeiro e outro em Santa Catarina, todos com características distintas.
Também poderiam ocorrer confusões quanto à porção do naufrágio.
Por exemplo: a proa do Belucia e a sua popa, que requerem croquis diferentes para uma boa representação.
O caso oposto também podem ocorrer, em alguns naufrágios que se sobrepõem, será necessário o estudo de dois croquis, se eles não foram executados juntos. Como exemplo temos: o Eliane Statathus e Themone Statathus em Fernando de Noronha, ou o Bretagne e o Germania em Salvador.
A identificação típica deve conter sempre que possível o Nome do naufrágio - não necessariamente o nome do navio -, a data do naufrágio quando é conhecida (1º verificador de identidade), cidade e estado da localização (2º verificador de identidade). Cruzando-se as três informações com seu objetivo é impossível confundir dois naufrágios diferentes.

 

Autoria:
Em uma primeira análise, poderíamos pensar que a autoria é muito importante ao se utilizar um croqui - " quem sabe sabe ! ". No entanto, isso não é verdade. Nenhum mergulhador deve confiar cegamente nas informações fornecidas por um croqui, independente de seu autor. O mergulhador deve utilizar as informações do croqui com bom senso e ao longo de todo mergulho checar repetidamente sua validade. Jamais substitua um bom planejamento e boa dose de prudência por um "desenho" de quem quer que seja.
É lógico, que a autoria é um dos aspéctos que devem ser levados em conta, junto com a classificação do croqui. Um autor de croqui com comprovada experiência deve, em tese, conseguir evitar alguns dos erros mais freqüentes na execução do trabalho. Provavelmente ele sabe distingüir entre os principais tipos de peças dos navios e diferenciar modelos de embarcações. Isso evitará que você mergulhe em um naufrágio, que pensam ser um veleiro, pois o autor do croqui não reconheceu raras caldeiras quadradas nem distingüiu tipos de mastros.
Ao longo dos anos percebi um
dado curioso: nos mais de 1200 alunos que passaram pelo Curso de Mergulho em Naufrágio, cerca de 10% de todas as pessoas que realizam um croqui, o fazem de forma espelhada. Isso quer dizer que representam o navio invertido.
Ex-alunos do curso que são psicólogos estão estudando o assunto a algum tempo; o motivo ainda desconhecemos, mas as conseqüências, são muito claras. Imagine um mergulhador que para uma penetração segura, tenha que seguir por um corredor até virar na 2ª porta a esquerda. Utilizando um croqui espelhado onde será que ele vai parar?
Como não existe um padrão estabelecido, a autoria acaba sendo também caracterizada pelo estilo do croqui. Autores diferentes apresentam padrões próprios; assim se for possível, antes de utilizar um croqui para um naufrágio desconhecido procure verificar o croqui do autor para um naufrágio já conhecido por você, isso permite criar uma associaçãso com o padrão do trabalho.
Verificando vários croquis de um mesmo autor é possível saber que experiência ele possui.

 

Datação do croqui:
Outro importante fator que deve estar incluso obrigatoriamente no croqui é a data de sua execução. Não devemos esquecer que naufrágios são meios dinâmicos e o passar do tempo vai alterando irremediavelmente seu seu perfil; por isso mesmo, utilizamos a classificação dos naufrágios em Inteiros, Semi-inteiros, Desmantelado e Enterrado.
Infelizmente, as mudanças não são lógicas, graduais ou contínuas; grandes alterações podem ocorrer em determinados momentos, por influência ambiental
ou devido a fase de desmanche em que o
naufrágio está.

 

Condição em 1997
 
Não existe meio científico de prever seu estado com precisão, ou
quando modificações relevantes vão acontecer.

A data deve ser sempre checada como uma forma de determinação do grau de precisão e confiança do croqui e quanto pode ter havido de alterações nos destroços desde a última verificação do autor.

Principalmente em penetrações
a data de confecção do croqui é fundamental para garantir a viabilidade de seu uso no planejamento do mergulho.
 

Condição em 2002
A integridade das estruturas, debaixo das quais estará o

mergulhador só pode ser garantida por ele mesmo mediante uma análise no local e imediatamente antes da penetração; o aprendizado dessa avaliação estrutural é parte integrante de um bom Curso de Mergulho em Naufrágio.
Utilizando croquis antigos, você poderá descobrir na hora errada que aberturas antes existentes podem ter desaparecido e outras podem ter se fomado; também grandes peças podem desmoronar e todos esses eventos alteram o planejamento da penetração.


Condição em 2006
Cavo Artemidi em três momentos de seu desmanche, ao longo dos últimos 10 anos.
 
Continuação...
 
 

 
Parte 1
Classificação dos croquis
Objetivos dos croqui
 
Parte 3
Informações extraídas dos croquis
 

 
Saiba mais sobre croquis