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Histórico O empresário
naval Henrique Lage foi o principal gestor do conglomerado e ao longo
da história da companhia Costeira, incorporou diversas empresas
de navegação. Entre elas, a Sociedade Anônima Lloyd
Nacional, fundada em 1917 e que em 1922, passa ao controle do Grupo Lage.
O Lloyde Nacional chegou a ser a segunda maior empresa de navegação,
operando quase 40 navios, muitos deles com nomes iniciados por ARA. |
Dentro deste conglomerado
de empresas aparece o pequeno cargueiro Araponga. Construído em
1917 na Holanda pelo estaleiro N. V. Boele's, (Holanda) apresentava 55
metros de comprimento, 8,5 de boca e 721 toneladas de deslocamento. |
![]() O Araponga ainda navegando com o nome de Tyro |
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O
Acidente À meia noite do dia 11 de junho de 1943 o vapor Araponga de 721 toneladas da Companhia Costeira deixou Santos, SP, com destino a Florianópolis. O navio fazia rotineiramente a rota Santos, Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre. Levava a bordo uma carga de doze caminhões, volumes de ferragens e outras mercadorias. O Vênus, um pequeno cargueiro nacional de 600 toneladas, também seguia para o sul. Às 05:30 horas, madrugada do dia 12 de junho e ainda escuro devido a época do ano, navegavam os dois vapores as escuras nas proximidades da ilha de Queimada Grande, ao largo do litoral sul do estado de São Paulo e distante 35 milhas da cidade de Santos. Segundo informações dos tripulantes do Araponga, comandado naquela hora da madrugada pelo Imediato Samuel André Sena, foi feita uma guinada para desviar da Ilha do Bom Abrigo e viu-se "uma fumacinha". |
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Segundo
os tripulantes do Venus, às 5:35 horas foi avistada a outra embarcação
viajando próxima em sentido contrário. Subitamente o Araponga
realizou uma forte guinada para bombordo, mostrando a luz vermelha e a do
mastro. O Comandante Jarbas Ribeiro Jobim do Venus ordenou "máquinas
a ré, toda força e leme a boreste", mas já era
tarde e devido ao seguimento das máquinas a manobra foi inútil. Na noite escura, os dois navios costeiros colidiram. A proa do Venus entrou à meia nau do Araponga, provocando-lhe extenso rombo na altura da casa de máquinas. Imediatamente o navio parou, adernou a popa e começou a afundar, submergindo meia hora depois do abalroamento a duas milhas ao noroeste da ilha Queimada Grande. O Comandante do araponga, Capitão Américo de Queiroz Albuquerque, com mais de 28 anos de experiência e que durante a primeira guerra foi o 1º piloto do vapor nacional Acarí, torpedeado perto de Cabo Verde, estava recolhido a sua cabine na hora do acidente. Acordado pelo estrondo retornou à ponte, acreditando que o navio havia sido torpedeado, tomou rapidamente providências para estancar a entrada de água, mas ao tomar conhecimento do abalroamento deu a ordem de "abandonar o navio". Duas baleeiras foram utilizadas para evacuar os 32 tripulantes do vapor da Companhia Costeira de Navegação. O Vênus, parou máquinas para recolher os náufragos. Em seguida, o pequeno cargueiro rumou para Santos, onde atracou no cais do armazém 5 as 16:30 horas. Sete marinheiros foram internados na casa de saúde de Santos com ferimentos leves. A inspeção revelou que o vapor nada sofrera a não ser pequenas avarias em sua proa, foi parcialmente reparado e seguiu para o Rio de Janeiro para ser consertado. |
![]() Vista da ilha Queimada Grande da posição do Araponga |
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Foi aberto inquérito, afim de apurar e a causa do acidente. Segundo o acordão do Tribunal Marítimo a culpa foi do imediato | |||
Samuel André Senna do Araponga, que conduzia o navio na hora do acidente. Ele teria manobrado imprudentemente e sem a vigilância necessária na noite escura. Foi condenado a pagar mil cruzeiros e as custas do processo. O acidente foi considerado fortuito e arquivado. | |||
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A
localização do vapor Araponga (texto:
Fábio Cunha Lofrano) No dia 15 de setembro de 2013, o instrutor Wanderley Aparecido Justi Junior iniciou as operações d'Os Baeta Dive em Itanhaém, litoral sul de São Paulo. Mesmo estando na época mais voltado a mergulhos recreativos e rasos na Ilha de Queimada Grande e arredores, desde o princípio Junior desejava buscar novos pontos de mergulho. Estabelecendo bom contato com pescadores da região, com o tempo lhe foram confiadas marcas que, possivelmente, indicavam locais interessantes para serem explorados. Recentemente Junior recebeu algumas marcas às quais os pescadores se referiam como "Chatão". Aproveitando a navegação de suas operações regulares, Junior buscou passar por cima delas. Na primeira, encontrou apenas areia no fundo. Contudo, ele possuía esperança quanto à segunda marca e, para explorá-la, decidiu reunir mergulhadores de sua confiança, de maior preparo e que estavam dispostos a arriscar uma saída sem certeza alguma de encontrar algo de interessante no fundo. Assim, em 04 de março de 2018, Junior reuniu o também instrutor Fábio Cunha Lofrano e os mergulhadores Fernando e Luciano Graciani Dolce, João Braia Filho e Lucas Juliano Spinola Costa para a sua expedição. E, como em toda boa expedição, surpresas - tanto boas quanto ruins - os aguardavam. Atentos às condições de calado, a equipe estava preparada para partir da marina por volta das 08h00. Contudo, antes mesmo de atingirem a barra do Rio Itanhaém, Junior percebeu que o motor do Baeta III apresentava problemas, forçando o prematuro regresso da embarcação. Quase sem nenhuma potência e bastante carregado, o flexboat conseguiu lutar contra a corrente vazante e retornar à marina, sendo puxada os últimos metros por colegas e pescadores que estavam no cais. Por sorte, o problema foi rapidamente solucionado, ainda em tempo de conseguir navegar antes da maré baixa. |
![]() Equipe que localizou o Araponga Wanderley Aparecido Justi Junior, Fábio Lofrano,Fernando, Luciano Dolce, João Braia Filho e Lucas Spinola Costa |
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![]() A proa do Araponga |
![]() Guincho de proa |
![]() Muitas garrafas com a inscrição "São Paulo" entre as redes |
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Passada
a barra, iniciou-se a navegação rumo à Ilha de Queimada
Grande. As condições em cima d'água não poderiam
ser melhores: céu sem nenhuma nuvem, vento calmo e mar praticamente
sem ondulação. Esse foi o primeiro bom presságio que
recaiu sobre a equipe, mas que não superaria o que encontrariam embaixo
d'água
Conforme se aproximavam da marca, Junior foi reduzindo
a potência. A profundidade ia chegando perto do que era esperado:
cerca de 30 m. A marca se situava 2 milhas a noroeste da ilha, de modo que
não havia abrigo de vento, ondas ou correntes. Eis que a sonda capta
uma mudança abrupta de profundidade, para perto de 25 m. Definitivamente
havia algo lá embaixo. Prontamente, o Baeta III refez a manobra e,
quando captada novamente a diferença de profundidade, lançou-se
uma garateia amarrada a uma boia. Da superfície, o cabo era visível até cerca de 20 m para baixo (onde ele estava atado a um segundo cabo) e estava praticamente na vertical - sinais, portanto, de boa visibilidade e de ausência de correntes fortes. Prepararam-se, então, para seus mergulhos. |
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![]() Guincho de carga |
![]() Proa do navio |
![]() Popa com o arco e parte do hélice |
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Fábio, Fernando
e Lucas foram os primeiros a descer. Atingindo os 15 m de profundidade,
já conseguiam distinguir o contorno do que, claramente, havia de
ser uma embarcação naufragada. As condições
de visibilidade e corrente não poderiam ser melhores. Descendo
mais um pouco, tiveram a confirmação: o ferro havia garrado
no costado da proa da embarcação! Em seguida, desceram Junior,
João e Luciano - e suas reações foram as mesmas.
Ao todo, a equipe (dividida em dois times de mergulho) realizou quatro
imersões ao naufrágio. O primeiro time, composto de mergulhadores
técnicos, aptos a fazerem descompressão, conseguiu permanecer
mais tempo no fundo e, com isso, captar mais imagens. |
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Confirmação da identidade (Tatiana Melo) | ||
No
dia 4 de março/2018, Tatiana Melo (Instrutora de Mergulho - Captain
Dive/SP) recebeu uma ligação do instrutor Fabio Lofrano
informando que ele e outros mergulhadores haviam acabado de encontrar
um naufrágio nas proximidades da Ilha da Queimada
Grande (SP), durante uma expedição da operadora Os Baeta
Dive. Passada a euforia da descoberta, era hora de identificar o Naufrágio.
Tatiana entrou em contato com o especialista Maurício Carvalho e informou sobre a descoberta, e logo começaram a pesquisa. Como era de se esperar, registros históricos indicavam alguns naufrágios não localizados na região. Tatiana e Mauricio Carvalho analisaram as primeiras imagens subaquáticas do naufrágio, realizadas pela equipe que o localizou, e apesar da boa qualidade das fotos e vídeos, mostrando detalhes do naufrágio, não foi possível identificá-lo. |
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Tatiana
então marcou um mergulho no local com Junior (Os Baeta Dive) e convidou
Rafael Esteves, Daniel Sartor e Rafael Parada da Captain Dive Mergulho para
se juntarem a expedição. Apesar do mar calmo, a água
estava turva no fundo e com correnteza. Mesmo assim, logo no primeiro mergulho
foi possível medir o comprimento e boca do naufrágio e identificar
o tipo motor, dados importantes e que ajudaram a restringir as probabilidades
e os deixaram mais próximos de uma identificação. No
segundo mergulho, passaram algum tempo atentos a detalhes dos destroços
em busca de peças, ou artefatos que pudessem indicar sua carga por
exemplo. Encontraram algumas garrafas, louças quebradas e uma bateria
que parecia ser de caminhão. Mas foi um par de talheres que os trouxe
maiores avanços. Na lateral dos escombros, semi enterrados, encontraram
e fotografaram um garfo e uma colher com a inscrição "CNN
Costeira" (Companhia Nacional de Navegação Costeira).
Mas ainda havia uma surpresa os aguardando, bem escondida, para coroar o
segundo e último mergulho do dia: uma bela cruz, em bronze, enterrada
na areia, próximo às caldeiras do naufrágio. Era o
símbolo da Companhia Nacional de Navegação Costeira
que adernava as chaminés de todos os seus navios. Já na superfície, a euforia tomou conta de todos! Os mergulhos haviam sido muito produtivos! Estavam ansiosos para retornar ao continente e poder enviar todos os registros para a equipe que localizou o naufrágio, e para Maurício Carvalho, que confirmou a identificação do naufrágio: haviam acabado de mergulhar no Vapor Araponga, naufragado após a colisão com o Vapor Venus, na manhã no dia 12 de junho de 1943! |
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Equipe
de naufrágio da Captain Dive
Rafael Parada,Tatiana Melo,Daniel Sartor, Rafael Esteves e Junior (Os Baeta Dive) |
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Garfo
com a marcação da Companhia de Navegação Costeira
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Símbolo
da Companhia de
Navegação Costeira
da chaminé, caída entre os escombros
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![]() 1940 - 1951 Ford Model T Sealed Maitenence Free Valve Regulated Battery https://www.batterycentralmall.com/Batteries/TurboStart/Script/S2HF_R.html |
![]() Bateria de caminhão localizada no fundo |
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Descrição
(Tatiana Melo) O naufrágio está na posição de navegação, com a proa voltada para o continente - 0º. A proa está bem preservada, sobe até 28m. É possível localizar o grande guincho das âncoras e escovéns. A boreste da proa há uma âncora parcialmente enterrada com muitas estruturas caídas sobre ela, e redes de pesca enroscadas. A meia nau o casco está bastante danificado, e não há mais a estrutura do costado em pé. É possível apenas ver os cavernames nas laterais do naufrágio. São encontrados ainda 2 guinchos de carga. Chegando próximo a popa, o casco também está bem preservado. É possível ver uma caldeira quase toda enterrada, com muitas chapas sobrepostas. Também há carvão nessa região. Na direção das caldeiras, parcialmente enterrada na areia a boreste do costado, está a cruz de bronze, símbolo da companhia de navegação. Continuando em direção a popa está o motor a vapor de tripla expansão, ainda em pé, com os cilindros muito bem preservados. É possível ver registros do sistema de vapor. Os virabrequins estão enterrados, assim como o eixo. Na sequência, no lado de bombordo estão caixotes com garrafas de vinho. |
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As
máquinas estão muito próximas à popa, confirmando
a imagem que temos do navio navegando como TYRO. Na popa, que sobe até
28 metros, ainda é possível ver o arco do hélice e
o hélice, com apenas uma pá visível. Ao redor de todo o casco do navio, são encontradas muitas chapas caídas e algumas enterradas. A profundidade máxima é de 32,5m. Em várias peças e regiões do navio são encontradas redes de pesca, o que exige maior atenção e cuidados extras por parte dos mergulhadores. |
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shipwreck in brazil |