O 4º e 5º navios torpedeados pelo U-507
07.08.1942 - O mais covarde dos ataque do eixo
O Itagiba e o Arará são atacadas em sequência, durante o salvamento dos náufragos
O Itagiba
O Itagiba foi um dos famosos ITAs da Companhia Nacional de Navegação Costeira, que cobriam todo o litoral brasileiro.
Foi construído em 1913 pelos estaleiros Ailsa Shipbuilding Company em Troon na Inglaterra e incorporado a companhia no mesmo.
Possuía 87,5 metros de comprimento e 13 metros de boca, com um deslocamento de 2.169 toneladas. Suas máquinas do tipo Triple Expansion Engine de 99HP permitiam uma velocidade de 10 nós.
Com uma tripulação de 69 homens era um paquete eminentemente de passageiros, com capacidade de transportar 120 passageiros em três classes.
Os famosos ITAs da Companhia de Navegação Costeira formaram um dos conjuntos de navios mais populares do Brasil na primeira metade do século XX, circulando de Manaus a Porto Alegre é lembrado em verso e música. “Peguei um ITA no norte … Para vim no Rio morar… Adeus meu pai minha mãe… Adeus Belém do Pará.
FICHA TÉCNICA
DADOS HISTÓRICOS
Nome do navio: Itagiba
Data do Naufrágio: 17.08.1942
Local: 9 milhas do Farol do Morro de São Paulo. BA.
Tipo de embarcação: paquete
Armador: Companhia Nacional de Navegação Costeira
Nacionalidade: brasileira
DADOS TÉCNICOS
Estaleiro: Ailsa Shipbuilding Company, (Troon – Inglaterra)
Início da construção: 1913
Dimensões: comprimento: 87,5metros – boca: 13 metros
Deslocamento: 2.169 toneladas
Material do casco: aço
Propulsão: 2 Triple Expansion – 99HP. 1 hélices – 10 nós
Tripulação: 60 tripulantes e 119 passageiros (total 179)
A Segunda Grande Guerra
Durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial o conflito parecia apenas um leve eco dos acontecimentos da Europa. Somente alguns episódios isolados e esporádicos como os afundamentos em 1939 e 1941 dos navios alemães encouraçado Graf Spee no Uruguai e o Wakama ao largo de Búzios, RJ. lembravam que o país estava à margem de um grande conflito.
Porém, em 1942 essa confortável situação mudaria. Em dezembro de 1941, com o ataque do Japão a Pearl Harbor, os Estados Unidos entram na guerra, contra o pacto tripartite do eixo, do qual faziam parte a Alemanha, Itália e o Japão.
Em dezembro de 1941, Doenitz, o comandante da Marinha de Hitler, decide utilizar os U-boats para dar início a uma campanha de ataque ao tráfego marítimo comercial ao longo da costa leste dos Estados Unidos, visando cortar as linhas de suprimentos.
Esta campanha, conhecida como Paukenschlag (batida de tambor), provocaria a partir de janeiro de 1942 a perda de milhões de toneladas brutas aos aliados.
Diante da flagrante agressão a um país pan-americano, as demais nações do continente não podiam ficar passivas. Em janeiro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro, é realizada uma reunião com os países da América. Devido à resolução Nº 5 desta reunião, o governo brasileiro decide cortar relações diplomáticas e comerciais com as nações do eixo; decisão que fortalecia a ideia de uma futura declaração de guerra. Além disso, os Estados Unidos pressionava e oferecia vantagens para que o Brasil permitisse a instalação de bases americanas em território brasileiro.
Em fevereiro de 1942, o governo adota as primeiras medidas preventivas de defesa. São tomadas precaução defensivas ao longo da costa do país e são convocados para serviço ativo os reservistas da Marinha com menos de 40 anos de idade.
A operação Paukenschlag de Doenitz, teria consequências também para o Brasil. De fevereiro a julho de 1942, 12 navios mercantes brasileiros foram afundados ao longo das costas das Américas por submarinos Italianos, mas na sua maioria alemães. Entre eles estavam o: Buarque (14.02 ), Olinda (18.02), Cabedello (25.02), Arabutã (07.03), Cayru (08.03), Parnahyba (01.05), Gonçalves Dias (24.05), Alegrete (01.06), Pedrinhas (26.06), Tamandaré (26.07), Piave (28.07) e Barbacena (28.07), Antônico (28.09) e o Apalóide (22.11).
Mas em julho de 1942, as agressões se intensificaram.
O torpedeamento
Em julho de 1914 o Alto Comando alemão emitiu ordens para que uma flotilha de submarinos seguisse para o Atlântico sul. Entre eles estava o U-507 do Capitão-de-Corveta Harro Schacht, então com 35 anos e que já tinha atuado em missões anteriores afundando 9 navios no Atlântico Norte.
No final da tarde do dia 15 e 16 de agosto, a poucas milhas do farol do Rio Real (SE) o U-507 tinha atacado e afundando em menos de 12 horas o Baependy e o Anibal Benévolo do Lloyd Brasileiro e o paquete Araraquara do Lloyde nacional. Porém, como ainda haviam torpedos a bordo, o capitão Harro decidiu descer mais o litoral, para rondar a entrada da Bahia de Todos os Santos em Salvador.
O Itagiba partiu do Rio de Janeiro no dia 13 de agosto com destino a Recife sob o comando do Capitão de Longo Curso José Ricardo Nunes que comandava 60 tripulantes. A bordo estavam 121 passageiros, 10 passageiros na 1º classe e a segunda parte do 7º Grupo de Artilharia de Dorso que não couberam no Baependy, torpedeado dois dias antes na altura do farol do Rio Real (SE.).
Navegava a escoteiro, já que as baixas velocidade e excesso de fumaça deixava muitos navios fora dos comboios protegidos e organizados pela Marinha americana, que agora já operava em nosso litoral. A imprensa falava muito da ação de espiões e da quinta coluna, que por coincidência ou não atingira os dois navios que transportavam o batalhão de artilharia de costa.
O Itagiba escalou em Vitória (ES) dia 15, largando do porto na noite do dia 16. Às 10:55 horas do dia 17 de agosto, quando estavam a 9 milhas da costa, no través de Morro de São Paulo e já com a Baía de Todos os Santos a vista, subitamente houveram dois impactos e explosões sucessivas no costado de boreste.
O imediato conta que: “as 10:50 horas organizava em seu camarote o exercício de salvamento a ser realizado ao meio dia”. Correu para às baleeiras, assim como grande parte dos passageiros da 3ª classe.
Narração do Dr. Hélio Veloso morador de Salvador
“… ninguém suspeitava, nem de leve, que estivéssemos prestes a sofrer qualquer agressão. 0 ataque verificou-se quando a terra já estava nossa vista, à altura do Morro de São Paulo. O Itagiba foi colhido em cheio por dois torpedos, cuja explosão fez voar destroços por todos os lados e inutilizou duas das 8 baleeiras.
Estabeleceu-se pânico a bordo. A tripulação procurava acalmar os passageiros, ao mesmo tempo em que tomava medidas urgentes para o salvamento de todos. Seis baleeiras foram arriadas e duas inutilizadas pela explosão. Os passageiros e tripulação começaram imediatamente a abandonar a embarcação.
Com o navio fortemente adernado, lancei-me ao mar. Perdi meu salva-vidas e o deslocamento da água por causa do afundamento do navio puxou-me para o fundo. Quando voltei a tona, encontrei apenas destroços. Agarrei-me a um deles… Mais tarde já dentro de uma baleeira comecei a socorrer muitos feridos”
O depoimento do soldado do 7ª Grupo de Artilharia Pedro Paulo Figueiredo Moreira
“ Com o navio totalmente adernado, joguei me ao mar decidido a me salvar. Fui sugado pelas águas, por causa do afundamento. Depois de voltar à tona, fiquei agarrado a um pedaço de madeira recuperando o fôlego. Foi quando se deparou com cenas que jamais imaginaria assistir:
“Vi companheiros serem puxados por tubarões, dando gritos de dor e desaparecendo em seguida. Depois alcancei uma baleeira e foi recolhido pelo iate Aragipe, sendo posteriormente levado para a cidade de Valença”.
O navio levou cerca de 10 minutos para afundar, o que permitiu que muitos passageiros e tripulantes embarcassem nas baleeiras. Alguns homens se atiram ao mar e se debateram na tona. Nesse momento passa pelo local do afundamento o iate Aragipe, presenciando o naufrágio e começa a recolher os sobreviventes. O iate se reúne as demais baleeiras e com 70 pessoas abordo, segue em direção a terra, temendo um ataque do submarino.
O Arará
A primeira grande dúvida repousa sobre o nome da embarcação Arará ou Arara? O termo Arará em dicionário, refere-se a uma ave aquática do Rio Grande do Sul, também conhecida como Biguatinga (Bigua), mas não conseguimos determinar se realmente a origem é essa. No entanto, não há dúvidas na grafia do navio, o Arará era muito ativo no transporte de carga no comércio e cabotagem e os avisos de embarque são frequentes nos jornais do período.
O Arará era um típico cargueiro de três castelos do início do século XX, construído e lançado ao mar em 1907 nos estaleiros de Hawthorn Leslie Co. em New Castle no rio Tine na Inglaterra.
Segundo alguns autores, o navio encomendados pela Rússia Steam Navegation Trading Company de Odessa, com o nome Beshtau, porém na lista de navios da companhia não existem registros desse navio. Apresentava 73,2 metros de comprimento e 17,5 metros de boca, com um deslocamento de 2.169 toneladas, sendo impulsionado por máquinas a vapor do tipo Triple Expansion Engine, atingindo 7 nós.
Em 1925 foi vendido para a Companhia Próspera Carbonífera e rebatizado Providência. Em 1933 aparece na capitania do Rio de Janeiro como Serra azul Serras de Navegação e Comércio, Rio de Janeiro. Envolvido em problemas financeiros em em 1935 foi registrado na capitania do esporte do Rio de Janeiro sobre o número 401, como Arará do Loyde.
Depois de 40 anos de serviço, duas colisões e um encalhe em Itapuã (BA.) já não estava em bom estado.
FICHA TÉCNICA
DADOS HISTÓRICOS
Nome do navio: Arará
Data do Naufrágio: 17.08.1942
Local: 9 milhas do Farol do Morro de São Paulo. BA.
Tipo de embarcação: cargueiro
Armador: Cia Serras de Navegação Comercial
Nacionalidade: brasileira
DADOS TÉCNICOS
Estaleiro: Hawthorn Leslie Co. (New Castle – Inglaterra)
Início da construção: 1907
Dimensões: comprimento: 73,2 metros, boca: 17,5 metros
Deslocamento: 2.169 toneladas
Material do casco: aço
Propulsão: a vapor Triple Expansion, 570 HP, 7 nós.
Tripulação: 35 tripulantes
Carga: Ferro velho
O torpedeamento
Apesar de já serem conhecidos os ataques na costa de Sergipe aos navios brasileiros nos dias anteriores, o Arará, um cargueiro de 1.075 toneladas da Companhia Serras de Navegação Comercial, com uma carga de sucata, foi autorizado a partir a escoteiro (sozinho) de Salvador (BA) para o Rio de Janeiro.
Segundo o relato de seu comandante José Coelho Gomes “deixada a Baía de Todos os Santos, o Arará navegava acompanhando a costa e passava pouco da Ilha de Itaparica quando visualizou ao longe as chamas, do Itagiba.
O iate Aragipe havia recolhido muitos náufragos e junto com algumas baleeiras seguia em direção a costa, com medo de serem atacados pelo submarino.
O comandante José Gomes seguiu rumo de interceptação do iate e se aproximar fez parar as máquinas e arriar duas baleeiras cada uma com cinco homens, afim de apanharem os náufragos a bordo do iate.
O Arará já estava com 18 náufragos a bordo, quando a boreste é visto o rastro de um torpedo. Com o forte impacto e a explosão, o comandante levou uma pancada na cabeça, perdeu os sentidos e só foi reanimado pela água quando já era recolhido por uma baleeira.
O navio é atingido, se parte ao meio e afunda rapidamente. As baleeiras foram arriadas com muita dificuldades. Alguns escaleres ficaram amarrados, porém foram desvencilhados milagrosamente. Não havia passageiros à bordo a não ser os 18 do Itagiba já embarcados e dos 35 tripulantes, morreram 20. O Tenente Alípio de Andrade do 7º grupo de artilharia, durante o naufrágio do Itagiba passou o seu salva vida a um soldado e lançou-se ao mar, foi resgatado pelo Arará, que ao ser torpedeado vitimou o militar.
No Itagiba, dos sessenta tripulantes, pereceram nove, e dos 121 passageiros, 30. O Capitão José Ricardo e todos os oficiais se salvaram. Do Arará pereceram 20 tripulantes. Os sobreviventes dos naufrágios, foram desembarcados e atendidos nos hospitais de Valença.
Sobreviventes do 7º Grupo de Artilharia de Dorso que estavam no Baependy e no Itagiba.
Após o ataque
Não se sabe se o serviço do U-507 já estava feito, se a presença de aviões de patrulha ou a aproximação do Cruzador Rio Grande do Sul, afastou o submarino. O saveiro Deus do Mar retirou da água muitos dos 150 náufragos resgatados.
O U-507 não deixou a área imediatamente. Já a noite, eles abordaram a barcaça Godiva, se apoderaram de combustível, víveres e outros itens e liberaram a embarcação. Depois disso, os relatórios alemães registram que o submarino foi obrigado a vir à superfície para reparos na porta do tubo dos torpedos. Um avião norte-americano o atacou e sofreu a reação das armas anti aéreas.
Mais tarde, passou pela área um cargueiro sueco de 4.900 toneladas, que também foi atacado e atingido por um torpedo, que não explodiu.
A última vítima do U-507 foi a barcaça Jacira que transportava piaçava, garrafas e peças de caminhão e foi atacada e posta a pique na manhã do dia 19 a 10 milhas da barra do rio Itariri (BA), com cargas de detonação. O Mestre Norberto Hilário dos Santos, os 5 tripulantes e um passageiro se salvaram.
No dia 22 foi encontrada vagando vazia pelo mar uma das baleeira do Arará.
Ações subsequentes e as consequências
Em um intervalo de menos de 12 horas, o U-507 afundou o Baependy, Araraquara e o Aníbal Benévolo, causando a morte de 551 brasileiros. Em 2 dias seriam afundados o Baependy, Araraquara, Anibal Benévolo, Arará, Itagiba e Jacira, totalizando perdas de mais de 14.000 toneladas brutas para a já fragilizada frota nacional.
As articulações políticas americanas, a pressão da imprensa e a reação popular aos ataques sucessivos, o povo na rua pedia guerra, levaram o Presidente Getúlio Vargas no dia 22 de agosto de 1942 a declarar guerra aos países do Eixo.
O povo do Rio de Janeiro comprou para doação um avião Catalina PBY de patrulha e salvamento para a aeronáutica. Esse avião foi batizado de Arará e em setembro de 1942 participaria do ataque e afundamento do U-199 em frente a cidade do Rio de Janeiro.
O Arará comprado pelo povo do Rio de Janeiro para a força aérea e seu ataque ao U-199 na costa do Rio
Em menos de dois dias as cinco vítimas do U-507
Baependy (15.08) de 4.801 toneladas
Araraquara (16.08) de 2.169 toneladas
Anibal Benévolo (16.08) de 1.905 toneladas
Arará de 1.500 toneladas (17.08)
Itagiba (17.08) de 1.905 toneladas