3º navio torpedeado pelo U-507
17.08.1942 a pior perda do Brasil na costa de Sergipe
Do Jupiter ao Anibal Benévolo
Este vapor foi construído entre 1904 e 1905 nos estaleiros da Reiherstieg Schiffswerf & Maschfbk em Hamburgo na Alemanha para a empresa Hamburg-Súdamerikanische e lançado ao mar com o nome de Júpiter.
Possuía 82,2 metros de comprimento, 11,5 de boca deslocando 1.905 toneladas.
Suas máquinas de tripla expansão permitiam uma velocidade de 10 nós.
Ele foi comissionado para a empresa brasileira associada à Hamburg Sud, a Companhia de Navegação Cruzeiro do Sul, RJ.
Entre 1907 foi vendido ao Lloyde Brasileiro. No dia 15 de agosto de 1914 o vapor Júpiter bateu em uma pedra submersa na saída do porto de Florianópolis, próximo à fortaleza de Santa Cruz. O choque causou um rombo no casco do porão, o que obrigou o comandante a encalhar o navio em uma praia próxima. O navio foi reparado e voltou a navegar.
Em 1916 foi rebatizado de Ruy Barbosa, em 1922 rebatizado como Commandante Alvim II e finalmente em 1930 é rebatizado Anibal Benévolo. Nome em homenageava a um jovem oficial morto em 1924 no Rio Grande do Sul, durante o levante tenentista.
Em alguns anúncios da companhia o nome do navio é escrito como Annibal Benévolo, porém nenhuma foto do navio com o nome visível gravado no casco foi encontrada.
Do anúncio dos vapores do Lloyd Brasileiro iriam para o fundo o Affonso Penna (03.1943 – 2ª guerra), Annibal Benévolo (08.1942 – 2ª guerra), Miranda (04.1941, encalhe no Espírito Santo), Lages (09.1942 – 2ª guerra), Ayuruoca (06.1945 – choque em Nova York), Siqueira Campos (08.1943 – encalhe no Ceará) e o Bagé (07.1943 – 2ª guerra)
FICHA TÉCNICA
DADOS HISTÓRICOS
Nome do navio: Anibal Benévolo
Data do Naufrágio: 17.08.1942
Local: 15 milhas do farol de Estância, SE.
Tipo de embarcação: paquete
Armador: Lloyde Brasileiro
Nacionalidade: brasileira
DADOS TÉCNICOS
Estaleiro: Reiherstieg Schiffswerf & Maschfbk (Hamburgo)
Período de construção: 1904 a 1905
Dimensões: comprimento: 82,2 metros – boca: 11,5 metros
Deslocamento: 1.905 toneladas
Material do casco: aço
Propulsão: a vapor Triple Expansion Engine, 500 HP, 10 nós.
Tripulação: 60 tripulantes e 121 passageiros (total 181).
A Segunda Grande Guerra
Durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial o conflito parecia apenas um leve eco dos acontecimentos da Europa. Apenas alguns episódios isolados e esporádicos como os afundamentos em 1939 e 1941 dos navios alemães encouraçado Graf Spee no Uruguai e o Wakama ao largo de Búzios, RJ. lembravam que o país estava à margem de um grande conflito.
Porém, em 1942 essa confortável situação mudaria. Em dezembro de 1941, com o ataque do Japão a Pearl Harbor, os Estados Unidos entram na guerra, contra o pacto tripartite do eixo, do qual faziam parte a Alemanha, Itália e o Japão.
Em dezembro de 1941, Doenitz, o comandante da Marinha de Hitler, decide utilizar os U-boats para dar início a uma campanha de ataque ao tráfego marítimo comercial ao longo da costa leste dos Estados Unidos, visando cortar as linhas de suprimentos.
Esta campanha, conhecida como Paukenschlag (batida de tambor), provocaria a partir de janeiro de 1942 a perda de milhões de toneladas brutas aos aliados.
Diante da flagrante agressão a um país pan-americano, as demais nações do continente não podiam ficar passivas. Em janeiro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro, é realizada uma reunião com os países da América. Devido à resolução Nº 5 desta reunião, o governo brasileiro decide cortar relações diplomáticas e comerciais com as nações do eixo; decisão que fortalecia a ideia de uma futura declaração de guerra. Além disso, os Estados Unidos pressionava e oferecia vantagens para que o Brasil permitisse a instalação de bases americanas em território brasileiro.
Em fevereiro de 1942, o governo adota as primeiras medidas preventivas de defesa. São tomadas precaução defensivas ao longo da costa do país e são convocados para serviço ativo os reservistas da Marinha com menos de 40 anos de idade.
A operação Paukenschlag de Doenitz, teria consequências também para o Brasil. De fevereiro a julho de 1942, 12 navios mercantes brasileiros foram afundados ao longo das costas das Américas por submarinos Italianos, mas na sua maioria alemães. Entre eles estavam o: Buarque (14.02 ), Olinda (18.02), Cabedello (25.02), Arabutã (07.03), Cayru (08.03), Parnahyba (01.05), Gonçalves.Dias (24.05), Alegrete (01.06), Pedrinhas (26.06), Tamandaré (26.07), Piave (28.07) e Barbacena (28.07), Antônico (28.09) e o Apalóide (22.11).
Mas em julho de 1942, as agressões se intensificaram.
O torpedeamento
Em julho de 1914 o Alto Comando alemão emitiu ordens para que uma flotilha de submarinos seguisse para o Atlântico sul. Entre eles estava o U-507 do Capitão-de-Corveta Harro Schacht, então com 35 anos e que já tinha atuado em missões anteriores afundando 9 navios no Atlântico Norte.
No final da tarde do dia 15 de agosto, a 20 milhas do Rio Real (SE) o U-507 tinha lançado um torpedo e afundando o Baependy do Lloyd Brasileiro e logo depois também atacou e afundou, o paquete Araraquara, que utilizava a mesma rota do Baependy.
O Anibal Benévolo zarpou do porto do Rio de Janeiro sem seu capitão efetivo, o senhor Pedro Gonçalves Perdigão, que deixou de seguir viagem por motivo de doença. No comando estava o capitão Henrique Jacques Mascarenhas da Silveira liderando 63 tripulantes. A vítima da vez navegava a escoteiro, já que as baixas velocidade e excesso de fumaça deixava muitos navios fora dos comboios protegidos e organizados pela Marinha americanas, que agora já operava em nosso litoral.
O Anibal, juntamente com o Araraquara aportou em Salvador, BA. as 8:00 hs para conserto no sistema de água do navio. Partiu de Salvador às 04:15 horas, uma hora depois do Araraquara com destino a Aracaju.
Às 4 horas da madrugada, o comandante estava no passadiço , supervisionando a troca de turnos e o navio navegava a apenas 8 milhas da costa somente com as luzes de navegação acesas, como as normas previam. O capitão não sabia que nesse momento o Baependy e o Araraquara já haviam sido afundados pelo U-507
O Farol do Rio Real era visível quando às 4:16 horas, na posição 11º 41′ sul e 37º 21′ oeste o navio foi atingido por um torpedo a boreste na popa na altura da 3ª classe.
O navio começou a adernar e o imediato, percebendo que o barco afundava, tentou fazer funcionar a sirene de alarme, enquanto o comandante tentava baixar uma das baleeiras salva-vidas. Segundo o comandante, o imediato não conseguiu retornar da sala de comando e não houve tempo sequer para pânico.
As 4:15 horas da madrugada a maioria dos passageiros estava em suas cabines dormindo e nem tiverem tempo de subir ao convés, o que provocou a maioria das mortes. O navio afundou em menos de dois minutos lançando muita água para cima e arrastando com sigo todos os 76 passageiros entre eles muitas mulheres e crianças e a maioria dos 63 tripulantes.Os navios brasileiros seguiam as regras recentemente impostas pelo Estado Maior da Marinha, onde se recomendava os comboios e caso não fosse possível, a rota deveria ser bem próximo da costa e apenas com as luzes de navegação acesas.
Segundo os relatos de vários náufragos dos navios atacados, essas medidas foram tomadas, tanto que, os sobreviventes do Baependy alcançaram a costa ao amanhecer do dia seguinte. O Anibal Benévolo estava a 7 milhas da costa e o Itagiba e o Arará podiam visualizar a praia”.
O Anibal Benévolo, assim como outras vítimas navegava a escoteiro (sozinho), os navios brasileiros eram lentos e esfumaçavam muito. Assim, não eram aceitos nos comboios com proteção americana.
O comandante se atirou ao mar e com dificuldade conseguiu retornar à superfície. Durante 30 minutos lutou se agarrando a destroços até que conseguiu alcançar um pequeno escaler. Com o clarear avistou três tripulantes. Improvisaram um mastro e uma vela e durante 18 horas navegara até que à noite chegaram numa praia deserta 5 léguas ao sul do do Rio Real. Vencer a arrebentação exigiu grande esforço até que chegaram em terra completamente exaustos.
A praia se ligava a dunas sem nenhuma viva alma. Segundo seu relato andaram ainda por dois dias, descansaram em uma cabana até que chegaram a um povoamento de onde foram transportados a Aracaju.
Os quatro náufragos na baleeira eram todos tripulantes acordados na hora do ataque, entre eles o comandante Henrique da Silveira, um cozinheiro, um foguista e um moço de convés, que foram dar à costa ao sul do farol de Estância. O Aníbal Benévolo faria escala no porto de Aracaju e o clima da cidade era de consternação, pois diversas vítimas eram moradores local.
Comandante Henrique Jacques Mascarenhas da Silveira
Ações subsequentes e as consequências
Depois do Baependy, Araraquara e do Anibal Benévolo, o U-507 faria outras vítimas no dia seguinte. No dia 17 o Itagiba, um pouco mais ao sul na costa da Bahia e o Arará, que parou para prestar socorro ao Itagiba.
Em um intervalo de menos de 12 horas, o U-507 afundou o Baependy, Araraquara e o Aníbal Benévolo, causando a morte de 551 brasileiros. Em 2 dias seriam afundados o Baependy, Araraquara, Anibal Benévolo, Itagiba, Arará e Jacira, totalizando mais de 14.000 toneladas brutas.
As articulações políticas americanas, a pressão da imprensa e a reação popular aos ataques sucessivos, levaram o Presidente Getúlio Vargas no dia 22 de agosto de 1942 a declarar guerra aos países do Eixo.
Em menos de dois dias as cinco vítimas do U-507
Baependy (15.08) de 4.801 toneladas
Araraquara (16.08) de 2.169 toneladas
Anibal Benévolo (16.08) de 1.905 toneladas
Arará de 1.500 toneladas (17.08)
Itagiba (17.08) de 1.905 toneladas