Especial – Encouraçado Solimões

Grande tragédia da Marinha do Brasil

19.05.1882 - Cabo Polonio, Uruguai - Texto: Maurício Carvalho

Os monitores

Solimoes uss monitorEssa classe de navio foi nomeada a partir do navio USS Monitor projetado em 1861 e que participou da Guerra Civil Americana, travando como o USS Merrimac a primeira batalha entre navios couraçados.
Eram navios de perfil baixo e por isso com pouca área para serem atingidos, dotados de uma couraça de proteção e de uma torre de canhão giratória.
Apesar de apresentarem compartimento estanques não apresentavam boa capacidade de navegação, principalmente em mares agitados. Seu principal objetivo era realizar bloqueios e proteção de baías e rios.
O USS Monitor acabou afundando devido ao mar agitado em dezembro de 1862 no Cabo Hatteras, nos Estados Unidos.


O Solimões

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Monitor Javari que deu nome a classe desses navios na Marinha Imperial

Dois monitores oceânicos, o Javari e o Solimões, pertencentes à classe Javari foram mandados construir pela Marinha Imperial a um custo de 3.000:000 $ entre 1874 e 1875 nos estaleiros da Cie de Froges-et-Chantiers, de La Seyene e do Havre, na França.
O objetivo era atuar tanto no oceano como nos rios, graças a seu baixo calado, com alto poder de fogo. No seu lançamento eram as unidades mais blindadas e armadas de toda a esquadra.
Apresentavam 73,2 metros de comprimento, 17,4 metros de boca e 3,5 metros de calado, deslocando 3.700 toneladas. O casco de ferro apresentava sete compartimentos estanques e a ventilação interna era fornecida por dois ventiladores, um aspirava o ar viciado e o segundo injetava ar novo no interior do navio.
Solimoes 9
Eram navios encouraçados, com uma forte blindagem de 304 milímetros à meia nau e nas torres dos canhões; 177 milímetros na proa e popa, 76 milímetros no convés e 101 milímetros na torre de comando.
Seu armamento era formado de duas torres giratórias de 8,3 metros de diâmetro exterior e 6,1 meros de diâmetro interior e eram movidas por máquinas a vapor ou simplesmente por um cabrestante. Cada torre possuía 2 canhões de 234 mm Whitworth, que lançavam projéteis hexagonais de 200 a 350 kg de peso a uma distância de até 11.000 metros.
Além disso, havia mais 2 canhões de 37 mm. Nordenfelt e 4 metralhadoras de 25 mm.
Os navios com baixo perfil, eram impulsionados por duas máquinas alternativas de dois cilindros (1,2 e 1,72 m de diâmetro) no sistema Wolf, com 125 rotações por minuto, produzindo 2.500 HP que movimentava dois hélices de 3 metros de diâmetro, permitindo atingir uma velocidade máxima de  11 nós.
As caldeiras cilíndricas continham 16 fornalhas e os paióis de carvão comportam 200 toneladas. O Solimões era iluminado com luz elétrica, produzida por uma máquina de 400 hp. Apresentava uma chaminé e ainda três mastros de vela auxiliares.
Segundo navio da classe, o Solimões foi incorporado a Marinha em 23.04.1875 e batizado em homenagem a um dos afluentes formadores do Rio Amazonas.
Já no Brasil, o navio mostrou ser muito lento e de difícil navegabilidade em mar agitado. Novos lemes foram instalados em 1880 e 1881, porém, a borda baixa impedia a realização de operações com mar agitado, sendo os monitores destinados a permanecer como baterias flutuantes no interior de baías e operar nos rios, com uma tripulação reduzida de 61 homens.
Em março de 1880, o Solimões com avaria nas máquinas ficou a deriva por dias fora da ilha Grande, sendo localizado depois de buscas a sete milhas ao sul da Ponta de Cairussú, de onde foi rebocado de volta para o porto do Rio de Janeiro. Em 1889, passou por novas reformas e melhorias nos armamentos.
A partir do início do governo de Floriano Peixoto (1891) houve uma série de revoltas, entre elas, a Revolta da Armada (1889) a qual o Solimões participou ao lado da esquadra legalista, enquanto o Javari estava ao lado da esquadra rebelada. 
Solimoes canhao 2 Solimoes canhao 1
Torre circular dos monitores com canhão de 234 mm – Inscrições em um dos canhões dos couraçados brasileiros reutilizados

FICHA TECNICA
DADOS BÁSICOS
Nome do navio: Solimões
Data do naufrágio: 19.05.1892
Nacionalidade: brasileira
Armador: Marinha do Brasil
Comandante: Capitão de mar e guerra Fernando Xavier de Castro.
Tipo: Encouraçado tipo monitor, classe Javari

DADOS TÉCNICOS
Ano de construção: 1875
Estaleiro: Forges-et-Chantiers de la Mediterranée (Havre França)
Dimensões: comprimento: 73,2 m. boca: 17,4 m; calado: 3,5 metros
Deslocamento: 3.700 toneladas.
Máquinas: alternativas  2500 HP. 2 hélices – vel. máx. 11 nós.
Armamento: 4 canhões 234 mm Whitworth (2 torres), 2 canhões de 37 mm. (Nordenfelt) 4 metralhadoras de 25 mm.

O naufrágio

Solimoes 7No dia 26 de março de 1892, sob o comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra Fernando Xavier de Castro e uma tripulação de 135 homens, o encouraçado saiu do porto do Rio de Janeiro seguindo junto com outras unidades para manobras na Ilha Grande e seguindo depois para Santos e Desterro (Florianópolis).
Nesse momento, a Marinha determinou para combater um desses movimentos separatistas, a formação de uma força naval constituída pelos encouraçados fluviais Solimões e Bahia, a canhoneira Cananéia e o monitor Rio Grande do Norte entre outras unidades menores.
Durante o trajeto, o Solimões recebeu por telégrafo, ordens de seguir para Montevidéu no Uruguai onde, junto a outras unidades, através da Bacia do Prata subiriam o rio Paraguai até Corumbá, na então província do Mato Grosso, para dar apoio as tropas legalistas que combatiam a revolta.
Solimoes noticiaNo dia 13 de maio a esquadra reteve-se por alguns dias no porto de Santa Catarina devido ao mau tempo e um desarranjo nas máquinas do Solimões.
Com a melhora do tempo, a esquadra partiu do Desterro, porém no dia 18, o mau tempo voltou a atingir os navios na altura da costa do Rio Grande do Sul, onde caiu sobre eles um forte Pampeiro. Esse vento de quadrante sudoeste que trás forte cerração e típicos do sul do país e já vitimou muitos navios entre eles o Rio Apa (1887).
No dia 20 de maio passou em frente à barra do Rio Grande (RS) e nesse ponto, ocorreu o último avistamento do monitor Solimões.
Segundo os cinco tripulantes que sobreviveram. No dia 19 de maio o Solimões vinha navegando com dificuldade devido ao mar agitado e suas características de construção. O monitor passava pelo farol do Cabo Polônio a 80 quilômetros ao sul do Chuí e a primeira projeção do litoral Uruguaio. O nome do local, com ilhas e pedras que se projetam para o mar é uma homenagem ao navio espanhol Polonio, naufragado no local em 1735 e a partir daí o local provocou diversos naufrágios.
Várias hipóteses sobre a causa do naufrágio do Solimões circularam devido a grande comoção nacional e cobertura da imprensa.
Falou-se que o constante bater da embarcação contra as ondas abriu algumas chapas, que se soltaram e o navio começou a fazer água no mar agitado. Foi publicado inclusive que os sobreviventes sabotaram o navio, visto que “todos tiverem tempo de vestir as melhores roupas, casacos, pegar dinheiro e entrar no bote”. O fato não tem nada de estranho. O uso dos casacos do uniforme no clima frio e levar seu dinheiro no próprio corpo. Na época, sem cartão e Pix, era comum o transporte do dinheiro em uma bolsa (a atual doleira) carregada na barriga sob as roupas.
Solimoes posicaoA hipótese que parece ser mais viável foi a que circulou pelos telegramas de Montevidéu e foi publicada nos jornais locais. Segundo ela, o Solimões aproximou-se muito da costa, empurrado pelos fortes ventos e sem boa forma de navegar devido a máquinas obsoletas. Com à cerração acabou por bater nas pedras do Cabo Polonio, entre as ilhas Rasa e Ponta Negra onde ficou preso.
Por volta das 22:00 horas o comandante Xavier de Castro, avaliando o perigo iminente em que se achava o navio, ordenou que um grupo de tripulantes fosse para a terra em um bote pedir ajuda. No grupo estavam o enfermeiro José Correa Maguena, líder do grupo, três marinheiros e um foguista.
Os tripulantes fizeram o possível para remar para terra no mar agitado e quando já estavam afastados do navio e quase na praia ouviram uma forte explosão, que julgaram ser de uma das caldeiras, quando a água fria a atingiu. Destroços voaram a grande distância, ouviram-se alguns gritos e em menos de dois minutos não viram mais o navio. Mais tarde chegaram a terra sendo os únicos sobreviventes.
Os telegramas enviados do Uruguai fizeram o Comando Geral da Armada dar ordens ao Aquidabã para se preparar para partir, no entanto, a medida que as notícias chegavam e diante do quadro tão desolador, determinou-se a contra ordem, já que não haviam medidas emergenciais que pudessem diminuir a tragédia.
 Solimoes posicao2 Solimoes Cabo Polonio
O Cabo Polonio é a primeira projeção do litoral do Uruguai de quem segue do Chuí para Montevidéu. O local apresenta ilhas e rochas ao largo da costa

Em socorro dos náufragos partiram do porto de Rio Grande o encouraçado Bahia e o Itacolomy e do porto de Montevidéu, o rebocador Emperor e a canhoneira General Artigas.
Os navios uruguaios chegaram ao local do sinistro, percorreram todas as suas imediações sem contudo, ter encontrado o menor vestígio do Solimões.
Da tripulação do Solimões de 135 homens pereceram toda a oficialidade e boa parte da guarnição. O Capitão Fernando Castro, uma das vítimas, havia sido um dos poucos sobreviventes do naufrágio da Corveta Isabel (1860) nas costas de Marrocos.
Do naufrágio, salvaram-se, apenas, o enfermeiro José Correia Maguena os três marinheiros e o foguista que foram a terra em busca de socorro.
O Naufrágio nunca teve as causas totalmente esclarecidas, mas os eventos trágicos foram amplamente cobertos pela imprensa da época


O monitor Javari também naufragou

Solimoes posicao javari 2o 1Solimoes javari 5O Javari (semelhante ao Solimões) foi uma das embarcações que aderiram ao levante durante a Revolta da Armada (1893), fazendo parte da armada revoltosa.
Ele já estava sem propulsão própria e era mantido ancorado na Ponta da Armação (Niterói) na Baía de Guanabara (RJ.), como bateria flutuante, responsável por defender o depósito de munição e uma das bases dos revoltosos.
No dia 22 de novembro de 1893, estava ancorado entre a Ponta do Calabouço e a Ilha de Villegaignon, durante uma troca de tiros com as baterias do forte São João (fortaleza da margem do Rio de Janeiro)  que protege a entrada da Baía de Guanabara.
A couraça em mal estado, não resistiu aos impactos e a munição penetrou na popa.
Ainda se tentou rebocar o monitor, retirando o navio do alcance das fortalezas, mas ele acabou afundando. As informações são de que ele submergiu lentamente ainda atirando e que após seu naufrágio, os depósitos da Ponta da Armação foram tomados pelas tropas legalistas, o que acelerou o final da revolta.
Pode ser que hoje o casco do monitor Javari esteja embaixo do aterro realizado para a construção do aeroporto Santos Dumont em 1936.
Mas, considerando o trabalho realizado pelo rebocador Vulcano, ele também pode ser o casco assinalado nas Cartas Náuticas na ponta da Ilha das Cobras.

Botao bibliografiaVeja também:
O naufrágio do monitor Javari

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