Especial – O naufrágio do Dom Afonso

Naufrágio do primeiro navio de guerra do Brasil

10.01.1853 - Praia da Massambaba, RJ. - Texto: Maurício Carvalho

O Dom Afonso

Em 1846 a Marinha do Brasil encomendou nos estaleiros Thomas Roidem & Co.  em Liverpool, Inglaterra uma embarcação de propulsão mista (vapor e velas). Ela seria a primeira embarcação de combate da Marinha do Brasil com propulsão a vapor.
Em 23 de dezembro de 1847 ela foi lançada ao mar, sendo incorporada a esquadra em 1848 com o nome de Dom Afonso em homenagem ao primeiro filho Dom Afonso de Bragança, herdeiro do Imperador do Brasil Pedro II e que em 1847 morreu aos dois anos de idade. Sua figura de proa era de representação dessa criança.
logomarinha imperial Dom Afonso foto Dom afonso 01
Símbolo da Marinha Imperial e o príncipe Dom Afonso de Alcântara que morreu ainda criança
Essa ilustração foi publicada no Livro História do Brasil da Editora Block página 411, sem referência de origem e posteriormente republicada pela Revista Marítima Brasileira de 2004, seguindo-se daí sua ampla reprodução na internet, porém é mais provável que a ilustração represente a corveta Amazonas.

O Dom Afonso foi construído como uma fragata, com rodas de propulsão movidas por máquinas a vapor produzido por 4 caldeiras e com potência de 300 hp. Possuía 62,7 metros de comprimento, 9,3 metros de boca, deslocando 900 toneladas.
Seu casco de madeira era revestido por folhas de cobre, para a proteção contra os vermes marinhos.
Era armada com 4 colubrinas de 32 mm e 2 canhões bombardas de 68 mm e tripulada por 190 a 240 homens.

DADOS TÉCNICOS

DADOS BÁSICOS
Nome do navio: Dom Afonso (*)
Data do Naufrágio: 10.01.1853
Local: Arraial do Cabo, RJ.
Posição: Praia da Massambaba
Armador: Marinha do Brasil

(*) a grafia aparece com dois “F” (Affonso) em jornais. Mas a forma original, referente ao príncipe homenageado, apresenta apenas um “F”.

DADOS TÉCNICOS
Construção: 1846
Tipo de embarcação: Vapor de rodas
Estaleiro: Thomas Roidem & Co.  em Liverpool, Inglaterra
Medidas: 62,7 metros de comprimento, 9,3 metros de boca e 3,66 de calado
Deslocamento: 900 toneladas
Máquinas: vapor de 300 hp com 4 caldeiras
Armamento:  4 colubrinas de 32 mm e 2 canhões bombardas de 68 mm
Tripulação: 190 a 240 homens

Os serviços do vapor Dom Afonso

Dom Afonso monarchAntes mesmo de chegar ao Brasil, depois de seu  lançamento o Dom Afonso prestou diversas missões importantes para a Marinha Imperial.
Como o resgate dos tripulantes e passageiros do Ocean Monarch, galera americana que sofreu um incêndio próximo a Liverpool. O ato heroico gerou prêmios para a tripulação e  um quadro, que é uma das melhores representações em pintura do navio.
Também resgatou e rebocou a um porto a barca portuguesa Vasco da Gama que perdeu as velas e mastros depois de um tufão. 
Além de diversas missões de patrulha ao longo da costa.

Uma das melhores representações do Dom Afonso foi feita no quadro de Samuel Walters (1811-1882), que retrata o salvamento do navio Ocean Monarch que se incendiou próximo a Liverpool.

Em combate, o Dom Afonso também deixou sua marca. Na campanha da Guerra do Prata, atuou na liberação da navegação fluvial e bloqueando o porto de Buenos Aires na Argentina.

Dom afonso toneleiroUm dos momentos mais relevantes de sua trajetória ocorreu durante a Guerra do Prata, quando o império do Brasil lutou contra a Confederação Argentina (guerra contra Oribe e Rosas – Províncias Argentinas).O Dom Afonso, comandado pelo Capitão de Fragata Jesuíno Lamego da Costa, era o navio na vanguarda da esquadra imperial que em 17 de dezembro de 1851 participou da batalha da passagem de Tonelero. Uma fortificação instalada em uma das margens do Rio Paraná, com 16 canhões e cerca de 2000 homens que impedia a livre navegação pelo rio. O Dom Afonso e suas máquinas seguiam na frente rebocando uma das corvetas brasileiras a vela.No dia 17 de janeiro de 1852, Dom Afonso, com o Duque de Caxias a bordo, avançou sobre o porto de Buenos Aires.


O naufrágio

DonAfonso3 Dom afonso fig proaO secretário de estado da Marinha, Zacarias de Góes e Vasconcelos ordenou ao comandante do Dom Afonso que patrulhasse de Cabo Frio ao Espírito Santo a fim de evitar a atividade contrabando e tráfico clandestino de escravos.
No dia 9 de janeiro de 1853, sob o comando do Capitão-tenente José Antônio de Siqueira, o Dom Afonso deixou o porto do Rio de Janeiro, com uma tripulação de 190 marinheiros rumo ao norte do estado. Ao cruzar a Praia da Massambaba (atualmente Arraial do Cabo, RJ.) durante a madrugada o vapor foi envolvida pelo forte nevoeiro e mar grosso e acabou por encalhar na região de arrebentação a cerca de sete milhas a oeste de Cabo Frio e a 2 milhas ao noroeste da Ilha do Francês, em frete a um local conhecido na época como Atalhos e posteriormente ficou conhecido como Afonso.
Segundo as informações da tripulação assim que houve o encalhe o navio partiu a quilha e começou a afundar e eram inúteis qualquer tentativa de desencalha-lo.


O vapor misto de rodas Dom Afonso e sua figura de proa resgatada dos destroços e exposta no Museu Naval e Oceanográfico do Rio de Janeiro


Observação: o termo Massambaba ou Maçambaba tem origem no Tupy de “moçambaba” –  a união, junção ou ligação entre um terreno e outro, já que a região é uma restinga separando a lagoa do mar.
Nas catas náuticas da Marinha do Brasil o termo aparece com “Ç” mas nos mapas a forma mais comum é o uso do “SS”.

Dom afonso posicao

FotMassambaba
Foto da Ilha de Cabo Frio vista da praia da Massambaba em frente a posição do naufrágio

A rota do Dom Afonso, para contornar o Cabo Frio seguindo rumo ao norte, vitimou muitos navios ao longo da história da navegação no Rio de Janeiro.
Segundo relatórios da Marinha do Brasil a longa praia da Massambaba (de Saquarema a Arraial do Cabo) é uma das áreas de máxima incidência de naufrágios do litoral brasileiro.
Além dos naufrágios da própria região de Arraial do Cabo, a virada do Cabo Frio (Ilha de Cabo Frio), ainda se acidentaram no caminho, entre outros: Buenos Aires (1890), Moreno (1874), Highland Scot (1918), e o Parana (1877).

Na noite escura e junto a costa inabitada e baixa, o capitão deu ordens para a colocação de um dos botes na água, para verificar a posição e situação do navio. Durante a manobra o bote virou o  jovem 2º tenente, o Sr. Antônio Francisco de Araújo e Silva e dois marinheiros se afogaram. O restante da tripulação deixou o navio em  uma das lanchas posicionada sobre as rodas. Foram salvos 31 praças do Affonso.

Dom Afonso noticiaDom afonso timaoOs tripulantes voltaram a capital no vapor Recife e no local permaneceram apenas,  para a recuperação de algum salvado, o imediato e uma pequena  equipe.  O restante dos marinheiros voltaram ao Rio no vapor Recife
Quando a notícia chegou a Marinha foi enviado ao local ao local o rebocador Hércules, levando a bordo o ajudante da capitania do porto, o patrão-mór e o engenheiro Grundy, mas o navio foi dado como totalmente perdido. 

Timão removido do naufrágio e exposto no Museu Naval e Oceanográfico do Rio de Janeiro (foto Maurício Carvalho)

No inquérito da Marinha o comandante do navio capitão-tenente José Antônio de Siqueira foi condenado a uma ano de prisão e dois anos sem comando pela perda do vapor. Os primeiros-tenentes Cândido de Lemos e Antônio Manuel Fernandes, oficiais de quarto na hora do encalhe foram considerados culpados e condenados a um ano de prisão, cumprido dentro da fragata Constituição e mais um ano sem comandos mesmo que de quartos (turnos).
Em fevereiro de 1853 foi anunciado nos jornais o leilão dos objetos resgatados do Vapor Afonso na cidade de Cabo Frio.

Dom Afonso croqui 1Pesquisa

Na internet existem vídeos que identificam um naufrágio na praia da Massambaba na altura de Monte Alto como sendo o Dom Afonso. Mas o vapor que está naufragado nesse ponto tem casco de ferro, uma única caldeira e máquinas a vapor compostas, enquanto o Dom Afonso tinha casco de madeira 4 caldeiras e máquinas a vapor mais primitivas, possivelmente uma site lever.

Botao bibliografia
Veja mais:

Histórias de Célebres Naufrágios do Cabo Frio – Elísio Gomes Filho – Ed. Texto & Arte.
Capa é a foto do Dom Afonso

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