2º navio a ser torpedeado pelo U-507
O Araraquara
Este vapor de 4.871 toneladas brutas foi construído nos estaleiros Cantiere Navale em Trieste na Itália e lançado ao mar em 1927. Estava registrado na capitania do Rio de Janeiro desde 1927, sendo sister ship do Araranguá, Aratinbó e Merití. Já navegava pelo Lloyd Nacional S.A. em 1930.
Apresentava 117,9 metros de comprimento e 16,3 metros de boca. Sua máquina a diesel de 1008 NHP impulsionava um hélice, atingindo uma velocidade máxima 15 nós, mas que raramente era conseguido no período da guerra, quando a máquina desgastada já produzia muita fumaça e pouco desempenho.
Sua tripulação era de 74 homens e possuía a capacidade para transporte de carga e 68 passageiros.
Teve uma forte participação na navegação de cabotagem durante toda a década de 1930, tocando frequentemente os principais portos do litoral e em sua última viagem era comandado pelo Capitão de Longo Curso Augusto Teixeira dos Santos.
FICHA TÉCNICA
DADOS HISTÓRICOS
Nome do navio: Araraquara
Data do Naufrágio: 16.08.1942
Local: 8 milhas da costa de Lagoa Azeda, SE.
Tipo de embarcação: paquete
Armador: Lloyde Nacional S.A.
Nacionalidade: brasileira
DADOS TÉCNICOS
Estaleiro: Cantiere Navale (Trieste – Itália)
Início da construção: 1927
Dimensões: comprimento: 117,9 metros – boca: 16,3 metros
Deslocamento: 4.872 toneladas
Material do casco: aço
Propulsão: Oil Engine – 1008 HP. 1 hélice com velocidade, 15 nós
Tripulação: 74 tripulantes e 68 passageiros (total 142)
Carga: 1800 volumes de café
A Segunda Grande Guerra
Durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial o conflito parecia apenas um leve eco dos acontecimentos da Europa. Apenas alguns episódios isolados e esporádicos como os afundamentos em 1939 e 1941 dos navios alemães encouraçado Graf Spee no Uruguai e o Wakama ao largo de Búzios, RJ. lembravam que o país estava à margem de um grande conflito.
Porém, em 1942 essa confortável situação mudaria. Em dezembro de 1941, com o ataque do Japão a Pearl Harbor, os Estados Unidos entram na guerra, contra o pacto tripartite do eixo, do qual faziam parte a Alemanha, Itália e o Japão.
Em dezembro de 1941, Doenitz, o comandante da Marinha de Hitler, decide utilizar os U-boats para dar início a uma campanha de ataque ao tráfego marítimo comercial ao longo da costa leste dos Estados Unidos, visando cortar as linhas de suprimentos.
Esta campanha, conhecida como Paukenschlag (batida de tambor), provocaria a partir de janeiro de 1942 a perda de milhões de toneladas brutas aos aliados.
Diante da flagrante agressão a um país pan-americano, as demais nações do continente não podiam ficar passivas. Em janeiro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro, é realizada uma reunião com os países da América. Devido à resolução Nº 5 desta reunião, o governo brasileiro decide cortar relações diplomáticas e comerciais com as nações do eixo; decisão que fortalecia a ideia de uma futura declaração de guerra. Além disso, os Estados Unidos pressionava e oferecia vantagens para que o Brasil permitisse a instalação de bases americanas em território brasileiro.
Em fevereiro de 1942, o governo adota as primeiras medidas preventivas de defesa. São tomadas precauções defensivas ao longo da costa do país e são convocados para serviço ativo os reservistas da Marinha com menos de 40 anos de idade.
A operação Paukenschlag de Doenitz, teria consequências também para o Brasil. De fevereiro a julho de 1942, 12 navios mercantes brasileiros foram afundados ao longo das costas das Américas por submarinos Italianos, mas na sua maioria alemães. Entre eles estavam o: Buarque (14.02 ), Olinda (18.02 ), Cabedello (25.02), Arabutã (07.03), Cayru (08.03), Parnahyba (01.05), Gonçalves Dias (24.05), Alegrete (01.06), Pedrinhas (26.06), Tamandaré (26.07), Piave (28.07) e Barbacena (28.07), Antônico (28.09) Apalóide (22.11).
Mas em julho de 1942, as agressões se intensificaram.
O torpedeamento
Em julho de 1914 o Alto Comando alemão emitiu ordens para que uma flotilha de submarinos seguisse para o Atlântico sul. Entre eles estava o U-507 do Capitão-de-Corveta Harro Schacht, então com 35 anos e que já tinha atuado em missões anteriores afundando 9 navios no Atlântico Norte.
No final da tarde do dia 15 de agosto, a 20 milhas do Rio Real (SE) o U-507 tinha lançado um torpedo e afundando o Baependy do Lloyd Brasileiro, mas outro navio do Lloyde nacional, o paquete Araraquara, utilizando a mesma rota do Baependy subia o litoral Brasileiro em direção a seu destino trágico.
O Araraquara zarpou do porto do Rio de Janeiro ás 14 horas do dia 11 de agosto, com destino ao porto de Cabedelo (PB) e escalas em Salvador, Maceió e Recife. Navegava a escoteiro, já que as baixas velocidade e excesso de fumaça deixava muitos navios fora dos comboios protegidos e organizados pela Marinha americanas, que agora já operava em nosso litoral.
No dia 13, durante o trajeto Rio/Bahia foi realizado um exercício de emergência, que segundo o 1º piloto transcorreu com muita calma e eficiência.
Atracou em Salvador ás 2:05 horas no dia 14, junto com o Anibal Benévolo, onde permaneceu realizando operações de carga de 100 volumes de café, descarga e para reparos na rede de água do navio. Partindo às 11:00 horas com destino a Maceió e previsão de chegada ao amanhecer do dia 16. Levando a bordo 81 tripulantes e 96 passageiros.
Os navios brasileiros seguiam as regras recentemente impostas pelo Estado Maior da Marinha, onde se recomendava os comboios e caso não fosse possível, a rota deveria ser bem próximo da costa e apenas com as luzes de navegação acesas.
Segundo os relatórios de vários náufragos dos navios atacados, essas medidas foram tomadas, tanto que, os sobreviventes do Baependy alcançaram a costa ao amanhecer do dia seguinte. O Anibal Benévolo estava a 7 milhas da costa e o Itagiba e o Arará podiam visualizar a praia”. Mas a recomendação de luzes apagadas não foram cumpridas. Talvez confiando na possível neutralidade do país, apesar dos afundamentos anteriores.
O Araraquara assim como outras vítimas navegava a escoteiro (sozinho), os navios brasileiros eram lentos e esfumaçavam muito. Assim, não eram aceitos nos comboios com proteção americana. O paquete seguia o rumo de 27º, todo iluminado a 14 nós.
Já havia sido servido o jantar e a maioria dos passageiros já estavam recolhidos a seus camarotes a noite estava escura, com forte vento mar agitado.
Quando passava pela posição 11º 53′ sul e 37º 22′ oeste às 21:03 horas e com as luzes de Aracaju ao fundo, foi atingido pelo primeiro torpedo entre o porão 3 e a casa das máquinas, o navio estremeceu, já não se movia e não havia mais eletricidade.
O comandante deixou sua cabine e questionou ao 2ª piloto Benedito Lunes no comando o que havia ocorrido.
Ao compreender a situação o Capitão Augusto ordenou um alerta geral, que fossem postos os coletes de salva vidas e que se preparassem as baleeiras.
Enquanto a tripulação tentava acionar as baleeiras um segundo torpedo atingiu o navio explodindo o porão número 3 e lançando destroços sobre o convés.
Uma das baleeiras estava inutilizada por destroços e as outras já não podiam ser utilizadas, devido à forte inclinação do navio, que adernava rapidamente. Foi dada a ordem para que os passageiros se jogassem ao mar.
O Araraquara afundou em cinco minutos, sem tempo para que muitos saíssem de seus camarins e que outros equipamento de salvamento pudessem ser disponibilizados pois as balsas já tinham sido lançadas ao mar pela explosão.
Resumo da narrativa do primeiro piloto
O primeiro piloto Milton Fernandes da Silva, depois de desistir das baleeiras engatinhou pelo convés, passou ao casco do navio já de lado e lançou-se ao mar da quilha.
“Nadei um pouco auxiliado pelos vagalhões que me afastavam rapidamente do navio. Parei e pude presenciar o mesmo mergulhar de popa, ficando completamente em pé e desaparecendo.
Com o vácuo produzido pelo afundamento do navio, fui um pouco ao fundo, tendo bebido bastante água com óleo e levado diversas pancadas com os destroços do mesmo. Quando voltei á superfície, agarrei-me a uma caixa que boiava. Nisso avistei um pedaço da tolda, onde subi e pude recolher mais 3 pessoas, o 3º maquinista, Eralkildes de Barros, o moço do convés, Esmerino Siqueira e um oficial do exército, passageiro do navio.
Durante toda a madrugada avistamos constantes clarões de explosões no local onde afundou o navio. Continuamos sobre as taboas, notando que o mar nos aproximava cada vez mais para terra, sempre em frente a barra do Aracajú”.Ainda segundo o relato do Imediato:
“Passamos o resto da noite de 15, todo o dia 16, quando aproximadamente, ás 2 horas do dia 17 o marinheiro e depois o segundo tenente começaram a dar sinais de perturbação mental e a pesar das tentativas de segura-los atiraram-se ao mar sendo impossível qualquer salvação.
Ao clarear o dia, com as casas da cidade já a vista, a vazante do rio Cotingiba e o vento terral nos afastou para a rebentação, o que acabou de destruir a “balsa” e nos atirou na água. Continuamos na luta, nadando em direção da praia de estância, onde chegamos ás 15 horas.
Exausto, deitei-me na areia para dormir, fui acordado para beber água de coco que meu companheiro havia apanhado. Reanimados, bebemos mais água de coco e comemos a polpa. Em seguida, caminhamos 2,5 léguas, encontramos uma fazenda, onde fomos alimentados e depois dois empregados, numa canoa, nos levaram á cidade de S. Cristovão”.
Na cidade apareceu um outro sobrevivente que chegou a praia em uma balsa, outros dois passageiros morreram na arrebentação. De lá fomos levados de carro até Aracaju, onde outros náufragos chegaram nos dias posteriores”.
Salvaram-se oito tripulantes e três passageiros que foram dar à costa, nas proximidades da barra de São Cristóvão e Caieiras, em Sergipe. Entre eles o primeiro piloto Milton Fernandes da Silva, responsável pela narração dos detalhes dos momentos finais do Araraquara.
Nos dias seguintes muitos cadáveres deram a costa e duas das baleeiras vazias.
Os mortos foram 131, incluindo o comandante, o Imediato João Fernandes, seis oficiais, 58 tripulantes e 65 passageiros. O U-507 faria outras vítimas como o Anibal Benévolo (dia 16), um pouco mais ao sul e o Itagiba (dia 17) na costa da Bahia e o Arará (dia 17) que parou para prestar socorro ao Itagiba e a barca Jacira.
Em um intervalo de menos de 12 horas, o U-507 afundou o Baependy, Araraquara e o Aníbal Benévolo, causando a morte de 551 brasileiros. Em 2 dias seriam afundados o Baependy, Araraquara, Anibal Benévolo, Arará e Itagiba de 3.066 tonelada, totalizando mais de 14.000 toneladas brutas.
As articulações políticas americanas, a pressão da imprensa e a reação popular aos ataques sucessivos, pedindo guerra nas ruas levaram o Presidente Getúlio Vargas no dia 22 de agosto de 1942 a declarar guerra aos países do Eixo.
Em menos de dois dias as cinco vítimas do U-507
Baependy (15.08) de 4.801 toneladas
Araraquara (16.08) de 2.169 toneladas
Anibal Benévolo (16.08) de 1.905 toneladas
Arará (17.08) de 1.500 toneladas
Itagiba (17.08) de 1.905 toneladas