1º navio torpedeado pelo U-507
15.08.1942 o pior ataque da costa de Sergipe
O Tijuca e o Baependy
O forte aumento do comércio da Alemanha, com as nações da América do Sul orientado por um plano de expansão, levou as armadoras do país a mandar construir muitos navios, o Baependy surgiria neste contexto.
Era um vapor misto da classe São Paulo, foi mandado construir pela Hamburg-Sud entre 1896 e 1899 nos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo na Alemanha lançado ao mar em julho de 1899 com o nome Tijuca (o 2º na armadora com esse nome). Apresentava 114,5 metros de comprimento e 14,1 metros de boca, deslocamento 4.801 toneladas. Tinha capacidade para transportar 430 passageiros com uma tripulação de 54 homens.
Cumpriu uma longa carreira de serviço da Hamburg-Sud na linha da América do Sul, Realizando rotineiramente a rota Hamburgo/Rio da Prata, escalando nos principais portos do país. Transportava emigrantes da Europa, levando café, algodão e outros produtos agrícolas na viagem de volta.
Em agosto de 1914, com a notícia do início do conflito na Europa o Capitão buscou refúgio para seu navio no porto de Recife (PE), onde permaneceu. Em julho de 1917, devido à 1ª guerra mundial, foi apreendido pelo governo brasileiro um total de 34 vapores alemães entre eles estava o Tijuca.
Ente 1920 a 1922 o Tijuca foi alugado ao governo francês e finalmente em 1926, o Brasil tornou-se o proprietário de sete vapores, como compensação de guerra, e os navios foram transferidos ao Lloyde Brasileiro. Eram navios velhos e maltratados que na frota nacional foram rebatizados de Baependy, Campos Salles, Santos, Petrópolis, Pernambuco, Belgrado e Bahia.
Não está claro se o nome do navio homenageava o Conde de Baependi (5º presidente do senado Imperial do Brasil – 1838) ou a cidade do estado de Minas Gerais (Baependi), com nome derivado do tupy, com significando aproximado para “cachoeiras”. A grafia de registro do navio é escrita com Y.
Foi incorporado a Marinha do Brasil durante o movimento revolucionário de 1924 e ao ser debelado o movimento foi devolvido à Companhia Lloyd Brasileiro.
FICHA TÉCNICA
DADOS HISTÓRICOS
Nome do navio: Baependy
Data do Naufrágio: 15.08. 1942
Local: 33 milhas do litoral da Vila do Conde, SE.
Tipo de embarcação: paquete
Armador: Lloyde Brasileiro
Nacionalidade: brasileira
DADOS TÉCNICOS
Estaleiro: Blohm & Voss, (Hamburgo – Alemanha)
Início da construção: 1899
Dimensões: comprimento: 114,5 metros – boca: 14,1 metros
Deslocamento: 4.801 toneladas
Material do casco: aço
Propulsão: tipo Quadruple Expansion Engine – 2000 HP – 11,5 nós
Tripulação: 74 tripulantes e 246 passageiros (320 total)
Carga: 7º Grupamento de Artilharia de Dorso
A Segunda Grande Guerra
Durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial o conflito parecia apenas um leve eco dos acontecimentos da Europa. Apenas alguns episódios isolados e esporádicos como os afundamentos em 1939 e 1941 dos navios alemães encouraçado Graf Spee no Uruguai e o Wakama ao largo de Búzios, RJ. lembravam que o país estava à margem de um grande conflito.
Porém, em 1942 essa confortável situação mudaria. Em dezembro de 1941, com o ataque do Japão a Pearl Harbor, os Estados Unidos entram na guerra, contra o pacto tripartite do eixo, do qual faziam parte a Alemanha, Itália e o Japão.
Em dezembro de 1941, Doenitz, o comandante da Marinha de Hitler, decide utilizar os U-boats para dar início a uma campanha de ataque ao tráfego marítimo comercial ao longo da costa leste dos Estados Unidos, visando cortar as linhas de suprimentos.
Esta campanha, conhecida como Paukenschlag (batida de tambor), provocaria a partir de janeiro de 1942 a perda de milhões de toneladas brutas aos aliados.
Diante da flagrante agressão a um país pan-americano, as demais nações do continente não podiam ficar passivas. Em janeiro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro, é realizada uma reunião com os países da América. Devido à resolução Nº 5 desta reunião, o governo brasileiro decide cortar relações diplomáticas e comerciais com as nações do eixo; decisão que fortalecia a ideia de uma futura declaração de guerra. Além disso, os Estados Unidos pressionava e oferecia vantagens para que o Brasil permitisse a instalação de bases americanas em território brasileiro.
Em fevereiro de 1942, o governo adota as primeiras medidas preventivas de defesa. São tomadas precaução defensivas ao longo da costa do país e são convocados para serviço ativo os reservistas da Marinha com menos de 40 anos de idade.
A operação Paukenschlag de Doenitz, teria consequências também para o Brasil. De fevereiro a julho de 1942, 12 navios mercantes brasileiros foram afundados ao longo das costas das Américas por submarinos Italianos, mas na sua maioria alemães. Entre eles estavam o: Buarque (14.02 ), Olinda (18.02 ), Cabedello (25.02), Arabutã (07.03), Cayru (08.03), Parnahyba (01.05), Gonçalves Dias (24.05), Alegrete (01.06), Pedrinhas (26.06), Tamandaré (26.07), Piave (28.07) e Barbacena (28.07), Antônico (28.09) e o Apalóide (22.11).
Mas em julho de 1942, as agressões se intensificaram.
O torpedeamento
Em julho de 1914 o Alto Comando alemão emitiu ordens para que uma flotilha de submarinos seguisse para o Atlântico sul. Entre eles estava o U-507 do Capitão-de-Corveta Harro Schacht, então com 35 anos e que já tinha atuado em missões anteriores afundando 9 navios no Atlântico Norte.
O Baependy deixou o porto do Rio de Janeiro com mar calmo e tempo claro, sob o comando do Capitão de Longo Curso José Soares da Silva e tripulado por 73 homens. Escalou em Salvador, de onde partiu às 7 horas da manhã do dia 15 com destino a Recife. A partir daí, o navio já encontrou um forte vento e mar agitado.
O vapor estava lotado, além da carga, a bordo estavam 233 passageiros dos quais 165 militares que pertenciam ao 7º Grupo de Artilharia de Dorso, comandados pelo major Landerico de Albuquerque Lima, que ficariam sediados na capital de Pernambuco para aumento das defesas costeiras. Por isso, muitos oficiais e soldados viajavam acompanhados de suas famílias, algumas com muitas crianças.
Os navios brasileiros seguiam as regras recentemente impostas pelo Estado Maior da Marinha, onde se recomendava os comboios e caso não fosse possível, a rota deveria ser bem próximo da costa e apenas com as luzes de navegação acesas.
Segundo os relatórios de vários náufragos dos navios atacados, essas medidas foram tomadas, tanto que, os sobreviventes do Baependy alcançaram a costa ao amanhecer do dia seguinte. O Anibal Benevolo estava a 7 milhas da costa e o Itagiba e o Arará podiam visualizar a praia”. Mas a recomendação de luzes apagadas não foram cumpridas. Talvez confiando na possível neutralidade do País, apesar dos afundamentos anteriores.
O Baependy assim como outras vítimas navegava a escoteiro (sozinho), os navios brasileiros eram lentos e esfumaçavam muito. Assim, não eram aceitos nos comboios com proteção americana. O Baependy cruzava a apenas 9 nós e estava todo iluminado e os navios brasileiros também não possuíam peça de artilharia para sua proteção.
No dia 15 de agosto, a 20 milhas do farol do Rio Real (SE) na posição 11º 53′ sul e 037º 22′ oeste, o U-507, comandado pelo capitão Haro Schacht, avistou, ao cair da tarde, um mercante seguindo no rumo de 35º, navegando a nove nós e iluminado.
O U-boat veio à superfície e as 19:12 horas tomou posição para o ataque e lançou dois torpedos.
Segundo as informações a profundidade local média era de 38 metros, mas isso não bate com a posição referenciada para o ataque, com profundidades maiores que 2.000 metros.
Na 1ª classe do Baependy comemorava-se o aniversário do imediato Antônio Diogo de Queiroz e terminado o jantar, os oficiais estavam no salão ouvindo música. Na 3ª classe, passageiros, soldados, cabos e sargentos preparavam para dormir e no convés de popa do navio, sentados entre caixas e canhões, alguns soldados cantavam e batucavam alegremente.
Subitamente um primeiro estampido é sentido pelo chefe de máquinas e 5 segundos depois um segundo impacto atingiu o costado de boreste na altura da casa das máquinas, a explosão arrebentou os tanques de combustível e as labaredas subiram da estiva do porão até o topo do mastro.
O mercante adernou muito rapidamente, o pânico se estabeleceu a bordo. O segundo comissário com o segundo maquinista e um passageiro ainda tentaram arriar uma baleeira, mas não houve tempo e o navio afundou em 5 minutos.
Lançados ao mar muitos náufragos debatiam-se na superfície tentando agarrar-se a tudo que boiava. Um dos sobreviventes declarou ter visto ao longe a silhueta do submarino, com um facho de luz certificando-se do estrago cometido.
Uma das baleeiras do Baependy foi encontrada vagando na superfície agitada e nela resgataram vários sobreviventes que passaram a recolher quem suplicava por ajuda.
Uma hora depois de terem começado sua luta pela sobrevivência eles testemunharam ao longe uma grande explosão. Era o Araraquara que ia ao fundo atacado também pelo U-507.
Os sobrevivente
Sem referências, remaram e seguiram os ventos. Com o amanhecer já se podia enxergara a linha do continente. Atingiram a praia em uma região de dunas desabitadas e tiverem que caminhar. Agora era o calor que os maltratava, chegaram a um povoado onde foram alimentados, vestidos e depois foram transportados a cidade de Canoas, onde receberam melhor tratamento médico, pois muitos estavam feridos.
Somente uma baleeira, com 28 sobreviventes deu à costa, ao sul do Rio Real, no local conhecido por Moita Verde. No dia seguinte, 8 náufragos, agarrados a destroços chegaram, quase mortos, a terra em Aracatí.
Apesar das divergências numéricas, os números oficiais indicaram que se salvaram apenas 18 tripulantes e 18 passageiros. Pereceram 55 tripulantes e 214 passageiros. Além do comandante e do imediato, o aniversariante, morreram dez oficiais; o médico, um piloto, cinco maquinistas, um radiotelegrafista e dois comissários.
O ataque ao Baependy pelo seu número de vida, tornou-se o maior desastre de um navio mercante brasileiro em todos os tempos.
A única baleeira do Baependy que chegou a costa
Ações subsequentes e as consequências
O U-507 faria outras vítimas como o Araraquara, quatro horas depois e o Anibal Benévolo no dia seguinte. No dia 17 o Itagiba, um pouco mais ao sul na costa da Bahia, o Arará, que parou para prestar socorro ao Itagiba e a barcaça Jacira.
Em um intervalo de menos de 12 horas, o U-507 afundou o Baependy, Araraquara e o Aníbal Benévolo, causando a morte de 551 brasileiros. Em 2 dias seriam afundados o Baependy, Araraquara, Anibal Benévolo, Itagiba, Arará e Jacira, totalizando mais de 14.000 toneladas brutas.
As articulações políticas americanas, a pressão da imprensa e a reação popular aos ataques sucessivos, pedindo na rua por guerra levaram o Presidente Getúlio Vargas no dia 22 de agosto de 1942 a declarar guerra aos países do Eixo.
Em menos de dois dias as cinco vítimas do U-507
Baependy (15.08) de 4.801 toneladas
Araraquara (16.08) de 2.169 toneladas
Anibal Benévolo (16.08) de 1.905 toneladas
Arará de 1.500 toneladas (17.08)
Itagiba (17.08) de 1.905 toneladas