Especial – Tragédia do Bateau Mouch

Revion de terror

Uma noite de horror

Na noite de réveillon de 1988 para 1989 enquanto mais de 1 milhão de cariocas e turistas curtiam a festa na praia de Copacabana a espera dos fogos de artifícios que marcariam a virada de mais um ano.
Enquanto isso, um grande drama se desenrolava na entrada da Baía de Guanabara e 55 pessoas perdiam suas vidas pela irresponsabilidade da companhia.


Bateau Mouch 02 O Bateau Mouch

O iate Bateou Mouch IV foi construído em 1971 no estaleiro Indústria Naval do Ceará (Inace) em Fortaleza e lançado ao mar com o nome de Kmaloka dedicado a indústria pesqueira. Apresentava 23,9 metros de comprimento, 5,99 metros de boca e 2,2 metros de calado com deslocamento de 75 toneladas. Sua capacidade original era para 15 a 20 pessoas.
Em 1976 foi comprado por um empresário que o transformou em um iate de passeio rebatizado de Prelúdio.
Em 1980 foi adquirido pelos donos da empresa Sol & Mar que fundaram a Bateau Mouche Rio Turismo LTDA. Contrataram um engenheiro para realizar uma série de reformas no barco que recebeu categoria G 2B (, transporte de passageiros no interior de portos). Aumentando a capacidade de 20 para 150 passageiros e 3 tripulantes.
Em 1981 estava autorizado para fazer viagens em águas calmas, como as do interior da Baía de Guanabara, por onde fazia passeios regulares para a empresa proprietária. A firma Sol e Mar S.A., também administrava o restaurantes na orla de Botafogo no Rio de Janeiro.

FICHA TÉCNICA

DADOS HISTÓRICOS

Nome da embarcação: Bateau Mouche
Data do naufrágio: 31.12.1988
Local do naufrágio: entrada da Baía de Guanabara
Armador: empresa Sol e Mar S.A.
Nacionalidade: brasileira

DADOS TÉCNICOS
Tipo de embarcação:
iate  –  Início da construção: 1971
Estaleiro:
Indústria Naval do Ceará (Inace), Fortaleza
Dimensões: comprimento: 23,9 m – boca: 5,99 m
Deslocamento: 75,3 toneladas
Material do casco: aço
Propulsão: 2 motores diesel Scânia
Tripulação: 50 homens

O naufrágio

Bateu Mouch anuncio Bateu Mouch 3No réveillon de 1988/1989 a embarcação partiu da
 enseada de Botafogo do Boate Bateou Mouch que funcionava no restaurante Sol & Mar às 20:30 horas, com destino a praia de Copacabana para assistir a tradicional queima de fogos. A bordo estavam cerca de 142 passageiros e tripulantes.
O barco havia sido reorganizado para a ocasião com muitas mesas e cadeiras para a ceia de réveillon.

Bateau Mouch III anunciando o reveillon de 1988/1989 da Sol & Mar

Naquela noite eu mesmo caminhei da Lagoa Rodrigo de Freitas com a família para assistir a queima de fogos na praia. Nesta época os fogos eram lançados diretamente da praia e não como atualmente que são lançados de balsas ancoradas a cerca de 300 metros da praia.
Me lembro bem que a noite estava clara, com céu estrelado e sem muito vento, mas o mar muito agitado, a ponto de ficar impressionado com as ondulações e ondas formadas na praia e comentar com os familiares. A praia de Copacabana não é assim tão aberta ao mar e por isso não possui normalmente ondas muito fortes, mas o mar estava agitado desde a manhã do dia 28 devido a uma ressaca.
Após 10 minutos de navegação o barco foi parado por duas lanchas da Capitânia dos Portos e foi dada ordem para retornar ao píer para uma recontagem do número de passageiros. Após 10 minutos de averiguação com o barco no cais, o Bateu Mouch foi liberado para continuar a navegar e zarpou novamente. Após o acidente houveram denúncias de ter sido pago suborno aos oficiais da marinha para liberação da embarcação.

Bateu Mouch mapa
Rota do acidente do Bateau Mouch

Por volta das 11:15 horas o Beatou Mouch se aproximou da entrada da Baía de Guanabara, barra além de estreita ainda mais afunilada pela Fortaleza da Laje e ilha de Cotonduba. Por isso as ondulações nesse ponto da baía, por cerca de 500 metros, costumam se ainda maiores, com forte corrente de maré de entrada ou saída da Baía de Guanabara. Sair ou entrar com embarcações pequenas em dias de mar forte é sempre uma emoção. A rota direcionava o iate para passar entre a ilha de Cotonduba e a pedra do Leme, costeando depois a praia do leme e Copacabana até o ponto onde estava previsto a ancoragem para o momento da virada e queima de fogos.
Quando a embarcação se aproximou do afunilamento começou a adernar para bombordo por efeito do mar agitado. No interior, os passageiros, mesas, cadeiras, pratos, copos e garrafas começaram a cair criando momentos de caos e pânico e rapidamente acabou por emborcar, permanecendo por minutos virado na superfície, com algumas pessoas agarradas antes de afundar.
A configuração da embarcação com o salão fechado e convés de popa coberto, a super lotação e a presença de muitas mesas e cadeiras dificultou o abandono do navio.
Não houve prepara para o abandono e segundo avaliação posterior o número de salva vidas também não era suficiente.
Na noite escura e no meio do mar agitado dezenas de passageiros foram jogados ao mar sem nenhum apoio. Na época da tragédia, sobreviventes afirmaram que muitas das vítimas não conseguiram deixar o interior do salão, afundando com a embarcação.
Bateu Mouch posicao Bateu mouch noticia
Posição do naufrágio, com o Pão de Açúcar ao fundo  –  Grande cobertura do acidente nos jornais a partir do dia 1º de janeiro 1999 

A tragédia poderia ter sido ainda maior se não fosse o tráfego intenso de embarcações.
O grande e tradicional iate Casablanca, apesar dos bordos altos e dificuldades de manobra conseguiu retirar da água 21 pessoas. O barco de pesca Evelyn & Maurício que partira de Niterói com a família dos pescadores, presenciou o momento do desastre. Começaram a lançar boias, cabos e a recolher os náufragos, recolhendo trinta pessoas.
Os sobreviventes foram levados ao posto do Salva Mar e ao Iate clube do Rio de Janeiro, distantes cerca de 500 metros na enseada de Botafogo, aumentando ainda mais o desespero de famílias que não encontravam seus parentes e amigos
Ninguém na praia fazia ideia dos dramáticos acontecimentos que estavam ocorrendo enquanto a multidão na praia comemorava a entrada de mais um ano. Quando retornei para casa cerca de 1 hora da manhã, todos os noticiários já estavam cobrindo a tragédia.

Um furo de reportagem, com muito risco
Alguns dias depois, dois mergulhadores Sergio Costa e Paulo de Tharso, dois dos melhores instrutores de mergulhos do Brasil na época, aceitaram o desafio de fotografar os destroços. 
Realizando o mergulho a noite no local apesar das restrições, conseguiram um grande furo de reportagem da Revista Manchete, talvez a mais famosas do país na época que deu ampla cobertura ao acidente e estampou na capa em dois números seguidos a tragédia.
Se o mergulho no local durante o dia, devido as correntes agitação do mar e coloração da água já não era dos mais fáceis, imagine à noite.

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A revista Manchete, uma das mais importantes do Brasil no período.
As fotos de Sergio Costa, editor da revista Mergulhar do instrutor Paulo de Tharso (“Paulo pink” – pela clássica cor do equipamento) durante um mergulho noturno nos destroços

Após o acidente

No desastre morreram 55 passageiros inclusive famosa atriz Yara Amaral. Muitos corpos só foram resgatados no dia seguinte por mergulhadores do Salva Mar (bombeiros), alguns inclusive foram retirados do interior do navio.
O navio estava caído no fundo de lado e sujeito as escuras águas da Baía de Guanabara.
Uma semana depois do desastre uma grande balsa com guindaste retirou os destroços do Bateau Mouch do fundo a 25 metros transportando-o e deixando-o no píer do Arsenal de Marinha.
Começava uma investigação por parte da Capitania dos portos (Marinha do Brasil) e da polícia.
Bateu Mouch erguimento 2 FNBateu Mouche
Depois do resgate e perícia o Bateau Mouch IV enferrujou por dez anos, até ser vendido como sucata

Dez anos depois, foi dada licença para que o casco, já muito corroído, foi vendido para ser sucateado.
Apesar do processo legal ter condenado a quatro anos de prisão em regime semiaberto os sócios majoritários da empresa Sol & Mar, Faustino Puertas Vidal e Álvaro Costa e condenação, ao longo do processo os donos da empresa, de nacionalidade espanhola, aproveitaram o dia livre, precisavam ir ao presídio somente para dormir e fugiram para a Espanha, não retornando para cumprir a pena. Os envolvidos na tragédia tiveram os bens bloqueados, mas poucas vítimas receberam indenização e como tudo no Brasil o processo se arrasta na justiça desde 1994.

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