Matéria – Mergulho noturno- Segurança à luz das lanternas

Revista Sub Nº4 agosto/outubro 1993 - Texto: Maurício Carvalho

Fnot1  Graças aos diferentes modos de vida dos organismos marinhos, o mergulho noturno é uma experiência nova, que deve constar no log book de qualquer mergulhador. Apesar das luzes das lanternas facilitarem muito a atividade, à noite o raio de visão é limitado. Por isso, uma série de técnicas especiais devem ser adotadas para equacionar as pequenas dificuldades que o ambiente noturno impõem.
Antes de começar a mergulhar à noite você deve sentir-se confortável nos mergulhos convencionais. Procure seu instrutor e informe-se sobre o curso avançado, que é ideal para introduzi-lo, gradativamente, nesta nova modalidade de mergulho.
O planejamento deve ser cuidadoso, evitando-se que outros fatores, além da escuridão e de uma leve desorientação, causem stress. 0 local deve ser de águas calmas e abrigadas de correntes e tráfego de barcos. (Fig. 1).
Lembre-se: sua visualização numa superfície agitada e escura seria precária. Um local já conhecido dos participantes é recomendável, pois, além de facilitar a orientação subaquática, ele apresenta-se de forma diferente devido aos organismos noturnos.
Antes de iniciar o mergulho, cheque todos os equipamentos, certificando-se do bom ajuste; um pequeno problema na água escura pode tornar-se uma dor de cabeça para ser solucionada. Aproveite alguma luz forte a bordo para expor, por alguns instantes, relógio, manômetro e outros equipamentos aumentando sua fosforescência, o que facilitará a leitura debaixo d’água. A bolsa deve estar cuidadosamente arrumada.

Técnicas
Visto que no mergulho noturno a lanterna é peça fundamental, o primeiro cuidado é evitar impactos contra a superfície, que possam danificar este equipamento. Dê preferência a entradas suaves na água, o que, além de proteger o equipamento, reduza desorientação inicial, comum quando se passa da superfície para a escuridão da água. Se for necessário, peça a seu companheiro para iluminar o ponto de entrada, fazendo o mesmo para ele da água.
Para diminuir o stress ilumine o local para onde se dirige e mantenha a proximidade com o parceiro. Como a visão periférica é prejudicada pela escuridão, nade com cuidado, evitando choques com outros mergulhadores ou com o fundo.
A noite, a separação entre a dupla é mais rara, funcionando a lanterna como um farol. No entanto, caso isso ocorra, cubra a luz de sua lanterna, o que será suficiente para, no escuro, revelar a posição de seu companheiro (figura 1). Uma pequena lanterna de sinalização ou uma luz química presa no primeiro estágio facilita sua detecção mesmo quando a lanterna está apagada. Ao restabelecer o contato certifique-se de que é mesmo seu parceiro, uma vez que na penumbra, é fácil confundir dois mergulhadores. Monitore frequentemente o relógio, profundímetro/computador, pois em mergulhos noturnos, o consumo de ar costuma ser maior e a noção de profundidade é perdida. Evite penetrar em locais como grutas e naufrágios. Sem a claridade da superfície, não há contraste entre o interior e o exterior das cavidades, dificultando a localização da saída.

Uso da lanterna
Fnot3É extremamente recomendável que cada mergulhador utilize ao menos duas lanternas, prevenindo-se de uma possível queima.
Durante o mergulho notamos, um dos maiores inconvenientes é o ofuscamento, devido à forte luz da lanterna nos olhos adaptados ao escuro. Para evitar este problema acostume-se a não apontar a lanterna diretamente para o rosto de outro mergulhador. Caso precise olhá-lo frente a frente dirija o facho de luz para os pés ou cintura do companheiro de forma que a cabeça fique na área de penumbra da lanterna (ver box).
 Não tente chamar a atenção de seu companheiro iluminando seu rosto, agitando a lanterna ou piscando a luz. Para isso, existem sinais especiais para a comunicação submarina noturna (figura 2). Além destes, qualquer sinal convencional pode ser utilizado, bastando que se tenha o cuidado de iluminar a mão durante a execução.
No final do mergulho, ao iniciar a emersão, direcione o facho da lanterna para a superfície. Além de checar se não existem obstáculos você auxiliará o supervisor de mergulho a localizá-lo (figura 3).
Fnot2Pequenos dispositivos chamados strobes (ver reportagem sobre acessórios), que disparam flashes periodicamente, são excelentes para marcar a posição do barco, facilitando o retorno a ele no final do mergulho.
Essa modalidade de noturno oferece condições excepcionais para observação da vida marinha, porque devido à escuridão muitos dos organismos estão repousando no fundo. Observe-os sem perturbá-los excessivamente, pois quando assustados nadam desordenadamente chocando-se contra o fundo, ferindo-se. Aproveite para contemplar os pólipos de coral, caranguejos e peixes notarmos que normalmente não são vistos durante o dia.
Somente à noite é possível presenciar o belo fenômeno da bioluminescência, quando pequenos organismos chamados dinoflagelados transformam-se em pontos luminosos de cor verde no contato com o corpo dos mergulhadores.
Lembre-se de levar toalhas e agasalhos para depois do mergulho, já que à noite não existe o sol para aquecer o corpo resfriado pela água.
Num curso avançado você aprenderá técnicas de mergulho noturno, orientação subaquática, busca e recuperação, entre outras, que o ajudarão muito nos mergulhos diários.

Lanternas de mergulho
As boas lanternas de mergulho são construídas de material resistente, geralmente em plástico tipo ABS. Os melhores modelos possuem empunhadura do tipo alça ou pistola e devem possuir uma correia para prendê-las ao pulso permitindo sua soltura temporária.
A lanterna principal deve ter baterias (recarregáveis ou descartáveis), com autonomia mínima para 2 horas, fornecendo pelo menos uma potência de 4,5 watts; caso contrário, não apresentarão intensidade de luz suficiente para um mergulho confortável. Convém que seu campo de iluminação seja vasto, com um centro fortemente iluminado e uma área de penumbra ampla, que favoreça o controle do ambiente à sua volta. Sua opção deve recair nos modelos que possuam lâmpadas halógenas. Gases como o xenônio e criptônio fornecem luz mais clara e eficiente.
Por fim, uma boa lanterna deve possuir uma trava no botão de contato, evitando seu acionamento acidental dentro da bolsa.
Antes mesmo de embarcar verifique o funcionamento da lanterna, checando a carga das baterias e a integridade dos o’rings de vedação. Procure controlar também o tempo de vida útil da lâmpada, substituindo-a antes da queima. Considere este gasto como pequeno investimento, pois, uma volta ao barco para substituir uma lâmpada queimada durante a imersão, pode significar o encerramento do mergulho, com um prejuízo maior que o preço de uma simples lâmpada.
Acender e apagar repetidamente a lanterna dentro ou fora d’água, além de gastar as baterias, aumenta as chances de queima da lâmpada. Deste modo, a parir do momento que ligá-la, não mais a apague até o final do mergulho.


OBS: Na matéria original constam outros fotos.

Ilustrações: extraídas do livro Manual de Mergulho: Técnicas Avançadas.

Maurício Carvalho é biólogo e instrutor de mergulho, com especialidade em Rescue e Naufrágios, tendo sido supervisor de mergulho do GREC-DF. Autor do livro Manual de Mergulho: Técnicas Avançadas


Curso de Mergulho em Naufrágios


Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil.

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