Matéria – Safa-Onça

Revista Mergulhar, ano VII, Nº 54, novembro 1989 - Maurício Carvalho

OBSERVAÇÃO: É importante lembrar, que desde a publicação do artigo muitas técnicas de mergulho foram aperfeiçoadas e adoptadas. Assim o texto técnico, deve servir como fonte de pesquisa histórica, não devendo ser as técnicas de mergulho tomadas como as melhores e mais atuais.


É importante que o mergulhador leve consigo um kit de reparos que o livrará de uma série de inconvenientes. 0 ideal é que se tenha dois conjuntos, um para saídas de poucos mergulhos e outro complementar, quando se pretende ficar vários dias viajando, situação em que haverá tempo para uma manutenção mais complicada.
Em uma série de ocasiões tive oportunidade de presenciar mergulhadores que, devido a pequenos problemas com o equipamento, deixaram de mergulhar ou então mergulharam com equipamento emprestado, depois que todos já haviam voltado para o barco. Estes óbices poderiam ter sido facilmente contornados se levassem consigo um kit de reparo, preparado para solucionar os defeitos mais frequentes.
Fsafaonc1 Lamentavelmente, pouquíssimos barcos no Brasil têm oficinas à bordo capazes de auxiliar os mergulhadores mesmo em pequenas dificuldades. Assim, embora o-rings que estouram e tiras que arrebentam sejam ocorrências comuns, poucos mergulhadores estão preparados para enfrentá-las. A maioria alega que seria preciso levar um volume enorme de coisas para prevenir os defeitos a que o equipamento está sujeito. No entanto, como será visto, algumas peças mais vulneráveis são facilmente transportáveis em uma pequena caixa ou bolsa.
O equipamento de mergulho, devido à ação da água do mar que o ataca química e mecanicamente, apresenta constantemente alterações prejudiciais ao seu funcionamento. As partes de metal ou borracha são as mais atingidas, sendo as de borracha afetadas também pelo Sol e altas temperaturas. Corno quase todos os apetrechos de mergulho são de metal ou de borracha, cria-se um problema de volume do kit de reparo. Entretanto, o material que se leva para eventuais consertos tem que ser compatível com o tipo de mergulho a ser executado. Se a previsão é de apenas um mergulho, será inútil carregar material, como por exemplo para a colagem de um corte na roupa, pois como este tipo de reparo é feito com a roupa seca, não haverá tempo para isso. Desta forma, o ideal é que se tenha dois conjuntos: um para saídas de poucos mergulhos e outro complementar, quando se pretende ficar vários dias viajando, situação em que haverá tempo para uma manutenção mais complicada.

0 equipamento e seus defeitos
A máscara, pelo próprio material de sua fabricação, é equipamento bastante frágil, devendo ser protegido no transporte, urna vez que pode-se mergulhar sem muitos equipamentos, mais não a possuindo é impossível aproveitar alguma coisa do mergulho. Como são vários os problemas que podem ocorrer, tais como: quebra do vidro, perda da presilha ou ruptura da tira, prefiro sempre levar outra, preferencialmente de pequeno volume, que ajudará muito caso opte por praticar apneia: todavia, se você não quiser levar uma máscara extra, pelo menos uma alça de reserva é aconselhável. Caso sua máscara possua as presilhas da alça separadas do corpo, também é recomendável levá-las, visto que, com a ruptura da alça, elas caem e se perdem com facilidade.
As alças das nadadeiras, em face da tensão a que são submetidas no calcanhar, costumam arrebentar exatamente no ponto de contato com a fivela; portanto, se você não examina o equipamento constantemente, esses cortes podem passar desapercebidos até se romperem. Por isso, uma dessas tiras deve fazer parte do kit.
Pulseiras, como a do profundímetro, bússola e relógio também estão sempre sujeitas ase romperem. Para estes equipamentos e outros que precisam ficar fixos, uma tira de velcro feita por dois pedaços costurados na extremidade, em posição invertida, é um ótimo item para se ter de reserva, pois serve a múltiplas funções: tanto pode segurar o relógio conto a vareta da reserva, quando a presilha do backpack com essa função se parte.

O regulador
Os reguladores também costumam pregar peças em mergulhadores menos atentos à manutenção preventiva, e multas vezes ocorrem problemas que não poderiam ser detectados. Entre os mais comuns está a ruptura de o-rings. Para este defeito, o melhor é ter um conjunto completo sobressalente destes anéis de borracha para o seu regulador. No entanto, os o-rings só serão úteis se você possuir as ferramentas necessárias para desmontar e montar o equipamento e, obviamente, detiver conhecimento específico para a manutenção dos seus reguladores. Outro problema comum, e que em geral sentencia o mergulhador a uma espera no barco, é o estouro de uma mangueira.
Embora menos comum, este acidente ocorre com alguma frequência. Para remediá-lo, basta que você carregue alguns parafusos de vedação do primeiro estágio. Se o defeito ocorrer na mangueira do enchimento automático do colete ou no manômetro, a solução é simples: basta retirar a mangueira defeituosa, fechando a abertura no 1º estágio – lembre-se, porém, de controlar o mergulho pelo consumo de ar e/ou pelo mecanismo de reserva. Este defeito mostra a importância do conhecimento dos cálculos de autonomia. Se a falha ocorrer na mangueira do ° estágio, o mergulho só estará salvo se você possuir um octopus, bastando, neste caso, tirar o 2° estágio defeituoso.
Caso o defeito esteja no 2º estágio, a gama de soluções é ampla, dependendo do tipo de problema. O mais simples seria a retirada do 2º estágio defeituoso – esta solução está condicionada ao uso de um octopus. Outros tipos de defeitos são o free-flow, regulador duro demais e ruptura nas partes de borracha. Os dois primeiros dependem apenas de ajustes mecânicos, fáceis de serem feitos: enquanto para o reparo da ruptura de partes de borracha no 2º estágio, você utilizará algumas peças importantes, que podem ser facilmente substituídas, como um diafragma e uma válvula de exaustão extras, além dos o-rings e ferramentas apropriadas. Por último, uma boquilha extra também pode ser bastante útil, principalmente se acompanhada de algumas braçadeitas, que a prendem ao 2º estágio e que tem muitas funções no equipamento, servindo como “quebra-galho” em uma série de situações.
Lanternas são equipamentos que de igual modo devem merecer algumas peças extras, principalmente algumas lâmpadas, que em determinadas lanternas nacionais são utilizadas com amperagem maior do que suas especificações, para produzirem brilho mais intenso e por isso queimam com mais facilidade, devendo-se estar preparado para isto. Se sua lanterna possui o-rings de vedação, observe se estão em posição que facilmente possam ser danificados ou perdidos. Neste caso, vale a pena ter um extra.
Assim como outras peças sujeitas a muita tensão, os parafusos e as porcas que prendem a alça do backpack desgastam-se com facilidade, por isso um par de porcas sobressalentes é de extrema utilidade.
Você já deve ter tido a oportunidade de ter um zíper de roupa rompido. Neste caso, já sabe que a roupa aberta não oferece proteção contra o frio. Para contornar este imprevisto, basta ter uma terminação de zíper que funciona como um grampo que se aplica mantendo as duas partes dele fechadas. Após o mergulho, basta removê-lo para que o zíper abra novamente.

Kit de viagem
Fsafaonc2Como complemento do kit básico, você pode preparar um kit de viagem Onde haverá algumas peças de manutenção que só podem ser usadas com o equipamento seco ou em consertos mais complexos, a saber: cola de neoprene (para providenciar o imediato reparo de rasgos na roupa) e silicone (vai proporcionar a proteção de várias partes do equipamento, principalmente se você estiver mergulhando diariamente e não dispõe de tempo para a adequada lavagem do material).
Convém que você tenha um kit de reparo da câmara do BC, se seu colete permite o reparo a frio, pois furos ocorrem com alguma freqüência. Um tubo de cola de silicone pode resolver, se o furo for pequeno, embora este seja um reparo temporário; a cola também pode solucionar outros vazamentos no colete, como nos joelhos das mangueiras e outros. As fivelas de engate do colete, que mantêm este equi-pamento fechado, também quebram com a continuidade do uso, sendo aconselhável ter-se pelo menos uma de reserva.
Além de peças e ferramentas convencionais, que devem compor seu equipamento, com o tempo, sua experiência indicará outros itens que são muito práticos, tais como: cordinhas de náilon, tiras de borracha, pequena tesoura, etc.
Embora possa parecer exagerado o número de utensílios necessários para que se possa remediar os defeitos de última hora, esse material pode facilmente ser arrumado em uma pequena caixa, onde, inclusive, podem ser guardados alguns equipamentos pequenos que não devem ficar soltos no fundo da bolsa para evitar perdas. Entre eles, tabela de descompressão, planilha de escrita subaquática, bolsa de coleta, lanternas auxiliares, buddy line e até uma pequena farmácia que deve conter remédios de uso geral (analgésico, antiestamínicos, Se você costuma mergulhar com a mesma equipe, esse material pode ser dividido de maneira que cada um fique com uma pequena parte, tornando imperceptível o volume transportado; se seus mergulhos são sempre feitos no mesmo barco, é hora de pensar na instalação de uma pequena oficina – ela pode salvar o dia. Já tive oportunidade de ter entre minhas ferramentas a chave certa – inexistente na caixa de ferramentas do barqueiro para consertar o motor do barco que pifou.
Deixar de mergulhar por causa de um anel de borracha de poucos milímetros, parece ridículo, mas é muito comum acontecer, quando se sai em um barco não específico para mergulho e esquecemo-nos de que todos nós estamos sujeitos a imprevistos. desinfetantes e curativos) para minimizar pequenos acidentes durante a atividade, no barco ou na água.

KIT DE REPARO
Regulador:
diafragma válvula de exaustão boquilha braçadeiras , o-rings parafusos para o 2º estágio (fechamento de mangueira)
Máscara: alças e presilhas
Nadadeiras: presilhas e alças
Outros: lâmpadas e pilhas cordinhas tira de velcro ferramentas grampo para zíper

KIT DE VIAGEM
cola de neoprene
cola de silicone
óleo de silicone
presilhas plásticas (tipo engate rápido)
kit de reparo do colete

Maurício Borges de Carvalho é supervisor de mergulho em gruta. Instrutor PDIC. Acadêmico de Biologia. Fundador do GREC.


Curso de Mergulho em Naufrágios


Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil.

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