A identificação correta de um naufrágio muitas vezes pode demorar meses ou até anos. No caso do naufrágio conhecido como Dragão, em frente a Maceió. AL. começou em 1987, com uma matéria na antiga Revista Vela e Motor (Vela e Motor Nº 110 – Nas Águas de Alagoas). Porém a falta de oportunidade de mergulhar no local adiou o trabalho, que ficou restrito ao cruzamento de informações entre cerca de 1800 naufrágios sem localização do SINAU (Sistema de Informações de Naufrágios).
Engrenagem de propulsão da esteira de dragagem
Em novembro de 2005, comecei a preparar a viagem de 2006 no Voyager pelos naufrágios do nordeste, nesse processo selecionei 11 possíveis naufrágios que poderiam ser o Dragão, assim quando caí na água já sabia o que pesquisar durante os mergulhos.
Por sorte, devido as características peculiares do Dragão, um navio draga do início do século XX, foi fácil eliminar todos os alvos, restando apenas o naufrágio do André Rebouças. Debaixo d’água já estava certo da identificação, só faltavam cruzar as evidências.
Sistema de dragagem da primeira metade do século XX em um navio semelhante ao Dragão
Evidência 1:O ponto de partida foi o documento da Marinha do Brasil; Anais Hidrográficos, que citava em 1927, o naufrágio do navio draga André Rebouças a 9,5 milhas a Sudoeste da foz do Rio São Miguel no litoral de Alagoas. A descrição do local do naufrágio coincidia com a posição do Dragão.
Evidência 2: A partir dos dados do naufrágio fomos buscar as fichas do André Rebouças no Lloyd’s Register; descobrindo ser um navio semelhante a draga Affonso Pena da Inspetoria Federal de Portos, Rios e Canais do Rio de Janeiro, da qual tínhamos uma foto.
Evidência 3:Mergulhado no local pode ser percebido a incrível semelhança entre as peças da draga citada e as presentes no Dragão, mostrando claramente, pela peculiaridade do navio tratar-se de embarcações semelhantes.
Evidência 4: Finalmente, pudemos confirmar as dimensões do Dragão, verificando a compatibilidade entre as medidas de registro do André Rebouças e a dos destroços que se encontram no fundo. Existiu uma pequena diferença, de cerca de 1,5 metros, entre as medições locais e o registro do navio, porém nos destroços o casco está quebrado e desalinhado, o que deve ter provocado a discrepância entre as medidas.
(Maurício Carvalho – 2005)
As pesquisas sempre continuam (2025) e a notícia perfeita é encontrada Durante a renovação do Site, fui checando diversas informações que poderiam ter sido postadas com erros, em alguns casos achei dados novos, mas no Dragão veio o grande prêmio. A chamada notícia perfeita, vejam o texto: “… das mesmas repartidamente a importância de 450.000,00 contos de réis como indenização pela perda da draga André Rebouças, pertencente à Inspetoria de Portos Rios e Canais, a qual naufragou às 9:20 do dia 9 de março deste ano (1927) na latitude 9° 55′ 10″ sul e longitude 35° 40′ 50” oeste, por ter feito água devido a terem se desviado de seus lugares os respectivos verdugos, quando era conduzida a reboque do vapor Sergipe da companhia Lloyde brasileiro, do porto de Cabedelo para esta capital…
Agora tudo está no lugar (Maurício Carvalho – 2025)
O naufrágio
A draga de caçambas André Rebouças, pertencia a Inspetoria de Portos Rios e Canais, com sede no Rio de Janeiro. Ela estava na paraíba para cumprir a missão de dragar o porto de Cabedello (PB). Ao finalizar o trabalho o vapor Sergipe do Lloyde Brasileiro foi enviado para rebocar a Draga de volta ao Rio de Janeiro. O reboque se iniciou, mas quando o vapor e a draga passavam em frente o litoral de Maceió (AL), os reforços dos bordos da Draga (verdugo) se soltaram o que começou a quebrar o costado, permitindo a entrada de água na draga.
Quando a draga perdeu a capacidade de flutuação os cabos de reboque foram soltos e ela afundou. O peso da estrutura da rampa de dragagem, deve ter invertido o centro de gravidade da draga, que tem fundo chato, fazendo com que afundasse de cabeça para baixo.
André Rebouças O negro baiano André Pinto Rebouças foi militar, tornando-se um importante engenheiro monarquista e abolicionista do início do século XIX. Foi um dos responsáveis pela reforma do Porto do Rio de Janeiro de 1869.
Por isso a homenagem feita pela Inspetoria de Federal de Portos, Rios e Canais, batizando uma de suas Dragas com seu nome.
Hoje o nome dos irmãos Rebouças batiza um dos mais importantes túneis do Rio de Janeiro que liga a zona central da cidade a Lagoa Rodrigo de Freitas
Dados básicos
Nome do navio: André Rebouças
Data de afundamento: 09.03.1927
Dados de localização
Local: 8 milhas da costa
UF: AL
País: Brasil
Posição: 8 milhas da costa de Maceió
Latitude: 09º 51′ 657″ sul
Longitude: 035º 43′ 393″ oeste
Profundidade mínima: 30 metros
Profundidade máxima: 35 metros
Condições atuais: desmantelada
Dados técnicos
Nacionalidade: brasileira
Armador: Inspetoria Federal de Portos, Rios e Canais
Deslocamento: 658 toneladas
Comprimento: 55,5 metros
Boca: 10,5 metros
Tipo de embarcação: Draga de Caçambas
Material do casco: aço
Carga: vazia
Propulsão: sem propulsão
Motivo do afundamento: mau tempo
Muita fauna colorida Caldeira do Dragão e o sistema de giro das caçambas
Descrição
Este grande navio draga está claramente de cabeça para baixo e toda a estrutura de dragagem está caída para boreste do navio (bombordo do naufrágio). O casco é composto por duas partes semelhantes separadas por cerca de 3 metros, por onde passava a rampa de dragagem. Presas em cada uma das proas está uma grande âncora almirantado.
Na frente da draga está caída parte da lança de dragagem e debaixo do casco de bombordo partes das engrenagens, polias e catracas, que controlavam a altura da dragagem e o funcionamento do sistema.
Navio draga do mesmo tipo da André Rebouças naufragado na Austrália para compor um recife artificial. Reparem a esteira de caçambas e a torre na proa
Os dois cascos emborcados estão partidos em vários pontos do navio. Seguindo-se o costado de bombordo (lembrar que é o lado de boreste dos destroços) está caída junto a areia a esteira de dragagem, ela ainda liga a proa ao sistema de giro da draga junto as máquinas a vapor.
No meio da embarcação, as máquinas do tipo estão cobertas pelo sistema mecânico da dragagem, composta por várias catracas e polias.
A ponta da âncora na proa de um dos cascos
O casco da draga rompeu-se em diversas partes deixando a mostra algumas estruturas de maior resistência, como a sala de máquinas e as caldeiras. Uma das caldeiras é bem visível, tendo rompido o casco, a segunda caldeira permanece escondida debaixo do casco, mas pode ser facilmente alcançada pela maior abertura do casco junto às máquinas.
A popa totalmente emborcada pode ser facilmente distinta e está em perfeita forma.
Interior da sala de máquinas, onde o casco se rompeu A grande roldana, posicionada na ponta do braço Engrenagem do sistema de dragagem, virada para a parte superior dos destroços
Cada um dos dois cascos emborcados possui duas linhas de anteparas e em suas proas uma âncora realizava a dragagem Visão das caldeiras do interior da sala de máquinas Agradecimentos a toda a equipe da Atlantis a bordo do Voyager
SINAU
Para mais informações, acesse o Sistema de Informações de Naufrágios - SINAU
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