NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Sumário

Histórico

Galeão semelhante ao Nossa Senhora do Rosário

Poucos dados são conhecidos desse navio. O Nossa Senhora do Rosário era um galeão português construído provavelmente nos estaleiros do Porto (Portugal). Possuía um pouco mais de 30 metros metros de comprimento e foi construída para a Marinha de Portugal com objetivo de expandir e manter os domínios de além mar.
Era comandada pelo Frei Pedro Carneiro e em sua viagem final era tripulada por 100 marinheiros e estima-se transportava mais de 100 soldados.
O primeiro dois século após a descoberta do Brasil se caracterizaram pela intensa disputa pelas novas terras e riquezas entre as poderosas nações europeias, principalmente Inglaterra, Portugal, Espanha, Holanda e França. Em algum momento desse período todas eles se estabeleceram em alguma das atuas capitais mantendo o domínio territorial pelo menos por certo tempo.
No século XVII a principal disputa ocorreu entre os Holandeses fortemente instalados em Recife (PE.) e os portugueses que tinham como capital Salvador (BA). Essa disputa levou a diversas batalhas navais com perda de embarcações como o Galeão São Paulo (1692) no Cabo de Santo Agostinho. A batalha dos Abrolhos em 1631, a Batalha Naval de 1640 em Pernambuco, da qual participaram 66 embarcações luso-espanholas e 30 holandesas e a batalha de para conquistar Salvador em 1648.
A cidade de Salvador era guardada por fortes e ainda contava com a proteção da esquadra de Luís da Silva Teles, que havia levado a Salvador o novo Governador Geral do Brasil, Don Antônio Teles de Meneses, Conde de Vila Pouca de Aguiar. Mas do lado de fora a frota holandesa bloqueava as rotas apreendendo navios mercantes portugueses sem proteção.

Dados básicos

Nome do navio: Nossa Senhora do Rosário
Data de afundamento: 30.07.1648

Dados de localização

Local: Ilha de Itaparica
UF: BA
País: Brasil
Posição: Próximo a Caixa Prego
Latitude: 13º 07′ 783″ sul
Longitude: 38º 39′ 143″ oeste
Profundidade mínima: 19 metros
Profundidade máxima: 20 metros
Condições atuais: desmantelado e enterrado

Dados técnicos

Nacionalidade: portuguesa
Armador: Marinha portuguesa
Material do casco: madeira
Carga: material bélico
Propulsão: vela
Motivo do afundamento: combate com galeões portugueses

A Batalha

Parte final do combate

No dia 22 de setembro a esquadra do Almirante holandês Witte Corneliszoon De With partiu de Recife (PE.) com nove embarcações, entre elas  Brederotic a nau capitânia, Huys van Nassau (capitão Gillissen), Wapen van Nassau (capitão  De Zeeuw), Utrecht (capitão  Cort), Overijssel (capitão  Schut), Haerlen (capitão Toelast) e Zutphen (capitão Verween), aproximadamente 800 homens e provisão para dois meses. O objetivo era destruir os navios portugueses e manter um bloqueio à entrada da Baía de Todos os Santos, enfraquecendo a capital portuguesa.
Na aproximação de Salvador o Almirante De With dividiu sua esquadra em duas forças, a capitânia com mais duas fragatas, navegaram próximo a costa e outros três galeões velejaram mais ao largo. Porém as duas forças convergiram para a entrada da baía e no dia 28 por volta de meio-dia, chegaram a 4 milhas da barra de Salvador.
No dia 30 de julho de 1648, o governo geral português deu ordem para que a nau Nossa Senhora do Rosário, comandada pelo Frei Pedro Carneiro e o galeão São Bartolomeu, patrulhassem a barra, para permitir a entrada de navios mercantes que levavam suprimentos para a cidade.
Nos bloqueios navais os grandes navios armados mantinham-se além da linha do horizonte e fora do avistamento, principalmente em Salvador que carece de grandes elevações naturais e pequenas e velozes embarcações de apoio da frota, como chalupas e escunas, circulavam vigiando a movimentação no porto inimigo até o momento mais adequado para o ataque.
Ao detectar a presença dos dois navios portugueses e se aproveitando da condição do vento e correntes os Holandeses enviaram quatro navios de sua força para atacar os dois navios portugueses. Ao avistar uma força inimiga superior, os portugueses tentaram regressar para o interior da Baía de Todos os Santos onde teriam o reforço dos fortes costeiros.

O naufrágio

Depois de várias escaramuças e manobras entre os navios das duas frotas onde as duas capitânias quase colidiram, o galeão São Bartolomeu foi atacado e abordado pelo galeão Overijssel e após a abordagem e uma luta corpo-a-corpo, o galeão português acabou se rendendo. Durante o combate, os capitães das duas embarcações perderam a vida. O São Bartolomeu foi levado à Recife pelo capitão Jacob Paulusz Cort do Utrech, que sobreviveu a explosão.
As fragatas Hus Van Nassau e Utrech atacaram a nau portuguesa Nossa Senhora do Rosário pelos dois bordos, na tentativa de também interceptar e abordar o inimigo. Finalmente na posição em 13º07’30” sul e 38º39’10” oeste, próximo a Caixa Pregos em frente a extremidade da Ilha de Itaparica os três navios se juntaram.
Quando a abordagem ocorreu, o comandante da N.S. do Rosário, sem mais chances de se safar e na tentativa de evitar que seu navio, bem mais precioso nos combates navais, caísse nas mão do inimigo, ateou fogo ao paiol de pólvora do navio. Uma enorme explosão ocorreu envolvendo os três navios. O Nossa Senhora do Rosário e o Utrech afundaram quase imediatamente. Hoje eles estão no fundo afastados por apenas 200 metros.
Já o Hus Van Nassau do capitão Gysseling, muito avariado, sem mastros e fortemente adernado para bombordo ainda consegue se afastar e encalha em uma praia na ilha de Itaparica e é em seguida abandonado pela tripulação que embarcou no Wapen van Nassau e o Haerlen e partiram para o alto mar. Posteriormente, esse navio foi consertado, resgatado e quatro meses depois foi utilizado pelos portugueses com o nome de Fortuna.
Da tripulação de mais de 200 homens do Nossa Senhora do Rosário escaparam com vida apenas 4 tripulantes e no Utrech apenas 26.

As duas âncoras quase invisíveis junto ao fundo (foto da direita evidenciadas) e a pilha de pedras de lastro se diferenciando o do fundo 

Localização e resgate

A âncora almirantado com cepo de madeira. Quando a madeira se desfaz torna-se uma âncora plana

A descoberta dos naufrágios Utrech e Nossa Senhora do Rosário aconteceu oficialmente no dia 26 de julho de 1976, cabe lembrar aqui que desde o início da década de 1970 o galeão Sacramento já sofria uma operação de resgate de suas peças e a atividade estava muito evidente em Salvador.
Segundo o que é informado os destroços foram descobertos acidentalmente por pescadores de compressor, na embarcação do Sr. Walter Dias de Andrade, um dos pioneiros do mergulho na Bahia e pai do Instrutor de Mergulho Walter de Souza Andrade – Waltinho.
Após a descoberta e a identificação dos sítios, foi solicitada uma licença de exploração dos destroços à Marinha em 1983, seguidas nos anos de 1986, 1987 e 1988 de outras licenças.
Também são citados no período uma licença da Marinha do Brasil concedendo direitos de salvamento a SALVANAV, conhecida empresa de salvamento de destroços e a uma empresa canadense de propriedade do conhecido caçador de tesouros e escritor americano Robert F. Marx o Bob max.
Cabe lembrar que a Lei que regulamenta a exploração de bens subaquáticos, Lei 7.542 é aprovada em 1986, mas, sua regulamentação e aplicação não foram imediatas. Por isso, essas pessoas e empresas não cometeram crimes, atuando segundo a cultura, tradição e a lei do período.
Alguns dos objetos retirados do Nossa Senhora do Rosário estão sob a guarda da Marinha, são canhões de bronze, porcelanas e outros objetos, alguns em exposição em museus da Bahia e do Rio de Janeiro. Eles podem ser visos no Museu do Farol da Barra, em Salvador, no Museu Naval e Oceanográfico e no Espaço Cultural da Marinha no 1º Distrito Naval no Rio de Janeiro. Pelos contratos realizados a União ficaria com 20% dos artefatos com função cultural que seriam escolhidos pelos técnicos da  Marinha.
Em 1983,  a notícia de que um leilão de artefatos de naufrágios seria realizado na famosa Casa Christie’s em Amsterdã e nele seria leiloado um conjunto de moedas holandesas raríssimas, cunhadas no Brasil em 1645 e 1646, tornou o caso suspeito de ter sido exportado ilegalmente. O Brasil acelerou a preparação da legislação específica para regular o patrimônio cultural subaquático do país. Esse processo aprovou em 1986 a lei 7.542.

Depois desse período na década de 1980 o Nossa Senhora do Rosário ficou esquecido, pelo menos oficialmente, durante muitos anos, já que as marcações na época não foram feitas com GPS e dependiam de visadas da costa. Em 2015 os mergulhadores de Salvador  László Mocsári e Bruno Fagundes planejaram localizar  novamente os destroços.
Mergulhando a partir dos destroços do Utrech e utilizando rebreathers e scooters eles definiram uma área de busca, o procedimento resultou encontrar os destroços do galeão português, que em um gesto heroico transformou a perda do navio em vitória sobre duas embarcações inimigas. Agora o Nossa senhora do rosário está registrado definitivamente.

Um dos canhões sob a areia e outros sobre a pilha de lastro

Descrição

O Nossa Senhora do Rosário encontra-se a 200 metros a sudoeste dos destroços do Utrech. O pouco que restou do Nossa Senhor do Rosário está agrupado sobre fundo de areia a 20 metros de profundidade. O principal conjunto dos destroços cobre uma área de cerca de 50 metros quadrados.
Existe um grande aglomerado de pedras de lastro elevando-se do fundo cerca de 50 centímetros e próximo a ela existem três grandes âncoras almirantado planas.
No centro da pilha de lastro estão três canhões e na extremidade norte mais um canhão. A 8 metros a nordeste do lastro está mais um conjunto e 4 canhões. O último canhão está a cerca de 100 metros na direção do Utrech. Mas precisamente no rumo 240 graus.

 

László Mocsári
Vídeo do Nossa Senhora do Rosário

 

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