Sumário
O navio Pinguino é sem dúvida um dos pontos de mergulho mais visitado do litoral brasileiro; não só pela facilidade de acesso e tranquilidade das águas da baía da Ilha Grande, mas também, pelo belo conjunto de seus destroços, que agradam tanto ao mergulhador iniciante, que deve permanecer por fora; como aos mergulhadores de naufrágio que durante tantos anos gostaram de esmiuçar suas entranhas, conhecendo porões casario, motor e corredores.
Porém o tempo cobrou seu preço e hoje 2023 as estruturas internas não está mais equilibradas, com mudanças dramáticas frequentes e por isso não se recomenda mais penetrações no navio
Histórico
O navio foi projetado pelo estaleiro General Engineering and Dry Dock Co., Alameda, Californinia, USA, para a Marinha dos Estados Unidos. Era um navio de casco de aço, apresentava dimensões eram de 55,58 metros de comprimento, com um deslocamento de 998 toneladas.
Sua propulsão era produzida por dois motores diese GSB-8 da Cooper Bessemer National Supply Co. produzindo l1,710 NHP em dois eixos e hélices, que permitiam uma velocidade de 14.8 nós.
Teve seu batimento de quilha ocorrendo em 15 de abril de 1944 como Risk (AM 291) e foi lançado ao mar em novembro de 1944. Em novembro de 1945, com o final da 2ª guerra, sua construção foi cancelada. Em 1947 o casco foi comprado pela companhia Harrisville Corp. de Honduras e completado. O casario central, apresentava uma chaminé, dois porões à vante, um na popa, mastros em H e paus de carga. Foi batizado de George Gamblin.
Em 1953 foi adquirido pela companhia Three Bays Corp. de Panama City, no Panamá e renomeado Winding Bay. Em 1962 foi novamente vendido, dessa vez para a empresa Garimar S.A. do Panamá e finalmente renomeado Pinguino.
Dados e foto localizadas em janeiro de 2022 pelo Instrutor Luciano Emídio.
O foto descoberta – Luciano Emidio
O Pinguino foi meu primeiro mergulho em naufrágios, no dia 18 de Janeiro de 2009, durante meu curso de Open Water Diver! No Log deste mergulho guardado com carinho até hoje, consta a seguinte observação: “Sonho realizado!!!”. Era um sonho pois desde 2001 queria fazer o Curso de Mergulho e quando entrava em contato com a Captain Dive, Centro de Mergulho em Campinas/SP, e me explicavam como seria o final de semana na Ilha Grande/RJ, sempre comentavam sobre a possibilidade de se mergulhar no Naufrágio do Pinguino. Como sempre gostei de História, comecei a buscar mais informações e conheci o site “Naufrágios do Brasil”, do Instrutor Mauricio Carvalho, com quem tive a oportunidade de fazer meu Curso de Mergulho em Naufrágios em Agosto de 2010.
Na página do Pinguino, ficava tão atento às informações históricas, dados técnicos, descrição, croquis, etc, que passou despercebido por mim a seguinte frase: “Como não há fotos do Pinguino, a ilustração foi confeccionada a partir do croqui do naufrágio e conhecimento local”. Até que em Janeiro de 2022, em uma troca de mensagens no grupo sobre Naufrágios da Captain Dive, alguém escreveu “se eu não me engano, o Pinguino ninguém tem foto” e a Instrutora Tatiana de Mello (Tati), respondeu “temos que procurar isso. É uma das missões”. E missão dada, é missão cumprida!Ao retomar as pesquisas sobre o Pinguino, foi uma grande surpresa descobrir que inicialmente ele foi projetado durante a Segunda Guerra Mundial para ser um Navio Caça-Minas da Marinha Americana (Admirable Class Minesweeper) recebendo o nome de Risk (AM 291), entretanto, sua construção foi cancelada em Novembro de 1945. Em 1947, seu casco foi comprado pela Harrisville Corp. de Honduras e concluído como George Gamblin. Já em 1953, foi adquirido pela Three Bays Corp. do Panamá e foi renomeado como Winding Bay. E finalmente em 1962 foi adquirido pela Garimar S.A. do Panamá e renomeado como Pinguino. A partir daí já sabemos a história e como ele veio a naufragar no dia 26 de Junho de 1967, na enseada do Sítio Forte, na Ilha Grande.
Apesar destas novas descobertas, ainda faltava encontrar alguma foto do Pinguino! Ampliando a busca com os nomes anteriores, consegui encontrar uma foto de imprensa da Three Bays Line datada de 1954, com o Winding Bay navegando por Miami, sendo vendida pelo site do ebay! Será que era mesmo a foto que tanto buscávamos? Entrei em contato com a Tati que imediatamente também já envolveu o Mauricio para ajudar a analisar estas descobertas. Também encontrei alguns anúncios em jornais da época digitalizados pela Digital Library of the Caribbean e University of Florida, onde foi possível identificar anúncios e itinerários do Winding Bay (e também quando ele navegava como George Gamblin) e após cruzarmos algumas informações, finalmente foi possível confirmar que de fato se tratava de uma foto do Pinguino enquanto ele navegava com outro nome!
Após esta confirmação, fiz a compra pelo ebay no dia 04 de Janeiro e a previsão de entrega era para 07 de Março (sim, 3 meses de espera!). Acompanhando o código de rastreio constantemente, a foto ficou parada na alfândega brasileira no Rio de Janeiro desde o dia 11 de Janeiro e, ao invés de ser entregue no dia 07 de Março como previsto, ela foi devolvida para a vendedora (Helen) nos Estados Unidos, que a recebeu de volta no dia 15 de Março. Após contactarmos o ebay, os Correios e o Serviço Postal dos EUA, não foi possível descobrir o que houve e o ebay simplesmente fez o cancelamento/estorno da compra. Mesmo assim, a Helen e eu não desistimos do negócio e durante duas semanas conversamos sobre como trazer a foto para o Brasil.
Em conversas com a Tati, surgiu a ideia de enviar a foto para alguém que estivesse nos Estados Unidos (já que a Captain Dive teve um grupo de mergulhadores em trânsito pela Flórida alguns dias antes). Imediatamente entrei em contato com o Instrutor Igor Ishiguro que mora desde 2016 nos EUA – por coincidência, a mãe dele estava por lá e voltaria para o Brasil no dia 18 de Abril. O Igor topou receber a foto e enviá-la através de sua mãe e, finalmente, após pouco mais de 4 meses, a foto chegou.
Segundo a Helen, a mãe dela sempre lhe dizia “where there is a will there is a way” – onde há vontade há um jeito – palavras que sabiamente representam como foi esta saga por uma foto do Pinguino.
Um agradecimento super especial a todos os envolvidos!
Abraços
Luciano Emidiop.s.: Esta história também é uma homenagem ao Sr. Leoncidio Carvalho, pai do Mauricio Carvalho, que durante parte deste período esteve internado e infelizmente veio a falecer no dia 13 de Março de 2022.
Segundo o próprio capitão, o Pinguino navegava a 80 milhas da costa, com destino a Buenos Aires depois de tocar em Angra dos Reis, RJ.
Na noite de sexta-feira – 23.06.1967 -, irrompeu um incêndio devido a um curto circuito na casa de máquinas, motivando defeitos na bússola e outra avarias, o que fez o navio retornar a Angra dos Reis.
Na manhã de sábado, o fogo alastrou-se devido a carga de cera de carnaúba e tomou proporções alarmantes. O navio encontrava-se a 800 metros do cais, por trás da Ilha do Calombo.
Sendo infrutíferas as tentativas de combater as chamas, o navio foi rebocado para o abrigo da enseada do Sítio Forte, na Ilha Grande.
O incêndio durou 32 horas e causou pânico na tripulação, fazendo com que alguns tripulantes pulassem ao mar antes das baleeiras serem lançadas.
Todos os tripulantes foram resgatados pelo navio Monte Castelo, enquanto o rebocador Tritão e algumas lanchas da Escola Naval também davam apoio aos trabalhos de resgate.
O afundamento ocorreu após as 21:25 horas do dia 26, após flutuar dois dias com inclinação de cerca de 40º.
Segundo o Jornal O Fluminense foi aberto um inquérito policial pois suspeitava-se que o incêndio tenha sido provocado para encobrir contrabando, já que o navio estava fora da rota que seus documentos indicavam.
Na Ilha Grande é muito conhecida a história de que havia uma carga de sandálias de borracha americanas, que pilhadas do navio, foram utilizadas pelos ilhéus durante muitos anos.
Como não havia fotos do Pinguino, a ilustração foi confeccionada a partir do croqui do naufrágio e conhecimento local
Side Scan Sonar do navio Pinguino realizado pelo Navio Taurus do Serviço de Hidrografia e Navegação da Marinha
Dados básicos
Dados de localização
Dados técnicos
Posição do Pinguino na Baía da Ilha Grande, RJ.
Outros naufrágios: Quadrado da Gipóia, Bezerra de Menezes, Aquidabã, Rio de Janeiro (California), Helicóptero e Márcia ( mapa – Google Earth)
Descrição
Nos últimos 40 anos realizei mais de 300 mergulhos no Pinguino e manter uma descrição dos destroços foi razoavelmente fácil entre as décadas de 1980 e 2010. No entanto, nos últimos 15 anos o naufrágio vem passando por mudanças dramáticas praticamente todos os anos.
O processo de desmanche tornou sua descrição um texto em constante mudança e obrigou a confecção de mais de 20 croquis, com cada uma das mudanças perceptíveis.
Esses croquis geraram uma animação que da ideia do processo que torna um navio de inteiro a desmantelado, de uma checada na animação.
Podemos dizer hoje 2025, que no geral o navio está pousado de boreste no fundo com a proa direcionada para a esquerda da enseada. Sua profundidade máxima gira em torno de 22 metros, com pouco mais de um metro da estrutura enterrada no lodo da enseada. A profundidade mínima está em torno de 9 metros nas seções centrais do casco que ainda resistem, próximas a quilha de balanço.
O bico de proa ainda é perceptível e onde estão os escovéns, guincho e cabeços de amarração.
Como era o Pinguino nos seus primeiros 50 anos de naufrágio os rombos no casco foram feitos por operações de resgate dos hélices e máquinas
Seguindo-se por cima casco é fácil verificar que o casco de bombordo sobre os dois porões de proa foram formando fendas e acabaram cedendo em 2025, abrindo rombos para o interior do que foram os porões 1 e 2. O casco de bombordo sobre o porão de popa começou a abrir uma grande fenda em 2018 e em 2022 já havia colapsado totalmente, separando a meia nau da popa.
O casario acima do convés principal e ponte de comando começaram a ruir em torno de 2020 e finalmente em novembro de 2023 colapsaram totalmente. Partes desta estrutura se estendem em 45º do casco de bombordo até o fundo a 22 metros. Partes das vigias escadas, janelas e da chaminé estão nesse emaranhado de ferros e podem ser reconhecidas por quem conhecia o navio antes.
Essas condições tornam qualquer penetração em qualquer parte do Pinguino absolutamente insegura. O casco se mantem de lado apenas pelo apoio dos dois mastros em H e seus paus de carga, apoiados no fundo formando um tripé.
Na proa o mastro está localizado entre as estivas do porão Nº 1 e Nº 2, mas o desmanche do convés já lançou no fundo os guinchos e outras estruturas de trabalho.
O mastro de popa pode ser localizado entre as diversas partes que já colapsaram depois da estiva do porão. A pequena popa isolada, após a estiva do porão, continua na posição lateral.
Os motores e geradores, que compunham a casa de máquinas estão sob muitas chapas do casco e são hoje de difícil observação. O eixo de bombordo segue pelo que sobrou do casco e sai do navio junto ao final da quilha onde também está o eixo de boreste e logo à frente dos dois lemes que continuam em suas posições. Os hélices foram retirados com explosivos ainda na década de 1970.
Algumas das peças famosas
Guincho de carga do primeiro mastro entre os porões de vante – Grupo gerador, junto as máquinas – Porão se abrindo
Visão da popa da quilha eixos e lemes – Leme e ponta do eixo (pé de galinha) de onde foi cortado o hélice
Atenção
Lembramos que qualquer penetração em um navio neste estado é extremamente arriscada, já que bolhas e pancadas inadvertidas do mergulhador nas estruturas podem precipitar o desabamento. Mantenha-se seguro circulando apenas pelo lado exterior.
Veja na animação o que aconteceu com o Pinguino nos últimos 40 anos
Em 2018 e 2019 quando começaram a ocorrer as mudanças estruturais mais acentuadas – Em abril de 2021 novas alterações significativas
Em novembro de 2023 finalmente o porão de popa colapsou e casario ruiu completamente – O que restou da frente da cabine de comando
Em 2024 o convés se separando do casco na proa do Pinguino – Em agosto de 2025 o porão de popa rompeu
As fotos dos destroços ao longo dos anos
Corredor que, até 2019, ligava o 2º porão de proa a sala de máquinas
Visão da sala de máquinas, hoje já não existe mais. Espaço acima do motor proa a sala de máquinas
Período em que ainda era possível penetrar no casario e porões
Parte do da estrutura que une os mastros de vante muito colonizada
Guincho de proa. Ao fundo as janelas de navegação
Visão do convés de popa, onde fica a entrada do porão em 2016, ainda com o convés ligado ao casco
Visão do convés de popa, onde fica a entrada do porão em 2018, com o convés já separado do casco
A direita visão do rasgo que se formou no convés (lembrar que o navio está de lado) e segue em direção a proa
Vale formado pelo casco com sua ruptura e parcial desabamento.
Visão do rombo lateral em direção a popa
Visão da popa para a proa do convés que cedeu e apresenta uma grande abertura para o porão
Em novembro de 2023 finalmente o casario ruiu completamente. O que restou da frente da cabine de comando
O convés se separando do casco na proa do Pinguino
Para saber mais
Naufrágios de Angra dos Reis
SINAU
Para mais informações, acesse o Sistema de Informações de Naufrágios - SINAU
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