SIQUEIRA CAMPOS

Sumário

O Gertrud Woermann e o Siqueira Campos

O vapor ainda como Gertrud Woermann

O forte aumento do comércio da Alemanha, com as nações da América do Sul orientado por um plano de expansão, levou as armadoras do país a mandar construir muitos navios, o Siqueira Campos surgiria neste contexto. Era um vapor misto mandado construir nos estaleiros Reiherstiegwerft Schiffswerfte,  de Hamburgo na Alemanha para a armadora Woermann Linie KG  e lançado ao mar em 1908 com o nome de Gertrud Woermann.
Apresentava 126,6 metros de comprimento e 15,4 metros de boca, deslocando 6.465 toneladas.
Era impulsionado por duas máquinas a vapor  de tripla expansão, com potência de 2.800 hp, movimentando dois hélices que permitiam atingir velocidade máxima de 12 nós.
Com uma tripulação 125 homens podia transportar, além da carga, 238 passageiros  divididos  em 3 classes ( 96 na primeira classe 62 na segunda classe e 80 na terceira classe).

Observação: os dados técnicos desse navio são confusos pois existiram outros 3 navios com o mesmo nome, lançados a partir de 1885.

Em agosto de 1914, com a notícia do início dos conflitos da 1ª guerra mundial na Europa o Gertrud Woermann que estava ancorado porto do Rio de Janeiro, permaneceu ancorado evitando enfrentar o bloqueio da Inglaterra e França.
Em junho de 1917, devido à piora do conflito e ataques a navios nacionais , foi apreendido pelo governo brasileiro junto com um total de 34 outros vapores alemães entre eles o Tijuca (Baependy). No dia 13 de 1917 os jornais anunciavam que antes mesmo do Lloyd Brasileiro tomar posse da embarcação o navio havia sido saqueado com pés de cabra e todos os cômodos foram arrombados.
Recebeu inicialmente o nome de Curvello, com o qual navegou entre 1918 e 1921 inclusive arrendado ao governo francês.
Em 1925 o Lloyde  Brasileiro torna-se definitivamente o proprietário do vapor e em 1927 é rebatizado como Cantuária Guimarães, ex diretor do Lloyde brasileiro assassinado em julho de 1927 a tiros de pistola por outro oficial da empresa. Finalmente em 1931 é novamente batizado como Siqueira Campos, nome que o acompanhou até o final. Pelo Lloyd Brasileiro este vapor misto foi utilizado sobretudo na rota Santos-Lisboa.

O Gerrud Woermann foi rebatizado sucessivamente como Curvello (foto acima) e  Cantuária Guimarães que já navegavam com o pavilhão brasileiro


O Siqueira Campos, último nome de um dos melhores vapores do Lloyd Brasileiro

Histórico do Siqueira Campos

No final de 1940, o Siqueira Campos retornava ao Brasil com 240 passageiros e um carregamento de oito milhões de libras esterlinas em armamentos da fábrica alemã Friedrich Krupp AG embarcados em Lisboa (Portugal) de um contrato  firmado em 1938. Assim que partiu de Lisboa foi interceptado e detido por navios da marinha britânica, que realizavam o bloqueio ao comércio da Alemanha e o conduziram à Gibraltar.
O navio permaneceu apreendido por dois meses até que os  as devidas explicações fossem prestadas pelo governo brasileiro e o navio liberado.
Em 23 de junho de 1941, quando seguia do Brasil para Portugal, na altura do arquipélago de Cabo Verde foi interceptado com dois  tiros de canhão por um submarino alemão. O U-boat ordenou sua parada e instruiu o capitão do Siqueira Campos a enviar um escaler  até o submarino com a lista de passageiros e o manifesto de carga. O capitão alemão, falando em português, examinou os papeis e depois de duas horas liberou o vapor do Lloyd.
   
A guerra causando muitos incidentes nas rotas do Siqueira Campos

Antônio Siqueira Campos (seta)
Militar e político foi um tenente do exército participante do Movimento Tenentista, que em julho de 1922 marchou pela praia de Copacabana no episódio conhecido como revolta dos  18 do Forte, do qual Siqueira Campos foi um dos poucos sobreviventes.
Entre 1924 e 1927 foi um dos líderes da Coluna Prestes. Em maio de 1930, quando voltava do exílio no Uruguai seu avião caiu no Rio da Prata e ele faleceu.

Dados básicos

Nome do navio: Siqueira Campos
Data de afundamento: 28.08.1943

Dados de localização

Local: Praia de Uruaú
UF: CE.
País: Brasil
Posição: 5 quilômetros da praia de Uruaú
Latitude: 04º 10,728 sul
Longitude: 038º 00,827 oeste
Profundidade mínima: 0 metros
Profundidade máxima: 12 metros
Condições atuais: semi inteiro

Dados técnicos

Nacionalidade: brasileira
Ano de fabricação: 1907
Estaleiro: Reiherstiegwerft Schiffswerfte, Hamburgo – Alemanha
Armador: Lloyd Brasileiro
Deslocamento: 6.465 toneladas
Comprimento: 126,6 metros
Boca: 15,4 metros
Tipo de embarcação: paquete
Material do casco: aço
Carga: cimento
Propulsão: vapor – Máquinas de tripla expansão
Motivo do afundamento: choque com o vapor Cuyaba

A Segunda Grande Guerra

Durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial o conflito parecia apenas um leve eco dos acontecimentos da Europa. Apenas alguns episódios isolados e esporádicos como os afundamentos em 1939 e 1941 dos navios alemães encouraçado Graf Spee no Uruguai e o Wakama  ao largo de Búzios, RJ. lembravam que o país estava à margem de um grande conflito.
Porém, em 1942 essa confortável situação mudaria. Em dezembro de 1941, com o ataque do Japão a Pearl Harbor, os Estados Unidos entram na guerra, contra o pacto tripartite do eixo, do qual faziam parte a Alemanha, Itália e o Japão.
Em dezembro de 1941, Doenitz, o comandante da Marinha de Hitler, decide utilizar os U-boats para dar início a uma campanha de ataque ao tráfego marítimo comercial ao longo da costa leste dos Estados Unidos, visando cortar as linhas de suprimentos.
Esta campanha, conhecida como Paukenschlag (batida de tambor), provocaria a partir de janeiro de 1942 a perda de milhões de toneladas brutas aos aliados.
Diante da flagrante agressão a um país pan-americano, as demais nações do continente não podiam ficar passivas. Em janeiro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro, é realizada uma reunião com os países da América. Devido à resolução Nº 5 desta reunião, o governo brasileiro decide cortar relações diplomáticas e comerciais com as nações do eixo; decisão que fortalecia a ideia de uma futura declaração de guerra. Além disso, os Estados Unidos pressionava e oferecia vantagens para que o Brasil permitisse a instalação de bases americanas em território brasileiro.
Em fevereiro de 1942, o governo adota as primeiras medidas preventivas de defesa. São tomadas precaução defensivas ao longo da costa do país e são convocados para serviço ativo os reservistas da Marinha com menos de 40 anos de idade.
A operação Paukenschlag de Doenitz, teria consequências também para o Brasil. De fevereiro a julho de 1942, 12 navios mercantes brasileiros foram afundados ao longo das costas das Américas por submarinos Italianos, mas na sua maioria alemães. Entre eles estavam o: Buarque (14.02), Olinda (18.02), Cabedello (25.02), Arabutã (07.03), Cayru (08.03),  Parnahyba (01.05), Gonçalves Dias (24.05), Alegrete (01.06), Pedrinhas (26.06), Tamandaré (26.07), Piave (28.07)  e Barbacena (28.07), Antônico (28.09) e o Apalóide (22.11).
Mas em julho de 1942, as agressões se intensificaram.

O ano é 1943, auge da Segunda Guerra Mundial, devido aos frequentes ataques dos submarinos alemães, os navios brasileiros foram obrigados a viajar em comboios protegidos por unidades militares em rotas previamente vistoriadas pela aviação de patrulha. Nesses comboios a navegação era feita as escuras e com constantes e bruscas mudanças de direção.

O naufrágio

Em agosto de 1943, mês de ventos intensos e mar agitado no litoral nordeste do país, o Siqueira Campos, sob o comando do Capitão-de-Longo-Curso Luiz Raizon e o Cuyabá (ex  Honhoenestauffen, também confiscado pelo Brasil em 1917), ambos do Lloyd Brasileiro, além de outros navios, navegavam em formação numa rota para o sul próximos da costa.
Seguiam paralelamente em comboio a 500 metros um do outro, completamente apagados e escoltados pelos caça-submarinos da Marinha Brasileira Juruá e Jaguarão.

Na madrugada do dia 25 de agosto de 1943 o Siqueira Campos seguia sob o comando o 1º imediato Manoel Passos Pereira, oficial e quarto, quando o vapor Cuyabá de 6.489 toneladas realizou uma troca de rota, de acordo com o protocolo do comboio, emitindo dois apitos curtos e realizando uma guinada para boreste. O Siqueira Campos não manobrou da mesma forma e não foi possível evitar o choque, os dois navios colidiram violentamente, ficando ambos com sérias avarias e fazendo água.

As camisas de colisão são bandagens impermeáveis fixadas sobre o casco de forma a vedar ou pelo menos diminuir a entrada de água por áreas com danos no casco

O Cuyabá em marcha lenta e escoltado por um caça-submarino Jaguarão seguiu para o porto de Fortaleza (CE), onde foi encalhado propositadamente na praia de Mucuripe. Ele seria reparado posteriormente.
O Siqueira Campos, escoltado pelo caça-submarino Juruá, rumou na direção da costa fundeando próximo a Aracatí.
Ao longo do dia 25 foi instalada uma camisa de colisão (antepara fixada ao local do vazamento para bloquear a entrada da água), mas a entrada de água continuava a aumentar. Assim, o comandante decidiu suspender âncora na tentativa de também alcançar o porto de Fortaleza. No entanto, as bombas não conseguiam dar vazão e foi decidido o encalhe do navio na altura da praia de Uruaú (entre Canoa Quebrada e Fortaleza e a 40 milhas do farol do Mucuripe – Fortaleza).
Parte da carga foi jogada ao mar, mas apesar de todos os esforços, a cerca de 5 quilômetros da praia de Uruaú  o Siqueira Campos girou, deixando a popa para terra, o mar começou a entrar por cima da murada, as máquinas deixaram de funcionar e a energia elétrica cessou.

Em menos de meia hora, uma das maiores unidades do Lloyd Brasileiro  assentou no fundo a 10 metros de profundidade. Deixando acima da superfície apenas parte do casario e os mastros.
O Comandante Raizon, deu ordens para que a tripulação e os passageiros abandonassem o navio, permanecendo a bordo somente ele, seu imediato e o contramestre. Os escaleres rumaram pra a praia onde desembarcaram uma hora depois sem vítimas, embora existam comentários na região que “ no dia do naufrágio, houve inclusive um homicídio na beira da praia devido a uma briga por causa dos objetos do navio e que encalharam na praia”.
De Fortaleza foi enviado o rebocador Comandante Dorat , que durante vários dias realizou tentativas de salvar o vapor, mas as condições de mar pioravam muito e depois de quase 40 dias de trabalho na tentativa de desencalhar o Siqueira Campos, no dia 07 de outubro ele foi considerado perdido com todo o carregamento que ainda estava abordo.
Nos anos seguintes ao sinistro, após ser constatado sua perda total, foi iniciada uma operação de salvatagem das estruturas. Diversas partes foram dinamitadas e removidas.
O jornal A Noite anunciava e junho de 1946 que o imediato Manuel Pereira, oficial de quarto na hora do acidente foi considerado culpado pela perda do vapor e condenado a um ano de prisão.

Descrição

Sacos de cimento endurecidos no fundo do mar

O navio está posicionado corretamente no fundo poiado pela quilha e com a proa direcionada para mar aberto. A proa está inteira (compartimento de colisão) mas separada do conjunto dos destroços. Podem ser vistos os escovéns, cabeços de amarração e adriças.  O casco está parcialmente inteiro com uma grande rachadura próximo a proa. No porão de proa estão pilhas de sacos de cimento solidificados. Em direção à popa encontramos as duas grandes caldeiras cilíndricas, as máquinas parecem ter sido removidas.
A entrada do porão de popa se mantém estruturada com uma escada até o fundo arenoso.
Na popa notamos o leme ainda no lugar, mas o hélice foi removido. O volante do leme é a parte superior dos destroços e aparece na superfície durante a maré baixa.

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