Destino: naufrágio

Inimigos Invisíveis

Onde estão? A que profundidade? E o que afinal aconteceu?
A história dos submarinos do eixo em águas brasileiras tem mais Perguntas que respostas


 
Revista Mergulho, Ano XII - Nº 141 - Abril/2008
Texto: Maurício Carvalho
 
A ação dos submarinos do Eixo (Alemanha, Japão e Itália) ao longo da costa do Brasil ao longo durante a 2ª Guerra Mundial provocou a perda de 20 navios brasileiros e 56 estrangeiros, além de outros ataques em que os navios conseguiram chegar a um porto. A agressão matou mais de 1500 valorosos marinheiros.
Mas, mesmo apesar de todo esse impacto, a presença desses submarinos sempre foi um grande mistério para os brasileiros. Inicialmente, a própria característica furtiva dessa arma desenvolvida para pegar os navios desprevenidos, torna os submarinos discretos. Mesmo depois do término da guerra, nenhum dos 11 submarinos supostamente afundados foi localizado e, especulou-se durante muito tempo que poderiam ter sido os próprios americanos a torpedear os navios brasileiros, para nos forçar a entrada do país na guerra contra as forças alemães, italianas e japonesas.
O tempo passou, relatórios de guerra foram divulgados e a identidade de vários submarinos alemães e italianos que atuaram em nossas águas, assim como suas vítimas, foram descobertas.
Passados 65 anos, nenhum dos submarinos afundados em nosso litoral foi localizado e, embora alguns proponham projetos sérios e outros tentem na sorte, pouco progresso ou informações realistas foram divulgados nos últimos anos. A desinformação ainda é a tônica quando falamos de nossos inimigos e nem mesmo o número exato de submarinos que patrulhou nossas águas é conhecido.
  
 
Saiba quais são as principais dificuldades para a localização dos famosos
U-boats (abreviatura de Underseeboat) nas águas do Brasil.
 

OS SUBMARINOS REALMENTE AFUNDARAM ?

Diversos ataques aos submarinos do Eixo tiveram sobreviventes. Ao serem interrogados, esses tripulantes identificaram seus submarinos e confirmar o afundamento de suas naves. No entanto, alguns dos ataques deixaram na superfície, apenas destroços, sem corpos ou sobreviventes. Ocorre, que um dos mais conhecidos artifícios dos capitães de submarinos era lanças destroços e óleo pelos tubos de torpedos, de modo a enganar os navios patrulha (Como a Camaquã), simulando seu afundamento.

Alguns Afundamentos de submarinos foram confirmados por tripulantes sobreviventes:
Arquimede, U-128, U-164, U-199, U-513, U-590, U-591, U-598, U-662

Outros como nos casos do U-161 e do U-507, nunca obtiveram confirmação


 
É POSSÍVEL ACREDITAR NA LOCALIZAÇÃO DELES ? 

Muitos dos autores, e conseqüentemente pesquisas para a localização dos submarinos, utilizam as posições de Latitude e Longitude citadas nos relatórios - principalmente da aviação de patrulha e registrados na aeronáutica brasileira e americana.
Mas é preciso levar em consideração de que forma essas posições foram calculadas. Vários submarinos localizados por aviões em patrulha no raio de proteção dos comboios. No momento da identificação iniciava-se imediatamente o ataque e, na maioria dos casos o revide das armas antiaéreas do submarino.
Imaginem um piloto brasileiro em 1942, recém-treinado e lançado
em um conflito da dimensão da 2ª Guerra, a bordo de alguns dos mais difíceis de serem pilotados na época, caso dos Hudsons.
Será que ele teria calma para uma plotagem correta, ao mesmo

 
tempo que fazia os ajustes finais para calibras bombas e desviar-se
de balas inimigas. Alguns dos U-boats eram protegidos por até 3 montagens quádruplas de 30 mm.
Nessas circunstâncias, a posição era passada ao comando pelo rádio basicamente para direcionar os aviões de reforço, até que esses localizassem o combate que estava sendo travado.
 

A QUE DISTÂNCIA DO LITORAL ESSES SUBMARINOS OPERAVAM ?

Muitos dos navios torpedeados em nosso litoral, principalmente os brasileiros, podiam ser vistos da costa. O motivo é bem simples: a frota brasileira era antiga e os navios,lentos - esfumaçavam muito, revelando sua posição aos submarinos. Por isso, vários deles foram proibidos de viajar protegidos pelos comboios. Acabando por viajar sozinho, tornaram-se alvo fácil.
No entanto, ao longo da guerra, com o desenvolvimento da aviação de patrulha, sistema de comboios e do radar, os submarinos foram se afastando do litoral e muitos deles acabaram por afundar em águas com profundidades maiores do que 500 metros, o que os deixa muito além do limite do mergulho autônomo. Alguns episódios porém ocorreram em águas rasas. Portanto há esperança de descobrir o paradeiro de algum deles.

 
 
Distância do Litoral em Milhas
U-199 (RJ.)
30 milhas
U-128 (Al.)
32 milhas
U-591 (PE.)
33 milhas
U-598 (RN.)
60 milhas
U-164 (CE.)
80 milhas
U-507 (PI.)
100 milhas
U-161 (BA.)
120 milhas
U-513 (SC.)
120 milhas
U-662 (AP.)
180 milhas
U-590 (AP.)
200 milhas
Arquimede (FN.)
115 milhas
 
 
Característica dos submarinos
Tipo
Deslocamento
Medidas
Velocidade
Armas
Tripulação
1.070 T.
67,10 m. X 6,20 m.
17,7 nós - superfície
7,6 nós - submerso
14 Torpedos e 26 minas
44 a 52
1.540 T.
76,76 m. X 6,76 m.
18,3 nós - superfície
7,3 nós - submerso
22 Torpedos e 44 minas
48 a 56
2.150 T.
87,58 m. X 7,50 m.
20.8 nós - superfície
6.9 nós - submerso
24 Torpedos e 44 minas
55 a 63
1.231 T.
69,3 m. X 6,6 m.

16 Torpedos e 26 minas
40 a 52
 


Com o que se parecem os submarinos no fundo?

Quando mergulhamos em um naufrágio podemos encontrar uma estrutura muito semelhante ao navio original.
Porém a maioria dos submarinos localizados no fundo
estão longe se ter a aparência que nos vêm à cabeça
quando pensamos em um U-boat.
A estrutura externa do submarino, bastante fina, está desfeita, pelo tempo e/ou pela força agressiva que o pôs no fundo. Sobrando apenas o vaso de pressão (muitas vezes até rompido) os tubos de torpedo e um cone que estruturava a torreta, de onde se projetam os restos de periscópios e antenas de rádio (Figura *).
Por isso, não espere a figura clássica de seus filmes de guerra preferidos. O vaso de pressão, muito pesado freqüentemente está bastante enterrado.

 




Estrutura cilíndrica (vaso de pressão - cinza) dos submarinos, que normalmente resiste no fundo.
O vaso de pressão, por ser muito pesado, enterra-se com muita facilidade.


* Figura não incluida na matéria original da revista.

 
 

 

Grandes Batalhas - Como os submarinos nazistas sucumbiram

 
Submarino U-507 (tipo IX C)
NAUFRÁGIO: 13.01.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 01º 38' S. Long.: 039º 52' W.
ATAQUES: Afundou o Baependi (SE), Araraquara (SE), Anibal Benevolo (SE), Itagiba (BA), Arará (BA), Jacira (BA), Hammarem (BA), Oakbank (CE), Barom Dechmont (CE) e Yorkwood (RN).
Um Catalina protegia um comboio, atacou a cerca de 100 milhas do litoral do Piauí um U-boat que já submergia. Quatro bombas foram lançadas, quando na superfície só restava a torreta. Após o ataque, somente uma mancha de óleo foi observada; não houve mais notícias do submarino. Após a guerra, os arquivos alemães identificaram o alvo como sendo o U-507.
 

Submarino U-590 (tipo VII C)
NAUFRÁGIO: 09.07.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 03º 22' S. Long.: 048º 38 ' W.
ATAQUES: Afundou o Pelotaslóide (PA).
Um Catalina decolou da base aérea de Belém. A 200 milhas ao largo do Amapá, f o submarino foi visto em início de submersão. Após uma hora ele foi novamente localizado imóvel na superfície.
O Catalina mergulhou violentamente soltando suas bombas poucos metros acima do submarino.
O U-boat foi atingido em cheio, afundando rapidamente. Restaram na superfície destroços e 5 homens.
Várias balsas foram lançadas, 2 náufragos agarraram-se a elas, porém 3 afogaram-se. Horas mais tarde foram recolhidos por um navio.

 Submarino Arquimede (Italiano)
NAUFRÁGIO: 15.04.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 3º 23' N. Long.: 030º 28' W.
ATAQUES: sem registro.
Dois aviões Catalina voavam à cerca de 350 milhas de Natal, quando avistaram um submarino.
O piloto, manteve o curso e iniciou o bombardeio a 6 mil pés.
Foram lançadas quatro bombas em duas passagens. Durante todo o ataque, o submarino manteve a barreira antiaérea. O submarino rodopiou, perdeu óleo e fez fumaça, mas retomou a marcha.
Foi feito contato com outro avião, que ao avistar o submarino, iniciou o ataque lançando mais quatro bombas. Após as explosões, o submarino afundou de popa. Na superfície, 30 sobreviventes se debatiam.
 
 
 
 
Submarino U-128 (tipo IX C)
NAUFRÁGIO: 17.05.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 10 º 00' S. Long.: 35º 35' W.
ATAQUES: Afundou o Adelfotis (RN) e Teesbank (CE).
Dois aviões Mariners avistaram um submarino na superfície, a 32 milhas da costa. O primeiro lançou suas bombas após a submersão. Algum tempo depois, o U-boat retornou a superfície. O segundo Mariner, atacou o submarino, que respondeu com forte barragem antiaérea as mais de 20 passagens dos aviões.
O U-boat tentou mergulhar, mas as máquinas pararam e a tripulação abandonou o barco.
Dois destroiers, o Moffett e Jouett, atacaram com canhões o submarino já imóvel, ele levantou a proa e afundou. Os ingleses recolheram 51 homens da tripulação.
 Submarino U-513 (tipo IX C)
NAUFRÁGIO: 19.07.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 27º 17' S. Long.: 047º 32' W.
ATAQUES: Afundou o Veneza (SP), Tutoia (SP), Eliuhu B. Washburne (SP) e Richard Caswell (SC).
Pela manhã, um Mariner realizava patrulha pela área do torpedeamento do Richard Caswell em frente a Florianópolis. Durante o vôo foi feito contato pelo radar e identificado com binóculos um submarino. Quando o avião atacou, iniciou-se o forte fogo da antiaérea.
O avião lançou seis bombas. As explosões ergueram o submarino da água, fazendo-o afundar de proa em menos de um minuto. Na superfície, ficaram destroços, uma grande mancha de óleo e 20 sobreviventes debatendo-se no mar. Apenas 7 foram resgatados.
 Submarino U- 662 (tipo VII C)
NAUFRÁGIO: 21.07.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 3º 56' S. Long.: 48º 46' W.
ATAQUES: três barcos sem identificação.
Um Catalina decolou de Belém para dar cobertura a um comboio, Três horas e meia depois, um submarino foi avistado na superfície.
O capitão preparou o ataque, respondido pelo submarino com intensa barragem antiaérea, que feriu o radiotelegrafista. O Catalina lançou suas bombas, atingindo o casco em cheio. O submarino parou, a proa embicou para cima e afundou de popa, deixando atrás de si uma mancha de óleo. Quatro tripulantes, inclusive o capitão, derivaram em uma balsa por muitos dias sem água ou comida, três foram recolhidos ainda com vida por um navio.
 
Submarino U-199 (tipo IX D2)
NAUFRÁGIO: 31.07.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS: Lat.: 23º 47' S. Long.: 042º 57' W.
ATAQUES: Afundou o Charles W. Peale (RJ) e Henzada (ES).
Três aviões operavam uma varredura nas proximidades da Baia de Guanabara, quando pelo radar, foi feito contato e logo depois localizado um submarino.
O Mariner, mergulhou entre as nuvens evitando o pesado fogo inimigo e lançou seis bombas. Imediatamente o U-boat começou a fumegar e perder óleo, passando a girar com a popa mergulhada.
O avião informou o ataque pelo rádio e ficou sobrevoando a área.
Um Hudson, chegou cerca de 10 minutos após o contato e executou outro mergulho, lançando de forma errada duas bombas que explodiram muito longe. O fogo antiaéreo continuava ativo quando chegou o terceiro avião, um Catalina da FAB, que lançou mais quatro bombas.
O U-boat afundou em menos de um minuto e a menos de 8 milhas do local do primeiro ataque; deixando um grande rastro de óleo em todo esse trajeto.
Muitos homens da tripulação haviam abandonado o barco e estavam na água e logo o submarino desapareceu. Os aviões lançaram balsas e posteriormente foram resgataram 12 tripulantes.
 Submarino U-598 (tipo VII C)
NAUFRÁGIO: 23.07.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 04º 05' S. Long.: 033º 23' W.
ATAQUES: dois barcos sem identificação.
Durante uma patrulha, um Mariner da base aérea de Natal localizou o submarino na superfície, iniciando o ataque com várias bombas; algumas atingiram o convés e uma delas o levantou da superfície, o submarino começou a vazar óleo e tornou-se incapaz de mergulhar.
As armas antiaéreas do U-boat continuavam a atirar.
Outro Mariner, que atendeu ao chamado pelo rádio, lançou suas bombas a cerca de 20 metros; as explosões muito próximas, causaram o desequilíbrio da aeronave que descontrolada mergulhou no mar, matando todos os seus ocupantes.
Um terceiro avião lançou mais seis bombas, selando o destino do U-598, que afundou rapidamente, deixando atrás de si muitos destroços e uma grande mancha de óleo. Vários tripulantes abandonaram o submarino em duas balsas. Uma se perdeu, a outra emborcou e somente dois homens foram resgatados.
 
 
 
 
Submarino U-161 (tipo IX C)
NAUFRÁGIO: 27.09.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 12º 30' S. Long.: 035º 35' W.
ATAQUES: Afundou o Ripley (CE), Sant Usk (BA) e Itapagé (AL).
Ao amanhecer um Catalina decolou de Salvador. A 38 milhas do litoral, o avião fez contato pelo radar e um submarino foi avistado na superfície.
Durante o ataque o U-boat respondeu com um intenso fogo antiaéreo, ferindo diversos tripulantes. O Catalina soltou oito bombas em dois ataques. Elas atingiram a popa do submarino que submergiu rapidamente e desapareceu. O afundamento nunca foi confirmado, mas não houve mais notícias desse submarino.
 

Submarino U- 591 (tipo VII C)
NAUFRÁGIO: 30.07.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 08º 36' N. Long.: 034º 34' W.
ATAQUES: cinco barcos sem identificação.
Um Ventura decolou da base aérea de Fortaleza para cobertura do comboio TJ-2 (Trinidad / Rio de Janeiro). A cerca de 33 milhas de Recife, foi avistado a esteira de um submarino.
O avião mergulhou lançando seis bombas, uma das quais caiu diretamente sobre o convés. O submarino iniciou uma navegação, parou e afundou abruptamente de proa, deixando uma grande mancha de óleo. Foram recolhidos 28 sobreviventes.

 Submarino U-164 (tipo IX C)
NAUFRÁGIO: 06.01.1943
POSIÇÃO DOS RELATÓRIOS:
Lat.: 01º 58' S. Long.: 039º 22' W.
ATAQUES: Afundou o Bragaland (CE).
Foi atacado a 80 milhas do litoral de Fortaleza com cargas de profundidade por um avião Catalina.
O submarino quebrou-se ao meio e seus sobreviventes amontoaram-se numa balsa de borracha, lançada pelo piloto, sendo posteriormente resgatados e levados ao Estados Unidos para interrogatório - operação padrão durante toda a guerra.
 

Curso de Mergulho em Naufrágios

 

Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil.

Veja mais em: 2ª Guerra Mundial
 

voltar a biblioteca