Sumário
Pesquisa e texto: Maurício Carvalho
Histórico

Este graneleiro de 180 metros de comprimento e mais de 18.000 toneladas de deslocamento foi construído em 1959 nos estaleiros da Siag Nordseewerke em Emden na Alemanha para a companhia Hunting Tankers Ltd de Newcastle e batizado como MV Derwentfield.
Em 1967 foi transferido para a companhia Skibs A/S Kim, Oslo na Dinamarca e rebatizado MV Betty.
Finalmente em 1978 foi pela última vez transferido para a companhia Lydia Cia Naviera SA, Piraeus na Grécia e rebatizado como MV Cavo Artemidi.
Dados básicos
Dados de localização
Dados técnicos

Outros naufrágios: Sacramento, Reliance, Juracy Magalhães, Rebocador do Rio Vermelho, Manau e Irman ( mapa – Google Earth)
Naufrágio
Em setembro de 1980, o cargueiro grego Cavo Artemidi embarcou no porto de Vitória, ES. lingotes de ferro-gusa de uma Companhia do estado de Minas Gerais, com destino a Brighton na Inglaterra. No total carregava 16.800 toneladas de lingotes. Estava prevista uma escala na Bahia para reabastecimento.
No dia 19, o cargueiro deixou o porto de Salvador, BA. O comandante não deixou que o navio fosse rebocado, e apesar da lei, dispensou o serviço do prático do porto; segundo acusações, para economizar os CR$ 3.000,00 do custo do serviço.


Segundo os informes da Captania dos Portos, o cargueiro perdeu o controle do leme, foi arrastado pela corrente e acabou por bater e encalhar de proa no Banco de Santo Antônio, já na entrada/saída da Baía de Todos os Santos.
Durante alguns dias tentaram-se manobras para soltar o navio, inclusive dos mergulhadores do navio de resgate Gastão Montinho, da Marinha do Brasil, mas as tentativas de safar o navio foram sem sucesso.
Uma semana depois, devido a piora das condições meteorológicas e do grande peso da carga, abriram-se chapas no fundo do casco o navio começou a fazer água e acabou por afundar no local. Inicialmente seu castelo de popa permaneceu na superfície, mas logo o navio submergiu completamente.
O resgate
Em 1982 a empresa Villafer arrematou os direitos de exploração do Cavo Artemidi em um leilão do Instituto de Resseguros do Brasil, mas logo desistiu do serviço, repassando a concessão à companhia paulista Hernandes Anti corrosão e Pintura. Segundo a Revista Veja de agosto de 1984 “veterana em empreitadas subaquáticas pouco convencionais e que oferecem doses de risco” que iniciou os trabalhos de recuperação dos lingotes de ferro-gusa.


A carga foi avaliada, a valores da época, em mais de 3,6 bilhões de Cruzeiros.
Eletro imã da draga Itaoca resgatando os lingotes de ferro-gusa
Descrição
O Cavo Artemidi foi sem dúvida nenhuma um dos naufrágios mais bonitos do Brasil, com seus 180 metros e durante duas décadas era impossível não encantar os mergulhadores que frequentavam seus destroços. Não só pela grande estrutura e possibilidades de penetração, mas pela própria biodiversidade de peixes e outros organismos.
Acompanhei seu lento soterramento pelo Banco de Santo Antônio, que cerca a barra norte da Baía de Todos os Santos, de 1998 a 2019, o que gerou a produção de 12 croquis. É cruel pensar que o mesmo banco que o vitimou e prendeu, também enterrou seus destroços.
Até 1998 o navio estava apoiado corretamente no fundo, mantinha sua estrutura inteira. Na popa atingia-se cerca de 31 metros enquanto a proa estava a 9 metros. Em 1999 a primeira modificação dramática ocorreu com a ruptura do 1º e 2º convéses em torno do terceiro porão.
Até 2006 o navio permaneceu estável. Em 2007 partiu no porão à frente do antigo casario, neste ponto, já era possível passar de um bordo a outro junto ao fundo. Na popa, atingia-se cerca de 29 metros o eixo e leme eram soterrados e voltavam a aparecer ao longo do ano.

Croqui em março de 1998 Croqui em janeiro de 2019
O processo de avanço do Banco de Santo Antônio continuou e em 2010 o navio partiu totalmente a meia nau. A partir de 2014 somente a popa estava de fora da areia, ainda assim com profundidades máximas de 18 metros.
Em 2019 sobrou apenas a base do mastro e o topo do casario no meio do imenso banco de areia e a apenas 12 metros de profundidade.
Quem sabe os deuses do mar um dia invertam as correntes e emprestem novamente esse naufrágio para os que agora só guardam saudades.
Acompanhe pelos sucessivos croquis o processo de assoreamento do banco de Santo Antônio, que acabou por sepultar o navio
Veja também a matéria da biblioteca: Condições estruturais de naufrágio

Polia do guincho de proa logo foi coberto
Acesso ao porão de proa uma das primeiras partes assoreada pelo banco de Santo Antônio

Parte do convés que permaneceu descoberta durante muitos anos
Um dos locais mais belos do Cavo era o corredor boreste do casario


Convés sobre o qual estava o casario, com a base do mastro, foi a última parte a ser engolida pelo banco
Escada no interior da sala de máquinas colapsou em torno de 2007
Convés era livre para circulação
As fotos mais atuais do que sobrou do Cavo Artemidi – Fabricio Gil


Em 2018, a base do mastro e parte do teto do casario estão a 12 metros. O pouco que sobrou no meio do Banco de Santo Antônio do majestoso Cavo Artemidi
Fotos dos destroços
Em um navio tão grande, as possibilidades de fotos eram inúmeras, a qualidade da água também favorecia o trabalho dos fotógrafos, que conseguiram belas imagens. Como trata-se de um navio inteiro, existiam duas regiões distintas dos destroços. Do lado de fora, com a forte corrente local, predominavam peixes rápidos. Já entre os ferros e no interior do casario, muitos invertebrados, moreias e outros organismos eram encontrados.



Grande quantidade de Ciliares povoavam os destroços
Na popa, a lateral do casco, formava uma boa proteção contra a forte corrente local
O centro dos destroços era formado pelos compartimentos de ferro-gusa que colapsaram para dentro da embarcação
Na popa haviam dois grandes guinchos que ornamentavam os destroços

Para saber mais
Veja a matéria completa do Cavo Artemidi
Agradecimentos
SINAU
Para mais informações, acesse o Sistema de Informações de Naufrágios - SINAU
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