Âncoras, Escovém e Correntes

Âncoras

Peça que, lançada ao fundo do mar, aferra-se a ele; ligada a embarcação por uma amarra, é a responsável por manter a embarcação parada, evitando que ela derive com o vento ou correntes. Seu funcionamento depende do modelo, podendo manter firme o navio, pelo seu peso bruto, ou pela capacidade de fixar-se no relevo de rochas, corais, lodo ou areia do fundo.
Vale a pena lembrar que os séculos alteraram muito seu perfil, porém, algumas partes em comum podem ser identificadas em todos os modelos.
Essa mudança das características será de grande ajuda para o mergulhador, na identificação dos destroços.

Histórico
As primeiras âncoras não passavam de galhos ramificados de árvores ou rochas com orifícios, pelos quais eram passados os cabos. Com o passar dos anos esses equipamentos tornaram-se sofisticados e surgiram outros tipos de âncoras.
A partir de 1550 surgiram, na Inglaterra, as clássicas âncoras do tipo Almirantado. Inicialmente eram de ferro forjado, com o cepo de madeira colocado no mesmo sentido dos braços. No início do século XVII, passou-se a utilizar o ferro fundido e o cepo passa a ser transverso a haste, facilitando a fixação no fundo e sua soltura quando erguida. Em 1850 as âncoras do tipo Almirantado tomam sua forma definitiva, com cepo transverso de ferro, preso ao corpo da âncora por um contra-pino, que permite que o cepo corra ao longo da haste para melhor arrumação a bordo.
Com o grande desenvolvimento das companhias construtoras, surgiram outros modelos de âncoras, feitas de aço e com as devidas patentes como a CQR (arado), Danforth, Dunn, Hawkins, Smith, entre outras.
 

Almirantado
cepo de madeira

Almirantado
cepo transverso

Garatéia

Danforth

Hawkins
  

O tipo de âncora utilizada dependerá do tamanho e maquinário da embarcação. Grandes navios, a partir do início do século XX, utilizam a Hawkins, que é uma âncora que prioriza o peso. Já as pequenas embarcações modernas sem sistema de guincho, optam pelo tipo Danforth, de pequeno peso, porém com grande capacidade de fixar-se a fundos de pedra ou areia.

Dicas de mergulho
Mais de 2 âncoras: Normalmente navios de grande porte possuíam 3 ou mais âncoras, as reservas serviam para o caso de perda durante uma viagem transoceânica para portos sem infra-estrutura.
Âncoras de tipos diferentes: Normalmente as âncoras reservas e de uso são do mesmo tipo, quando encontramos âncoras de tipos diferentes devemos desconfiar da contaminação do sítio (perda de uma parte de um naufrágio sobre outro).
Âncoras ausentes: Podem ter sido resgatadas, roubadas ou estar afastadas dos destroços. Quando o casco da proa se abre e cai, elas podem estar escondidas embaixo deles.
Âncoras afastadas dos destroços: Podem ser localizadas a partir de seus respectivos guinchos, seguindo-se as correntes.
Âncora passada no escovêm: Indicam que não houve tempo para tentar fixar o navio depois do acidente, indicam afundamentos rápidos e inesperados, indicando que o navio pode ter explodido ou se chocado violentamente com a terra ou outro navio.
Âncora solta no fundo: Neste caso elas foram comprovadamente largadas na tentativa de estabilizar o navio, antes do sinistro. Isto mostra que o afundamento não foi imediato, pode ter havido alojamento da carga e de partes do navio. Provavelmente as âncoras estejam na parte mais profunda da região.

Sinal manual indicando âncoras

Veja a âncora do navio
Buenos Aires, afundado no RJ. em 1890
 

Escovém
É conhecido como Escovém, ou Olhal o tubo e o orifício no casco perto do bico de proa, por onde passa a corrente que liga a âncora ao guincho e onde fica alojada a haste da âncora.
 
Normalmente ele é único para cada âncora , assim o número de escovéns indica o número de âncoras. Alguns navios de grande porte possuíam 2 de cada lado, como pode ser visto ao lado e no Croqui do Black Adder, afundado em Salvador BA..
O escovém não se limita a um orifício, existe um reforço junto ao casco (gola) e uma manga que se prolonga, direcionando a corrente para o convés onde está o guincho. Em alguns navios exite uma tampa que fecha o escovém para evitar a entrada de água no navio.


Escovém simples, em cascos de aço.

Escovém duplo,
como nos antigos veleiros.

Histórico
Nos navios do século XVI e XVII as amarras partiam do convés. Os escovéns surgem junto com as correntes principalmente associadas aos cascos de ferro e aço.

 

Dicas de mergulho
Além do já citado fato de podermos deduzir as condições do naufrágio pela presença ou não da âncora no escovém, ainda temos outras possíveis interpretações.
Cascos desmontados: Mesmo depois do desmanche do casco, no meio de um grande aglomerado de ferros, podemos ao localizá-lo, reconhecer a proa mesmo que as âncoras tenham sido retiradas.
Veja nos croquís da Chata de Noronha, afundada em Recife (PE.) e do Bezerra de Menezes afundado em Angra dos Reis, RJ, como sua presença denuncia a proa destruída.


Âncora do tipo Hawkins, passada no
Escovêm, no naufrágio do Harlingen,
Arraial do Cabo (RJ.) em 1906.
Pode se visto claramente a gola do escovêm
Disposição dos Escovéns: A forma que essas peças encontram-se no fundo pode indicar como ocorreu o desmanche do naufrágio (figura ao lado).
Como estão presos no convés, os escovéns também podem estar caídos para dentro dos destroços.
 

Correntes
Também chamadas de amarras, são as responsáveis por ligar o navio a âncora permitindo fixar o navio e levantar o equipamento. As correntes garantem a resistência da amarra e aumentam o peso que prende o navio ao fundo.
Histórico
Antes do aparecimento das correntes por volta do século XVII todas as amarrações eram feitas com grossos cabos de cânhamo. O uso de correntes para as âncoras popularizou-se a partir de 1817, com o ferro doce sendo dobrado a quente e soldado por derretimento e marteletes. Esse processo durou até cerca de 1920, quando foi introduzido o método do ferro fundido. Nos dias de hoje, é utilizado o aço estampado que confere maior homogeneidade e resistência ao material.
Dicas de mergulho

Correntes esticadas: Embora os elos fiquem muito aglomerados pela concreção marinha e difíceis de distingüir as correntes quando estão esticadas, podem levar o mergulhador do guincho até as âncoras, muitas vezes afastadas dos destroços. Indicando que no naufrágio o navio estava ancorado
Aglomerados de correntes: São o resultado da concreção do depósito das correntes. Uma vez afundado e o casco desmontado, partiu-se a caixa que continha a corrente, restando apenas o formato do depósito. Esse aglomerado indica uma das primeiras partes do que foi o casco do navio. Normalmente existem dois grandes aglomerados um ao lado do outro, indicando a direção em que o navio afundou, como pode ser visto no croqui do Buenos Aires.
Correntes ausentes: Mais provável do que sua retirada é que elas tenham sido lançadas, na tentativa de estabilizar o navio. Muitas correntes de naufrágios foram removidas para utilização em derrubadas de florestas.


Sinal manual indicando correntes

Conheça outros sinais manuais
para naufrágio

 
Consulte nosso guia de estruturas de vapores e conheça mais sobre sua construção e características, caso deseje identificar as peças pelo visual utilize o esquema na página de Navios à vapor.
 
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