Destino: naufrágio
2ª Guerra Mundial
Aberta a temporada de caça em nosso litoral


 
Revista Mergulho, Ano XV - Nº 181 - agosto/2011
Texto Maurício Carvalho
 
Quando já estava selecionando as imagens para o fechando desta matéria, chegou à notícia bomba de que a equipe do Instituto Kat Schurmann e da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) haviam localizado ao largo de do litoral do Paraná os restos do submarino alemão U-513.
Este submarino foi responsável pelo afundamento de quatro navios em nosso litoral. Richard Caswell (06.1943), Venezia (06.1943), Tutoya (07.1943) e Elihu B. Washburne (07.1943). Até que finalmente em 19.07.1943 um avião Mariner localizou o submarino na superfície e apesar de ser rechaçado com fogo antiaéreo, lançou seis bombas que explodiram junto ao casco, afundando o U-513 em menos de um minuto. Sete sobreviventes foram resgatados, inclusive seu capitão.
A localização de um dos nossos agressores finalmente fecharia de forma palpável um dos capítulos de sofrimento da navegação brasileira. Mas vamos ao início da história.
 
VAMOS AO INÍCIO DA HISTÓRIA

Guerras são períodos tão ricos em eventos e nuances, que não poderiam ser contados em poucas linhas. Então vamos nos concentrar em alguns dos detalhes associados aos eventos, táticas de guerra e causas de tantas perdas, mesmo sem a ocorrência de grandes batalhas em nosso litoral.
A segunda Grande Guerra havia se iniciado a pouco e não se acreditava que ela poderia tomar as dimensões de um conflito mundial. Principalmente, espalhar-se de forma tão intensa por todo o planeta, já que a Primeira Guerra, 25 anos antes, tinha sido caracterizada pela imobilidade das trincheiras e algumas poucas batalhas no mar.
No entanto, rapidamente o cenário começou a mudar e ainda em 1939 o conflito já batia as portas do Brasil, que nessa época era um país essencialmente agrícola, com pouca população e nenhuma capacidade de rivalizar com os países beligerantes.
No dia 3 de setembro de 1939, a 40 milhas do litoral do Rio Grande do Sul, o cruzador Ajax da marinha inglesa, atacava e colocava no fundo o cargueiro Olinda da Hamburg Sud. Começava a época de matança em nosso litoral.
A revanche não tardou, e no dia 30 do mesmo mês, o cargueiro inglês Clement era atacado ao largo da costa de Pernambuco pelo encouraçado de bolso Almirante Graf Spee. Seus 175 sobreviventes vagaram em duas em baleeiras até o resgate.
De outubro de 1939 a ao final de 1941 reinou certa tranquilidade em nossas águas, como a calmaria antes da tormenta e apenas o cargueiro alemão Wakama foi afundado em 1940. O Brasil fazia parte de uma coligação Panamericana de neutralidade e não havia interesse em concentrar as forças navais na América do sul.

 

1942 O ANO DA MATANÇA

Iniciando-se o terceiro ano da guerra tudo mudaria. Em dezembro de 1941, o comandante da Marinha alemã, Karl Doenitz, decide utilizar os U-Boats na campanha Paukenschlag - bloqueio das linhas de suprimentos da costa leste dos Estados Unidos para a Europa.
Com as atitudes favoráveis do nosso governo aos Estados Unidos, os navios brasileiros no Atlântico Norte e Caribe tornaram-se alvos. Com a melhora da arma submarina Alemã e Italiana, os U-Boats do tipo IX C e VII C, que suportavam missões mais longas, começaram a atingir também o litoral brasileiro e 30 navios seriam afundados na nossa costa.
O sofrimento brasileiro começou em 15 de fevereiro, quando o navio Buarque foi posto a pique por um submarino alemão a 60 milhas do Cabo Hatteras na Carolina do Norte (USA), uma das mais importantes áreas de caça dos U-Boats. A partir daí, dezessete navios seriam afundados em águas internacionais. O Alegrete (06.42), Barbacena (07.42), Gonçalves Dias (05.42), Parnahyba (05.42), Pedrinhas (06.42), Piave (07.42) e Tamandaré (07.42), no Caribe. O Antônico (09.42), na Guiana Francesa. Apalóide (11.42), em Cuba. Arabutã (03.42), Cabedello (02.42), Cairu (03.42), Olinda (02.02) e Suíloide (26.03.43) na costa dos USA e o Paracurí (06.42) no Atlântico norte. Totalizando mais de 359 vítimas.
Porém, os ataques também se estenderiam a nossas águas. A frota brasileira no período da guerra era formada em sua maioria por navios velhos, lentos e que por isso faziam muita fumaça. Vários deles incorporados como indenização de guerra da Alemanha e Itália. Essa combinação os tornava uma grande ameaça aos comboios, que começavam a se formar para proteger os navios dos ataques de submarino. Em um comboio, por vezes centenas de navios mercantes são acompanhados por navios de guerra equipados para dar caça aos submarinos e tanto à frente, como em sua retaguarda, aviões esquadrinham a superfície em busca dos submarinos.
Navios que emitiam muita fumaça indicavam de longe sua posição e navios lentos, facilitavam o trabalho de interceptação. Por isso, esses navios eram obrigados a viajar à escoteiro (fora do comboio) e para se proteger aproximavam-se da costa.
Em agosto de 1942 começava uma nova fase na guerra naval, navios brasileiros eram afundados em nosso litoral e o governo alemão não mais podia utilizar as desculpas de ataque a navios em zona de guerra. Estava armado o cenário da guerra.

 
AS PRIMEIRAS VÍTIMAS DO BRASIL
 

Baependi
Este vapor de 5000 T do Lloyde Brasileiro era o ex Tijuca, navio alemão recebido pelo Brasil como compensação de guerra. Seguia a rota de Salvador para Recife transportando além de carga e passageiros o Sétimo Grupo de Artilharia de Dorso. Navegava tranquilamente como em um período de paz, a apenas 9 nós e todo iluminado. A bordo, comemorava-se o aniversário do imediato.
Passava pouco das 19 horas quando a 20 milhas do Rio Real (SE) o U-507, comandado pelo capitão Haro Schacht, um dos mais bem sucedidos capitães da época, lançou da superfície dois torpedos, que colocaram o vapor no fundo na posição 11º 51' S e 037º 02' W.
Em parte também pelo pânico que se estabeleceu a bordo, o Baependi tornou-se um dos com maior número de vítimas entre os navios torpedeados (265 vítimas) incluindo o comandante e o aniversariante.

 

Baependi
 

Araraquara
  Araraquara
Outro navio do Lloyde, utilizando a mesma rota, partiu do Rio de Janeiro com destino a Cabedello seguindo também todo iluminado. Quanta inocência! Navegava a 14 nós, mas não teve destino diferente do Baependi e duas horas depois, com as luzes de Aracaju ao fundo, foi posto a pique na posição 11º 53' S e 37º 22' W por dois torpedos do mesmo submarino.
O Araraquara era um paquete a motor de 4900 T afundou em apenas cinco minutos, sem tempo para a utilização do equipamento de emergência. Salvaram-se apenas oito tripulantes e três passageiros e mais 131 vítimas se somaram a conta alemã.
 
Aníbal Benévolo
Este navio construído em 1904 como Júpiter para a Hamburg Sud e foi vendido ao Lloyde brasileiro em 1912. No dia 16 de agosto de 1943 ele navegava de Salvador para Aracajú bem próximo da costa e somente com as luzes de navegação acesas. Ainda assim, isso não protegeu o Aníbal Benévolo da sede do U-507. Às 4 horas da madrugada e a 8 milhas da costa, na posição 11º 41' S e 37º 21' W o navio foi atingido por um torpedo na popa.
O vapor afundou em menos de 3 minutos e devido a hora, a maioria dos 71 tripulantes e todos os 83 passageiros morreram em seus camarotes.
 

Anibal Benévolo
 
O MAIS COVARDE DOS ATAQUES

Itagiba
No dia seguinte, em frente a Morro de São Paulo, navegava um dos famosos "Itas" da Companhia de Navegação Costeira. Por coincidência ou por informações da espionagem, ele levava a bordo o restante do Sétimo Grupo de Artilharia de Dorso, que já havia sido vítima a bordo do Baependy.
Mais uma vez o U-507 marcaria a navegação brasileira. Próximo das 11 horas, o U-Boat meteu dois torpedos à boreste do Itagiba, matando dez tripulantes e vinte e seis passageiros.

 

Itagiba

Arará
  Arará
Apesar das autoridades terem conhecimento dos sucessivos ataques na costa, mais um navio partiu a escoteiro de Salvador para o Rio de Janeiro o Arará. Esse cargueiro de menor porte, cerca de 1000 T, segundo o relato de seu comandante, navegava acompanhando a costa quando localizou os destroços, ainda em chamas, do Itagiba. Em volta dele, muitos náufragos lutavam agarrados a pedaços dos destroços que flutuavam na água.
Imediatamente e apesar do perigo, o Arará aproximou-se para prestar socorro às vítimas. Já parado no local foi subitamente atingido a boreste por outro certeiro torpedo do U-507, mais homens tiveram que lutar por suas vidas e 20 pereceram.
Esse navio batizou o avião Catalina comprado pelo povo do Rio de Janeiro para a aeronáutica. Esta aeronave em setembro do mesmo ano participaria do afundamento do U-199 nas costas do Rio
 

Jacira
Já no dia 19 de agosto, foi a pequena barcaça Jacira, com apenas seis pessoas a bordo que se tornou vítima. Neste ataque a dez milhas da costa, o U-507 apressou a embarcação e utilizou cargas explosivas para pô-la a pique. Está técnica era utilizada no início da guerra para poupar os valiosos torpedos.
Não se sabe o motivo do ataque a uma embarcação tão pequena. Em algumas ocasiões era a necessidade de víveres, água ou combustível para o submarino. Mas por vezes era o azar, a vítima apenas cruzava o caminho do submarino em um de seus períodos na superfície para recarga de baterias, ventilação do interior ou descanso da tripulação. Para evitar ter sua posição e características informadas às autoridades, a embarcação era afundada. Deve ter sido também o caso da embarcação Shangri-lá, posta a pique no litoral do Rio de Janeiro.


O CENÁRIO DA GUERRA

O comandante Schacht ainda atacou outro navio, porém o torpedo não explodiu. Encerrou as atividades do U-507 em nossas águas e regressou a Alemanha. Deixando atrás de si um rastro de sangue e revolta na população brasileira, que foi às ruas pedindo "Guerra".
Com apoio popular, estava garantido o próximo passo já planejado, no xadrez político da guerra.
Em janeiro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro, já havia sido realizada uma reunião com os países Panamericanos, ratificando uma resolução de ajuda mútua em caso da agressão a algum país do bloco.
Apoiado nessa resolução, no dia 22 de agosto o governo brasileiro declarava "Estado de Beligerância" contra as nações do eixo. Sem, por parte dos agressores, uma justificativa aceitável no meio diplomático, em 31 de agosto de 1942 o Brasil entrava em guerra contra Alemanha e Itália.
Quanto ao terrível U-507, depois de um período de manutenção e reabastecimento na Alemanha partiu para mais uma caçada, mas no dia 31 de janeiro de 1943, perto da Guiana tornou-se a caça de uma aeronave americana, perecendo toda a tripulação.

 


1 - Pelotasloide,
2 - Osório,
3 - Lages,
4 - Itapagé,
5 - Anibal Benévolo,
6 - Araraquara,
7 - Baependi,
8 - Bagé,
9 - Brasiloide,
10 - Itagiba,
11 - Arará,
12 - Jacira,
13 - Afonso Pena,
14 - Vital de Oliveira,
15 - Campos,
16 - Tutoya.

 

Navios brasileiros afundados no nosso litoral
 
Data do ataque
Nome do Navio
UF
Latitude
Longitude
Submarino
agressor
Nº total de vítimas
15.08.1942
Araraquara
SE.
12º 00' S.
037º 19' W.
U-507
131
15.08.1942
Baependi
SE.
11º 50' S.
037º 00' W.
U-507
265
16.08.1942
Anibal Benévolo
SE.
11º 41' S.
037º 21' W.
U-507
150
17.08.1942
Arará
BA.
13º 20' S.
038º 49' W.
U-507
20
17.08.1942
Itagiba
BA.
13º 20' S.
038º 49' W.
U-507
36
19.08.1942
Jacira
BA.
21º 50' S.
037º 30' W.
U-507
0
27.09.1942
Lages
PA.
00º 17' S.
047º 47' W.
U-514
3
27.09.1942
Osório
PA.
00º 13' N.
047º 45' W.
U-514
5
18.02.1943
Brasiloide
BA.
12º 38' S.
037º 57' W.
U-518
0
02.03.1943
Afonso Pena
BA.
16º 10' S.
035º 58' W.
Barbarigo
125
01.07.1943
Tutoya
SP.
24º 11' S.
045º 25' W.
U-513
7
04.07.1943
Pelotasloide
PA.
00º 24' N.
047º 36' W.
U-590
5
31.07.1943
Bagé
SE.
11º 29' S.
036º 58' W.
U-185
28
26.09.1943
Itapagé
AL.
10º 04' S.
035º 54' W.
U-161
27
23.10.1943
Campos
SP.
23º 57' S.
045º 27' W.
U-170
12
19.07.1944
Vital de Oliveira
RJ.
22º 29' S.
041º 09' W.
U-861
100
 
 
AGORA ERA GUERRA... E MAIS VÍTIMAS

Osório e o Lages
Com a declaração de guerra, começam no Brasil as primeiras providências para proteger nossa navegação. No início elas eram insipientes e o país pagaria o preço por isso. Os dois vapores do Lloyde brasileiro Osório e Lages partiram do porto de Belém com destino a Nova York com escoltas ainda muito precárias. O resultado é que no dia 27 de setembro foram colocados a pique a 50 milhas da foz do rio Amazonas.
O Osório partiu em comboio, mas foi afastado do grupo devido à fumaça que largava. Pouco depois das 8 da noite foi atingido por um torpedo na altura do terceiro porão, afundando em menos de meia hora. Graças a rigorosa voz de comando durante o naufrágio, somente cinco vidas se perderam.
O Lages já era uma embarcação obsoleta. Havia também sido de propriedade alemã e confiscado e incorporado após a primeira guerra.
Apesar de tomadas medidas preventivas de navegação em zig zag após o ataque do Osório e de portar uma guarnição de canhão para rechaçar ataques da superfície. Ás 9 horas, também foi atingido por dois torpedos e afundou rapidamente. Desta vez o algoz dos dois navios era o U-514.

 

Lages
 

Ozório
 

 

Brasiloide
Com Montevidéu pertenceu a companhia alemã Hamburg-Sud e manteve-se refugiado no porto de Rio Grande desde 1939 devido ao bloqueio naval de nossa costa pelos ingleses. Em 1942, quando entramos na guerra, foi incorporado ao Lloyde brasileiro e posteriormente batizado de Brasiloide.
Em 18 de fevereiro de 1943 navegava de Maceió para Salvador, quando pouco depois das 4 horas da manhã, já no litoral da Bahia, foi torpedeado por bombordo pelo U-518.
Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo local, mas um torpedo sim. O Brasiloide era comandado pelo Capitão Enrico Gomes de Sousa, o mesmo do Alegrete, torpedeado em 1942 no Caribe. Depois de todos abandonarem o navio, mais dois torpedos selaram seu destino.

Afonso Pena
Em 1943 as autoridades já acreditavam que as medidas de proteção e os comboios haviam afastado o risco dos U-Boats. Porém, em uma mesma área quatro cargueiros estrangeiros foram atacados e na sucessão uma das maiores perdas do Brasil. O Afonso Pena levou para o fundo 125 homens e mostrou que a guerra ainda reservaria muito sofrimento.
Seguindo a rota de Recife para o Rio de Janeiro este cargueiro de 3500 T do Lloyde também separou-se de seu comboio, seguindo a escoteiro. No dia 02 de março de 1943, na costa da Bahia, acabou recebendo um torpedo do submarino italiano Barbarigo, pouco depois do entardecer.
O navio afundava rapidamente, ainda com as máquinas funcionando e enquanto os sobreviventes lutavam para arriar as baleeiras e fugir dos hélices, que destroçaram alguns tripulantes, o Barbarigo veio à superfície e efetuou dois disparos de canhão contra o navio que agonizava. O objetivo era impedir a comunicação telegráfica informando a posição do submarino, mas também provocou a morte do radiotelegrafista.
Foi relatado que o submarino interrogou os náufragos sobre um navio com carga militar que deveria estar em rota por nosso litoral, o que mostra que a espionagem funcionava em nosso país.

Tutoya
Este pequeno cargueiro de 1200 T do Lloyd Brasileiro viajava totalmente apagado de Paranaguá para Santos com uma carga geral de alimentos. Perto de 1 hora da manhã na posição 24º 11' S e 045º 25' W recebeu, por sinais de lâmpada Morse, um pedido para acender as luzes do mastro e identificar-se. Imaginando tratar-se de um navio patrulha, o capitão atendeu a ordem e pouco depois foi torpedeado na altura da ponte de comando pelo U-513.
Este submarino já rondava nossa costa a algum tempo e havia sido reabastecido de combustível, víveres e torpedos por um submarino (cargueiro) de apoio conhecido como vaca leiteira. Isso aumentava o período de patrulha dos U-boat e maximizava suas perdas, já que sais e entrar dos portos da Europa, fortemente vigiados pela aviação aliada era o momento mais perigoso para os submarinos alemães.
Dos 37 homens do Tutoya a tripulação 7 morreram, inclusive seu capitão.

Pelotasloide
No início da guerra, o mercante italiano Auctoritas de 5000 T também refugiou-se em nossos portos devido ao bloqueio naval. Com a declaração de guerra, acabou incorporado a frota do Lloyde com mais 10 navios italianos, todos rebatizados com a terminação loide. O Pelotasloide seguia viagem dos Estados Unidos para Belém, mas como não podia participar de um comboio, já que sua velocidade não ultrapassava 8 nós, foi acompanhado por três caça submarinos recém adquiridos nos Estados Unidos: Jacuí, Jundiaí e Juruena.
A 4 de julho de 1943, após meio dia, aguardava pelo prático na foz do rio Pará, quando duas fortes explosões romperam a lateral de boreste do navio, que adernou e começou a afundar. O atacante era o submarino alemão U-509, dias depois, ele foi localizado na superfície, atacado por dois aviões e posto a pique sem sobreviventes.

 
Bagé
Um dos maiores paquetes do Lloyd Brasileiro com mais de 8000 T tinha sido o alemão Sierra Nevada. Navegava de Recife para Salvador, com produtos agrícolas e 27 passageiros. Como outros navios atacados, o Bagé foi deixado a escoteiro por ser lento e soltar muita fumaça. Como um roteiro já conhecido, no meio da noite do dia 31 de julho, a 30 milhas da costa de Sergipe, foi torpedeado e atacado com tiros incendiários pelo U-185, afundando em menos de 10 minutos e causando a morte de 28 pessoas.
O uso de granadas mostrava que o ataque do submarino ocorreu da superfície, protegido pela escuridão da noite e vastidão de nosso litoral sem cobertura. Após o ataque, o U-185 aproximou-se, fotografou a dramática tentativa de resgate e desapareceu. Dias depois, também acabou sendo destruído.
 

Bagé

 

Itapagé
Este vapor de 5000 T da Companhia Nacional de Navegação Costeira partiu do Rio de Janeiro com destino a Belém O excesso de confiança de que a Alemanha estava cada vez mais fraca, permitiu que o Itapagé navegasse a escoteiro. Mesmo muito próximo a costa o erro novamente seria fatal.
No dia 23 de setembro, ele estava a cerca de 60 quilômetros ao sul de Maceió e a menos de oito milhas da costa, quando pouco depois das 12 horas, dois torpedos do U-161 atingiram o navio por boreste. A embarcação adernou rapidamente e afundou em chamas devido à carga inflamáveis que conduzia.
Com o navio no fundo, o submarino aproximou-se, fotografou os náufragos e desapareceu, deixando atrás de si mais 22 vítimas.
Da posição de onde se encontra o Itapagé hoje, um dos mais belos naufrágios do Brasil, pode ser visto mesmo o contorno do baixo litoral alagoano, mostrando quão perto os submarinos agiam.
 

Campos
  Campos
No dia 23 de outubro de 1943 o Brasil perderia seu último navio mercante por ação dos submarinos.
O Campos de 4600 T, como outros navios do Lloyde brasileiro, foi o alemão Assunção incorporado após 1917. Ele navegava do Rio de Janeiro para o Rio Grande do Sul. Cruzava a 20 milhas da costa de São Paulo quando às 8 horas da manhã o submarino U-170 lançou um torpedo que explodiu na proa.
Pouco depois, com o navio ainda em segmento, outro impacto de torpedo a vante selou seu destino. Como os hélices ainda funcionavam, uma das baleeiras foi colhida, provocando várias das 12 mortes deste ataque.
Pode parecer estupidez dos capitães brasileiros insistirem na navegação solitária, porém mesmo no final da guerra, o Brasil não tinha condições de proteger um litoral tão grande. Assim, comboios protegidos eram reservados as cargas nobres necessárias ao esforço de guerra, ficando nossa navegação de cabotagem ativa pela coragem das tripulações, mas a mercê da covardia alemã.

Vital de Oliveira

Até 1944 a Marinha do Brasil tinha escapado do ataque direto à suas unidades, mas ela não sairia impune da guerra. Além dos naufrágios acidentais do Cruzador Bahia e da Corveta Camaquã a Alemanha tomaria o Navio Auxiliar Vital de Oliveira.
No dia 19 de julho, o navio, totalmente apagado, seguia de Vitória para o Rio de Janeiro escoltado pelo caça submarino Javari. Assim mesmo, por volta da meia noite, quando já passava a 25 milhas da costa do través do Cabo de São Tomé (RJ), foi atacado na popa por um torpedo do U-861.
Embora houvesse tentativa de reação, o Vital Oliveira afundou rápido e foi dada ordem de abandonar o navio. A destruição do convés deixou poucos escaleres em condições de auxiliar no resgate, o que condenou muitos dos marinheiros ao contato com as frias águas locais.
Era o último navio torpedeado e nossa costa, mas as marcas eram profundas, pois mais 100 vidas foram perdidas.
 

Vital de Oliveira
 

A Segunda Guerra mostrou ao Brasil a importância de uma Marinha e Aeronáutica capacitada a proteger um litoral tão extenso, será que as lições foram aprendidas? O Brasil tentava apenas manter um legítimo comércio marítimo com outras nações. Durante mais de um ano de neutralidade dezenas de unidades navais mercantes da Alemanha e Itália encontraram em portos brasileiros abrigo e boa receptividade.
Porém, quando os ventos da guerra mudaram o eixo passou a atacar, inclusive navios brasileiros e a pouca distância da costa. Planos foram feitos pelo 3º Reich para atacar inclusive os mais importantes portos do país, como o Rio de Janeiro e Santos. Mais de um milhar de vidas brasileiras foram tiradas devido a loucura de um estado expansionista. Embora muitos brasileiros não vejam o valor, compatriotas heroicos lutaram e morreram na Itália e no mar para manter a pátria livre e por isso eles merecem mais do que um monumento no aterro do Flamengo, merecem que suas histórias sejam contadas para aqueles que hoje desfrutam dessa liberdade conquistada com sangue.

 


Mais Informações:

Especial Segunda Guerra - Navios Brasileiro
Especial Segunda Guerra - Navios Estrangeiros
Especial Segunda Guerra - Submarinos

 

Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil.

 

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